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Domingo, 05 de maio de 2024
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Ana Regina Rêgo

Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

13/08/2021 - 05h53

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Ana Regina Rêgo

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13/08/2021 - 05h53

QUALQUER SEMELHANÇA NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

Governo brasileiro flertando novamente com o Nazismo e o Fascismo eterno.

 

Entre 2010 e 2012 realizei pesquisas sobre a presença do nazismo e do fascismo na imprensa brasileira na década de 1930. Parte destas pesquisas foram apresentadas em eventos no Brasil e no exterior. Em 2012 publiquei também um capítulo em parceria com Ranielle Leal sobre a mesma temática em meu livro Imprensa, perfis e contextos.

Em 2021 temos presenciado as diversas investidas fascistas do atual governo, lembrando sempre que adotamos aqui não o fascismo que chegou ao poder em 1922 com Mussolini, mas o fascismo eterno ou UR-fascism como conceituado por Humberto Eco, ou seja, a capacidade de reinvenção e adaptação da “doutrina” a outras realidades. Por último, nesta semana fomos surpreendidos, ou melhor, nada que venha do atual governo nos surpreende mais, contudo, a tentativa de intimidação do Congresso Nacional, especificamente da Câmara Federal, no dia da votação da PEC do voto impresso, com um desfile das forças armadas pela Praça dos Três Poderes, nos trouxe à memoria não somente o trabalho científico que me referi no início deste artigo opinativo, mas à íntima relação entre a inconsciência histórica e a potência da ignorância coletiva, lembrando aqui que adotamos ignorância no sentido de não saber, ou, não querer saber, o que nos leva de um lado, a uma construção da ignorância e, de outro, à manutenção da mesma. 

O desfile que o nosso governante máximo pretendia como ato de demonstração e visibilidade de poder e se transformou em um ato vergonhoso em todos os sentidos, é uma réplica das estratégias adotadas tanto pelas potências do Eixo, aqui me refiro, especificamente, a Itália e Alemanha, no contexto histórico entre guerras mundiais do século XX e da própria Segunda Grande Guerra; como também, pelos governos totalitários de direita e esquerda em diversos locais do globo. 

Obviamente, que a derrota da Proposta de Emenda Constitucional-PEC 135/2019 (PEC do Voto Impresso) na Câmara Federal  e do Projeto de Lei que revoga a famigerada Lei de Segurança Nacional e inclui no Código Penas crimes contra a democracia no Senado,  ao mesmo tempo em que o vergonhoso desfile com tanques de “fumaça” acontecia na praça em frente ao Congresso, refletem talvez o amadurecimento tardio da democracia brasileira, hoje além de imperfeita, híbrida. Talvez os poderes tenham acordado para os riscos reais, não somente de um golpe à democracia como o de 2016, articulado a partir do poder judiciário em um grande acordo com o legislativo e com a mídia, como também, para os riscos potenciais de se colocar no poder alguém com valores antidemocráticos e completamente prejudiciais a todos os setores da vida em sociedade.

Bolsonaro já imitou Mussolini e suas motociadas, falta pilotar um avião de guerra, já imitou Hitler e as estratégias de Goebbels, desde o slogan da sua campanha aos temas das campanhas governamentais atuais e agora investe na principal demonstração de poder hitleriana desde o momento em que assume o poder em 1933, que eram os grandes desfiles de máquinas de guerra, na terra, no ar e na água, além dos desfiles dos milhares e milhares de soldados que procuravam exaltar a superioridade ariana, em um cenário que imitava os impérios da antiguidade.

Contudo, esses fatos são pedaços da história que nem todos conhecem e que considero de máxima importância que se torne visível para um Brasil de ignorantes históricos, em que muitos contestam os mais de 6 milhões de judeus mortos, dentre muitas outras coisas compartilhadas por negacionistas e terraplanistas. O apoio que a elite industrial e o povo alemão deram à Hitler foi vital para mantê-lo no poder e realizar seus delírios mortais, assassinando a todo um povo. Esse apoio veio de um ecossistema de comunicação de massa que trabalhava diretamente com a desinformação para sensibilizar, manipular e jogar uns contra os outros, provocando o desentendimento e abrindo caminho para dominação. Logo qualquer semelhança com os grandes investimentos que o governante brasileiro e seus aliados fazem no grande mercado virtual da desinformação, não é coincidência.
 
Também não é concidência trágica o desfile da última terça (10) de agosto, nem tampouco as motociatas que se tornaram comuns em nichos de Brasil.
 
Nesse contexto, para os 30% de brasileiros que ainda apoiam o atual governante, pedimos somente que parem para pensar, um pouco. A justificativa para apoio vem das falácias: cidadão de bem (com arma na mão?), cristão (com tortura e apoio à milicias?), educação (para poucos?), governabilidade (com centrão no comando ou através da força militar?). Obviamente, que uma grande parte destes 30% possuem os mesmos valores que o governante, ou seja, são machistas, misóginos, racistas, homofóbicos, elitistas e querem um governo ditatorial, a estes devemos combater, pois o futuro que desejam para o Brasil exclui grande parte dos brasileiros e que tem na pandemia da Covid-19, um exemplo de atuação intencional.

Para conhecimento histórico seguem imagens da Revista O Cruzeiro de 23 de outubro de 1938. Vale destacar que durante toda a década de 1930 o Brasil flertou de muito perto com as potências do Eixo, e, em períodos de paz entre Getúlio Vargas  e Chateaubriand (dono da Revista O Cruzeiro e do conglomerado dos Diários Associados), grandes reportagens sobre a Itália fascista e a Alemanha nazista ocupavam muitas páginas da revista. Esses exemplares estão disponíveis na Biblioteca Nacional de forma virtual. 

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