No mínimo é cômica a falta de habilidade de alguns gestores públicos. Habilidades não apenas relativas ao cumprir horário ou outras atribuições mais simples, mas, principalmente, quando são provocados a discutir temas delicados que merecem mais atenção por ser latente na sociedade e por também ser amplamente estudado e refletido na academia, por pesquisadores que dedicam horas e horas debruçadas durante produção de conhecimento.
Em Teresina, durante apreciação do Plano Municipal de Educação votado em primeira instância na Câmara de Vereadores, a inabilidade supracitada foi presenciada na atuação de nossos vereadores que, até então, foram escolhidos para ser representantes da voz do povo, por vezes uníssona.
Quando colocada em pauta a inclusão ou não do termo “ideologia de gênero”, foi percebido o quanto ainda os vereadores precisam ler um pouco mais sobre gestão pública – seus objetivos, operacionalidade, implicações etc. Não é apenas acenar para o povo, aproximar-se de lideranças comunitárias, visitar uma vez sim outra não as comunidades ou mesmo engajar-se em projetos sociais. Não é apenas isso. É preciso reconhecer que determinados temas precisam ser estudados e melhor debatidos em audiências públicas. Estes debates surgem do olhar da dinâmica e realidade da própria sociedade.
Estudar a questão do gênero seria bom primeiro passo. Conversar com estudiosos da área; conhecer opiniões, ou, simplesmente, ser sensível ao que está acontecendo nas ruas: preconceitos que levam à violência, às mais cruéis formas de mortes de gays, transgêneros; políticas públicas nada inclusivas, direitos que não são respeitados, entre tantos outros fatores.
É inconcebível o pronunciamento de uma determinada vereadora ao dizer que as crianças podem ficar confusas quanto as escolhas afetivas. É notório o despreparo e desconhecimento acerca do assunto. Quando quis justificar, a gestora pública entrou no campo da identidade. Afirmou que isso poderia mexer na identidade das crianças.
Um bom caminho seria, portanto, sentar, estudar e refletir, refletir de novo, antes de emitir tais opiniões. Há muitos estudos que ressaltam a questão da identidade. Talvez passe despercebido pelos nossos gestores que educação, a prática educativa inclusiva, é capaz reduzir preconceitos. Agora, ignorância, infelizmente, só potencializa atitudes preconceituosas que levam a ações devastadoras.
Aos nossos gestores públicos é cabível prezar pelo conhecimento, ler mais, estar atento (a) ao devir da sociedade. Também é cabível a nós, mesmo com as pífias opções de candidatos apresentados durante o período eleitoral, escolher melhor nossos representantes. Ou então vamos apelar para a sorte! Ou melhor, estamos à mercê da sorte...
Washington Moura é jornalista, professor universitário e Mestre em Comunicação
Washington Moura
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