“Se você perdeu dinheiro, perdeu pouco
Se perdeu a honra, perdeu muito.
Se perdeu a coragem, perdeu tudo”
Vicent Van Gogh
Vicent Willem Van Gogh foi um pintor holandês nascido em 30 de março de 1853 e morreu aos 29 de julho de 1890, considerado artista dos mais influentes dos últimos tempos, que passou fome e frio, viveu em barracos e conheceu a miséria. A sua obra “Retrato de Dr. Gachet”, o médico que tratou das suas alucinações, foi comercializada por US$ 82,5 milhões. A sua genialidade só foi reconhecida após a sua morte.
Na época vivida por Van Gogh (século XIX), o capitalismo, que é o sistema econômico baseado na legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o principal objetivo de adquirir o lucro, estava em fase evolutiva da Revolução Industrial, qual seja, o sistema de produção em que a máquina fazia o trabalho que antes era realizado pelos artesãos.
No referido período, ainda se convivia com o maniqueísmo da usura. Pois se o sistema econômico permitia o lucro, através do laissez-faire, o juro, que é uma cobrança de remuneração abusiva pelo uso do capital, ou seja, quando da cobrança de juros altos, que lesa o devedor, a Bíblia, o Concílio de Latrão e o Direito Canônico ainda tratavam a usura como pecado na doutrina do Cristianismo.
Daí Van Gogh, lastreado nesses valores, colocar o dinheiro, o bem material, como pouca perda. Já a honra, que é um valor moral universal do ser humano, é considerada pelo artista neerlandês como valor considerável. Já a coragem, virtude extremamente valorizada num momento em que a coragem do indivíduo era conditio sine qua non para a conquista pessoal ou do núcleo familiar na então sociedade europeia.
Comparando-se o dito em epígrafe com os dias de hoje, algumas coisas mudaram. Atualmente, com o capitalismo selvagem, o lucro e os juros estão na estratosfera. Perdeu-se a cerimônia do lucro excessivo e cobrar juros escorchantes – a riqueza sem trabalho de Gandhi. Apesar de proibida em legislação em vários países existem até os da profissão de agiota como atividade lucrativa por meio de juros desumanos.
Com o neopentecostalismo religioso cristão, proliferou-se algumas igrejas evangélicas que pregam a doutrina da vantagem material, como sendo dádiva divina. No Brasil, pratica-se até na “Lei de Gérson”, aquela de levar-se vantagem em tudo. Portanto, na atualidade, com a corrupção desenfreada em busca do patrimonialismo, perdeu-se muito a honra com a objetivação do dinheiro. E a coragem, geralmente, está mais reservada àqueles que não medem distância para produzir fortuna através das práticas delituosas.
Deusval Lacerda de Moraes é economista
Deusval Lacerda
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