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Sexta-feira, 19 de abril de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

23/12/2016 - 09h43

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

23/12/2016 - 09h43

Sobre o Natal

Cansada demais para comentar os acontecimentos dos últimos dias no Brasil e no mundo, depois de um ano de absurdos que não cessam; resolvi escrever apenas sobre o Natal. Talvez pareça algo sem importância nesse mundo em que vivemos, principalmente, em nosso país em que vemos a cúpula que se apossou do poder, adotar medidas que comprometem a qualidade de vida da população carente, sobretudo, no que concerne à saúde e educação, ao tempo em que se beneficia de diversas formas, inclusive, se protegendo de possíveis processos que venham a desvelar suas posturas corruptivas. Bem, mas pelo menos por hoje, cansei dessa gente, que só desperta desprezo e vamos ao Natal!

 

Sim eu gosto do Natal! Não gosto exatamente das festas que hoje são realizadas muito mais com o intuito de postar fotos para ostentar, obter visibilidade e likesdo que por vivência de um bom momento. Gosto menos ainda da obrigação de comprar presentes por comprar presentes, bem diferente do tempo em que cada presente era escolhido não por seu preço, mas pensando na alegria de que iria recebê-lo.

 

Contudo, eu gosto do tempo do Natal, normalmente é quando o clima se torna mais ameno depois de um B-R-O BRÓ castigador. É quando as mariposas invadem a minha casa. É quando o verde de toda a mata reluz. É quando alguns pássarosque não víamos há algum tempo retornam. É quando as luzes iluminam a maioria dos lares.

 

Sem falar que o tempo do Natal é um tempo em que as memórias afloram através dos cheiros, dos rituais, das cores, do rever as pessoas amigas. O Natal carrega em si, para a sociedade ocidental, uma simbologia de harmonia, de empatia. É quando as diferenças desaparecem e as discórdias perecem, ou são adiadas. É uma trégua na cotidianidade louca. É a chegada da vida, mas também é o momento em que se anuncia a partida do ano que se finda. É a esperança que se instala através da generosidade ainda que pontual, ainda que interessada em visibilidade.

 

Mas acredito que é a gratidão o sentimento que mais se manifesta. Somos incentivados a agradecer pela vida que se renova representada em Cristo; agradecer pela saúde, gradecer pela família, agradecer pelos amigos, agradecer por poder ajudar a quem necessita.

Das anamneses que rompem o rio do esquecimento recheado de memóriasconfusas guardadas na tenra infância, acredito que o cheiro da chuva é o que mais me traz lembrançasdas manhãs de Natal; o que instantaneamente me leva às memórias que surgem posteriormente a essa, mas que cronologicamente foram vivenciadas antes, como as novenas na Igreja Matriz em que o melhor momento sempre era o de observar o presépio que normalmente ficava nos altares da lateral da Igreja, quase sempre no altar de Santo Antônio. Os santos eram retirados e no lugar era colocada uma capa verde escura, como relva que revestia todo o altar. O interessante era perceber como o novo cenário se montava e remontava a cada ano sem aparentes diferenças. Desde o alto eram colocadas pequenas peças de ovelhas, pastores, animais, plantas, além do menino Jesus, sua mãe e seu pai e os três reis magos, tudo muito bem distribuído dando a impressão de que o lugar era uma colina verdejante e cheia de vida, escolhida para receber uma vida. Eu ficava de olhos vidrados tentando imaginar a cena real, mas principalmente,com uma vontade imensa de levar tudo pra casa, montar no quarto e brincar como se fosse uma casinha de bonecas. E lá eu ficava até meu pai vir e me colocar no braço para nos levar para casa.

 

Outra lembrança presente e muito viva refere-se às noites de Natal em queas luzes das barracas da feira de Picos me fascinavam. Todas as barracas enfeitadas vendiam de tudo e nós acompanhávamos nossos pais a comprar presentes para todos os primos dos dois lados da família. Da compra do nosso presente não participávamos, e, embora não soubéssemos como, tínhamos a certeza de que eles estariam embaixo de nossas camas na manhã seguinte.  Mas as luzes estavam lá e faziam a festa em meus olhos ainda pequenos. A feira do Natal se espalhava por várias ruas e as luzes e as pessoas se amontoavam em cada uma delas em busca do melhor presente.

 

 

A festa do ganhar e doar presentes me levava ao mundo da fantasia, mas também ao mundo dos amigos. Na manhã de Natal todos os amigos vinham para a calçada com seus presentes e brincávamos o dia todo, com breves interrupções para o banho e a comida.

 

A festa do Natal de Santo Antônio também era um momento esperado. Enquanto ajudávamos a distribuir cestas e alimentos, brincávamos e comíamos de tudo o que era oferecido aos que ali estavam.

 

Acredito que o Natal tenha um sentido especial para cada pessoa, mesmo que seja negativo, em face de dores ocasionadas por diversos fatores; mas ainda assim e mesmo reconhecendo a participação ativa da força do mercado no impulsionar do consumismo, ainda assim, penso que o Natal não se vendeu por completo. Ele está presente no modo como cada um de nós o vivencia e o transmite.

 

Por fim, passo para dizer somente Feliz Natal e que dedico este texto a meus pais, José Rêgo e Francisca Maria, que tornaram meus natais da infância, lindos momentos vivenciados com muita simplicidade; momentos que se transformaram em memórias doces, de um tempo que sim, volta, a cada Natal!

 

 

Ana Regina Rêgo

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