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Sabado, 18 de maio de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

28/01/2021 - 13h12

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

28/01/2021 - 13h12

Desinformação: fluxos e composição das narrativas



​Já falamos aqui de uma pesquisa encampada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura- UNESCO realizada em parceria com  o International Center For  Journalist -ICFJ em 2020 e que teve como foco principal a identificação dos fluxos de desinformação que circulam pelas redes sociais e que tem caracterizado o termo desinfopandemia, cunhado pela UNESCO e cuja conceituação é bem clara: “desinformação básica sobre a  COVID 19”.

​O estudo que encontra-se disponível aqui  é assinado pelas pesquisadoras Julia Posetti, diretora de pesquisa do ICFJ e Pesquisadora sênior do Instituto de Liberdade de Mídia da Universidade de Sheffield (CFOM)  e Universidade de Oxford e, Kalina Bontcheva também pesquisadora do ICFJ e do Instituto de Liberdade de  Mídia da Universidade de Sheffield. 

​O documento final tem como título Desinfopandemic: deciphering COVID 19 desinformation e logo no início deixa claro que o conceito de desinformação ali adotado se refere a conteúdos falsos com impactos potencialmente negativos e que podem acarretar em consequências fatais durante a pandemia. As pesquisadoras são enfáticas ao afirmar que a intenção de um determinado agente ao produzir conteúdos de falsos tratamentos ou curas por razões ideológicas ou de lucro, é um exemplo de desinformação que no coletivo das fakes News que circulam em todo o mundo compõem a atual desinfopandemia.

​A pesquisa divide-se em duas partes. Na primeira foram identificados os principais temas de produção de conteúdos falsos e concernentes à pandemia da COVID 19 e na segunda, o foco volta-se para os métodos de respostas contra a desinfopandemia.

Na primeira parte, as autoras enfatizam que as motivações para a prática de produção de informações falsas possuem naturezas diversas. Podem ter como ponto motivador de criação o lucro a partir da circulação e venda das informações potencializadas pelos impulsionamentos das redes sociais, ou,  podem possuir cunho ideológico e servir para marcar vantagem política pontual, ou ainda para minar a confiança em determinada política de saúde, colocar a culpa pelos erros na condução do processo de prevenção em outros personagens públicos e instituições,  polarizar a opinião da sociedade e, principalmente, minar as respostas coletivas à pandemia vigente. 

Para as pesquisadoras os agentes do mercado da desinformação se utilizaram de modalidades narrativas objetivando contaminar a compreensão do público sobre o vírus, a doença e os efeitos. “ A desinformação aproveitou uma ampla variedade de formatos. Muitos foram aprimorados no contexto de campanhas antivacinação e desinformação política”.  Em geral os fabricadores de informações falsas costumam concentrar o foco das narrativas em crenças e emoção, afastando a razão e os fatos. Os preconceitos são ativados, a polarização política e a identidade, entram como vetores paralelos e são trabalhados em meio a uma total ausência de ética, com boa dose de cinismo que procura seduzir e manipular indivíduos que tenham em seu âmago valores similares, porém silenciados por muito tempo.

​Na segunda parte da pesquisa são apontados os métodos principais de combate à desinfopandemia distribuídos em quatro grandes categorias, a saber: 1. Identificação da informação falsa através de um rígido monitoramento e checagem dos fatos para elaboração de contranarrativas ; 2. Produtores e distribuidores de narrativas proativas, com respostas políticas e campanhas nacionais e internacionais de combate à desinfopandemiae pandemia da COVID 19; 3.Produção e distribuição responsáveis de narrativas com uso racional do processo econômico e dos algoritmos de forma consciente e socialmente responsável; 4. Suporte ao público-alvo da desinformação com respostas éticas, educação responsável  e empoderamento consciente.

​Por outro lado, o estudo do Reuters Institute em parceira com a University of Oxford sobre a circulação de narrativas atualmente classificadas como desinformacionais aponta resultados interessantes sobre as características que conformam o mercado da desinformação no Reino Unido. O estudo inglês intitulado: Tipos, fontes e reivindicações de desinformação da COVID-19  e que está disponível no endereço: https://reutersinstitute.politics.ox.ac.uk/types-sources-and-claims-covid-19-misinformation chegou a 5 principais conclusões, a saber:
​Em primeiro lugar, destaca que em termos de escala, o número de verificações de informações consideradas suspeitas cresceu cerca de 900% nos meses analisados, ou seja, de janeiro a março de 2020. Nesse ponto, os pesquisadores enfatizam que considerando que os sites de checagem possuem recursos escassos e não tem condições de verificar tudo o que aparece, acredita-se que o volume total de fabricação de informações errôneas ou mentirosas sobre o novo coronavírus seja bem superior.

​Sobre os formatos. Os pesquisadores detectaram que a maioria das informações verificadas, ou seja, 59% eram informações reconfiguradas, partiam de uma narrativa existente sobre algum fato verdadeiro e que eram distorcidas, recontextualizadas ou retrabalhadas. Enquanto que cerca de 38% eram completamente fabricadas, logo mentirosas em 100% do seu conteúdo.

Por fim, vale pensar que neste momento em quevivenciamos quase um ano de domínio do novo coronavírus sobre a população mundial, podemos constatar o incremento  no número de narrativas desinformacionais que circulam sobre a COVID-19. Enquanto em 2020, o maior foco era em remédios alternativos, milagrosos e em tratamentos profiláticos, hoje já comprovados como ineficientes e causadores de grandes danos à saúde do ser humano; hoje no início de 2021 o maior número de informações fraudulentas e falsas se referem às vacinas da Covid-19, criadas pelo movimento antivacina e impulsionadas, potencialmente, pelo mercado da desinformação onde o movimento antivacina trabalha de modo profissional e distribui suas mensagens para as redes familiares e religiosas nos aplicativos de mensagem, formando uma rede de desinformação que tem como intuito o genocídio dos vulneráveis, seja pela baixa escolaridade, seja pela condição econômica, seja pela idade avançada ou pelas comorbidades já existentes.

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