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Quinta-feira, 25 de abril de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

20/01/2017 - 18h15

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

20/01/2017 - 18h15

Sentimento, Comunicação e difusão da Cultura

Ao analisar a literatura no ambiente Marxista, Raymond Williams, quase ao final do livro, destaca a importância da experiência vivida e dos laços e sentimentos que se articulam a partir dessa vivência. Este autor destaca, o que denomina de estrutura de sentimento, como sendo um viés consolidador e aglutinador de pessoas, em torno de movimentos, ideologias, etc.. Para ele, os acontecimentos, as transformações não se justificam somente por sentimentos que se localizam em experiências do passado, pois não podem ser analisados como dados, contudo, como instituições atuantes a partir dos sentimentos que se articulam e que se encontram em mutação na vida social, política e cultural.

 

Raymond Williams destaca a importância da vivência prática e dos laços que se criam nas relações mais simples do presente, procurando fugir da compreensão do ambiente social a partir do passado. A ideia é destacar uma estrutura de sentimento, que em suas palavras, seria definida “como uma série, com relações internas específicas, ao mesmo tempo engrenadas e em tensão”.

 

As artes e a literatura não interligam somente contemporâneos de sua produção, contudo relacionam através da estrutura de sentimento que carregam gerações de distintas e muitas vezes distantes temporalmente.  Para o autor, “muitas vezes, quando essa estrutura de sentimento tiver sido absorvida, são as conexões, as correspondências, e até mesmo as semelhanças de época, que mais saltam à vista. O que era então uma estrutura vivida é agora uma estrutura registrada, que pode ser examinada, identificada e até generalizada. [...] O que isso significa na prática é a criação de novas convenções e de novas formas”.

 

A estrutura mencionada liga tanto gerações quanto aspectos artísticos, estéticos, ideológicos vivenciados e identificados. A estrutura cria laços de pertencimento entre os participantes de grupos que se identificam entre si.

 

Mas porque estou falando de Raymond Williams hoje. Talvez para lembrar minha orientadora e amiga Lavina Ribeiro que há mais de vinte anos me apresentou Williams, mas, principalmente, porque ontem me despedi de uma disciplina na graduação em Comunicação na UFPI em que pude exercitare experimentar novos modos de trabalhar com o ensino e aprendizagem. O objetivo era desafiar para surpreender. Nem sempre tive êxito nos cinco períodos ao longo dos quais fiquei à frente da disciplina de Administração de Marketing na Empresa Jornalística, contudo, acredito que a maior parte do que realizamos deixou experiências positivas.

 

Criada por mim, para o currículo do Curso de Jornalismo da UFPI, planejado em 2003 mas somente implantado em 2007. A disciplina mostrou-se limitadora a princípio, porém aos poucos, e, sobretudo, a partir do compartilhamento de experiências com os alunos, as oportunidades de experimentações foram surgindo.

 

Em todas as experiências havia a proposição de se usar os conhecimentos compartilhados não somente para possibilitar sustentabilidade às empresas que os alunos pudessem vir a gerir futuramente, mas principalmente, para a partir da identificação das lacunas de mercado, criar as próprias empresas ou coletivos, alargando a margem de possibilidades de atuação no mercado do jornalismo e comunicação.  Contudo, todas as cinco turmas às quais me dediquei nos últimos tempos, foram desafiadas ainda mais, pois deveriam também criar eventos que pudessem interagir e de alguma forma beneficiar a sociedade, ou nichos da sociedade, de acordo com a área que escolhessem para trabalhar.

 

Nesse sentido e guiados pela estrutura de sentimento, cada grupo criou empresas voltadas para o público que identificou como nãoatendido pelo mercado, ou seja, procuraram focar em conteúdos e comunidades não atendidas e com as quaismais se identificavam.

 

Uma das abordagens mais criativas veio da Empresa DICUMÊ cuja revista virtual pode ser localizada no endereço: https://www.dicume.com/  . No editorial do número 1, a revista fala de cara na estrutura de sentimento que a experiência de comer carrega ao nos proporcionar experiências, muitas vezes inusitadas( obviamente de forma implítica). Destaco, não se trata de uma revista voltada para gourmetização da culinária mundial, ao contrário, volta-se potencialmente para as relações que se formam em torno da experiência da comida. Como afirmam seus criadores,  eles querem contar histórias. Vale ressaltar que a DICUMÊ realizou um evento na Rua Climatizada, centro de Teresina, sobre Comida de Rua em que vendedores dessa modalidade culinária dialogaram com profissionais do Sebrae e potenciais clientes. Informação e ação juntos.

 

Já a R.E.P- Ritmo e Poesia volta-se para às culturas negra e periférica. Os criadores desta revista virtual acreditam que é “ na arte marginal que podemos encontrar a autenticidade e a expressividade que somente a vivência e a necessidade de superação de barreiras ( preconceitos, mazelas sociais, injustiça) podem proporcionar”. A R.E.P pode ser localizada no endereço http://ritmoepoesiarep.wixsite.com/revistarep . A revista realizou evento no Parque Lagoas do Norte em que a dança, a poesia e a música relacionadas ao  REP e  praticados em  Teresina, teve destaque.

 

A Meduna foi criada há pouquíssimo tempo. Seus criadores não acreditavam que podiam fazer algo bom juntos, mas no final foi a estrutura de sentimento que os moveu e prevalesceu. Meduna em que “ loucura pouca é bobagem”, nasceu com a proposta de ser um sanatório de ideias, mas se lançou como um lugar em que a cultura se manifesta. Detalhe: _ o site privilegia a produção dos jovens. Em algumas questões o Meduna ainda está em construção. Você pode visitar o Meduna no link: http://www.meduna.com.br/ .O evento deste grupo foi uma mesa redonda, na própria UFPI, sobre Jornalismo Alternativo nos dias atuais.

 

A LADO B também muito recente volta-se para a difusão da produção audiovisual de grupos de jovens do Piauí, mas também passa dicas e sugestões de edição, etc. Ainda falta muito conteúdo no site da LADO B, mas já dá para ter uma ideia do que pode se tornar. A empresa realizou evento na Casa da Cultura e levou coletivos de Teresina que produzem audiovisual. O evento serviu para demonstrar tanto a força do campo, como a grande lacuna que existe na área em termos de informação e divulgação. Endereço .http://www.ladob-pi.tk/ .

 

Destaquei somente algumas das “empresas” experiências criadas na área da cultura, porque é com esse campo que mais me identifico, todavia possibilitamos vivências similares com criação de empresas na área da comunicação com produção de conteúdo voltada para  animais em que a URBIXIN se destacou, para as modalidades esportivas que não tem visibilidade na mídia de referência, para a saúde e sustentabilidade, para literatura, para divertimento, para mulher, para a informação de como escolher sua profissão, etc.  Todas com temáticas escolhidas e criadas pelos discentes a partir de suas identificações e escolhas.

Ana Regina Rêgo

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