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Sabado, 18 de maio de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

04/02/2021 - 20h16

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

04/02/2021 - 20h16

​A Fábrica de mentiras

 


A minha coluna de hoje traz uma dica para quem deseja conhecer mais sobre O mercado da construção intencional da ignorância, do qual falamos em nosso livro lançado no final de 2020 pela editora Mauad/RJ, assim como, deseja conhecer sobre os demais lados do fenômeno social da desinformação que tem assolado o mundo nos dias atuais, impulsionado pelas plataformas digitais e seus modelos de negócios predatórios. Trata-se da série francesa La Fabrique du mensonge que em seu episódio de estreia da segunda temporada em outubro do ano passado, abordou o tema As notícias falsas no poder.

O episódio veiculou um documentário de cerca de 1h33min e teve como foco principal a criação e circulação de fake News a partir do mercado que circundava nosEstados Unidos, o ex-Presidente Donald Trump e que, noBrasil está ao lado do ainda Presidente, Jair Bolsonaro.

O documentário veiculado pelo canal da Televisão francesa, France 5,  em horário nobre, e dirigido por Elsa Guiol traz à tona inúmeros debates que temos travado no ambiente brasileiro através da Rede Nacional de Combate à Desinformação-RNCd Brasil ( www.rncd.org), que por sinal, foi invadida por hackers semana passada e está fora do ar até que possamos solucionar os problemas de cibersegurança.

Dentre os temas abordados vale destacar o QAnon, um movimento que tem por base teorias conspiracionistas e mentirosas, ao que tudo indica teve sua origem em 2017 na rede social norte-americana 4chan, onde um usuário de um perfil denominado simplesmente Q, começou a postar mensagens sobre uma suposta conspiração mundial, denominada por este de estado profundo, que teria o objetivo de dominar o mundo, através de um projeto de pedofilia e deseja derrubar Donald Trump, sempre situado como o arauto da moral de dos bons costumes, um enviado de Deus.  As mensagens de Q ficaram conhecidas como “Q-drops” e o QAnon nasceu como movimento que possui milhares de adeptos no mundo, inclusive, parlamentares norte-americanos. Políticos e artistas hollywoodianos foram envolvidos, por este movimento,em narrativas fraudulentas que os relacionavam ao tal movimento mundial pela pedofilia e, por último, os integrantes do QAnon foram os responsáveis pelo lamentável episódio da invasão ao Capitólio no início de janeiro do corrente ano. 

Este movimento negacionista e conspiracionista possui adeptos na América Latina e tem se espalhado pelo Brasil, sobretudo, onde tem encontrado simpatizantes que já atuam no mercado da desinformação desde 2018 e que tem procurado imitar os norte-americanos nas temáticas, como também, no que concerne ao modo de fabricação das narrativas fraudulentas. Assim como, nos EUA, o mercado da construção da desinformação trabalha diuturnamente fabricando peças audiovisuais e áudios para as redes sociais e aplicativos de mensagem. 

Os temas são recorrentes e durante a pandemia que ainda nos envolve, o mercado da construção intencional da desinformação tem atuado, como atuava nos Estados Unidos, em consonância com as mensagens emanadas pelo Presidente, seus filhos e Ministros. Plagiando aquium ex-Presidente do Brasil: “-nunca na história deste país”, se viu uma nação banhada pela mentira, nem um governo sustentado com essas bases. O mercado da desinformação no Brasil que em 2018 procurou envolver todos os adversários no tal movimento da pedofilia, em 2020 abriu o leque para as questões políticas da pandemia envolvendo e disseminando desinformação, em geral, tendo as falas do Palácio do Planalto como guia, assim foram criados inúmeros produtos sobre medicamentos milagrosos, tratamentos profiláticos, além do combate ao lockdown, ao isolamento social, distanciamento e uso de máscaras. O trabalho do mercado desinformacional que atende aos anseios do governo brasileiro, aliado à produção da desinformação no ambiente da medicina e da religião tem levado ao Brasil, até o momento, ao segundo pior desempenho durante a pandemia. Até 02 de fevereirode 2021 já tínhamos 226.309 mortos. A pandemia do novo coronavírus e suas variantes é devastadora e no Brasil o caso tem sido mais complicado, visto que o governo e sua máquina da desinformação tem procurado trabalhar em favor do vírus e em detrimento da população. 

O documentário traz como destaque algumas das impensáveis fake News que ganharam maior visibilidade na sociedade brasileira durante o pleito eleitoral de 2018, o que coincide com algumas das narrativas desinformacionais que apontamos no livro mencionado anteriomente, tais como: mamadeira de piroca, kit gay, projetos que supostamente teriam sido apresentados no congresso nacional aprovando a pedofilia, dentre outros casos, que diga-se de passagem, tornaram o Brasil, uma piada mundial. 

Donald Trump e Jair Bolsonaro concorreram durante os últimos anos na disputa pelo primeiro lugar na produção do maior número de fake News diárias publicadas em seus perfis nas redes sociais. Por último, quando do ataque ao Congresso Norte Americano em janeiro, Trump teve suas contas suspensas nas redes sociais. Enquanto isso, Jair Bolsonaro fortalece sua fábrica de mentiras, a partir do Gabinete do ódio, que mesmo com a investigação da CPMI das Fake News, continua atuando ativamente a partir de outros centros estratégicos de emissão de narrativas mentirosas, descontextualizadas, manipuladas, imprecisas e fraudulentas. Mesmo com o país falido economicamente, com um absurdo número de mortos por Covid-19, com quase 10 milhões de infectados, Bolsonaro segue mantendo seus fiéis seguidores na casa dos 30% dos brasileiros, algo não compreensível, quando não se olha de perto para a grande importância da rede de comunicação pessoal à qual o Presidente se refere de vez em quando e que trabalha para manter seu público cativo. 

O documentário de Elsa Guiol apresenta o atual Presidente do Brasil com todas as “qualidades” que já conhecemos e que tem encontrado aceitação em parte de nossa população, tais como: machista, misógino, homofóbico, racista e que pratica diariamente a violência simbólica autorizando a violência física que nos aflige a cada dia. “Qualidades” por sinal, denunciadas por nós nesta coluna em 27 de setembro de 2018 quando publicamos aqui o Manifesto #EleNão, na época estávamos à frente do Movimento de Mulheres Unidas contra Bolsonaro no Piauí,  junto com algumas jornalistas, advogadas, outras profissionais e amigas.

O documentário que está disponível na plataforma do YouTube no link: https://www.youtube.com/watch?v=fr_GCo_XI8Y se soma a outros produtos audiovisuais que visam esclarecer sobre o modelo das plataformas digitais, o mercado da desinformação e os usos políticos da construção intencional da ignorância, tais como: Privacidade Hackeada (2019) e O Dilema das redes(2020). Já o filme Rede de Ódio (2020) é uma obra ficção que também traz uma visão ampla do problema e da conjuntura em que estamos mergulhados. 

Recomendo os quatro produtos audiovisuais aqui tratados para quem deseja conhecer um pouco sobre o que perpassa e comanda nossa vida nos dias atuais. 

Para adquirir o livro  O mercado da construção intencional da ignorância acesse o site da Editora Mauad, ou os sites: Livraria Travessa, Amazon, Submarino, Americanas, dentre outros.

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