Um dos padres mais conhecidos do Piauí ganhará um memorial na sede da Fundação Ruralista, no município de Dom Inocêncio, a 615 km de Teresina. O espaço reunirá objetos pessoais e a história de Manuel Lira Parente, sacerdote que transformou a realidade de milhares de sertanejos com ações sociais no semiárido piauiense. Padre Lira, como era conhecido, morreu em setembro do ano passado aos 96 anos de idade.

O memorial será organizado em um dos pavilhões já existentes na sede da Fundação. Através da instituição, Lira desenvolveu inúmeras ações sociais pioneiras na região, como a implantação de várias escolas na caatinga, construção da primeira maternidade rural do Piauí, abertura de aguadas e estradas, projetos de geração de renda e construção de cisternas com captação de água da chuva, modelo até então inexistente no sertão brasileiro.

Nos anos 70, a saga do religioso na caatinga brasileira rendeu a publicação do livro "Um homem contra a seca – luta e realização no Brasil", escrito pela escritora inglesa Peggie Benton e lançado na Inglaterra. A publicação tornou o nome do sacerdote conhecido no Brasil e até fora do país. Após o livro, Lira homenageou a escritora, colocando seu nome na maternidade construída por ele na sede da Fundação.

A sede da Fundação Ruralista, na zona rural de Dom Inocêncio-PI (Foto: Gustavo Almeida)

Nos fim dos anos 80, o município de Dom Inocêncio, fundado pelo próprio padre e do qual ele foi prefeito por três mandatos, ganhou destaque nacional ao erradicar o analfabetismo nas faixas etárias pós implantação da Fundação Ruralista. As publicações ressaltavam o feito atribuído ao modelo educacional pioneiro implantado pelo sacerdote na região.

Em entrevista ao portal G1, o filho reconhecido pelo sacerdote, Inocêncio Leal Parente, destacou que o memorial com a história do religioso e da Fundação Ruralista será organizado ao longo de 2016 e ficará disponível para as pessoas visitarem. Além do memorial, ele também garantiu que algumas atividades da entidade serão retomadas gradativamente.

Sacerdote morreu anos 96 anos em setembro de 2015 (Foto: Gustavo Almeida)

O governador Wellington Dias (PT) e o ex-governador e ex-ministro da educação Hugo Napoleão também falaram ao site de notícias da Globo sobre a importância do espaço com a história do sacerdote. Wellington disse que teve o privilégio de aprender com o padre sobre a importância da educação como base para o desenvolvimento e que a pobreza não é responsabilidade de Deus, mas sim das decisões humanas.

Já Hugo Napoleão destacou que o padre era referência para toda uma geração de políticos do Piauí pelo seu destemor, trabalho e dedicação à causa pública. O ex-ministro também defendeu que o memorial deve ter um cunho de santuário, em respeito a Deus e em louvor a luta que o sacerdote empreendeu ao longo de seis décadas no semiárido piauiense.

Em setembro de 2015, após a morte do sacerdote, o acadêmico de jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e ex-aluno da Fundação Ruralista, Gustavo Almeida, escreveu um especial publicado pelo Acesse Piauí sobre o legado do religioso. Intitulado "Um herói que amou o sertão", o texto destacou a história do sacerdote, a comoção dos sertanejos pela sua morte e a repercussão do falecimento na imprensa e no meio político.  

Um dia após a publicação, o texto foi lido na tribuna da Câmara Federal em Brasília pelo deputado federal Paes Landim (PTB). Leia o especial aqui.

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