Eu ainda era adolescente, lá pelos anos 1990, quando ouvi falar do Castelo do Ogê a primeira vez. À época o povo da cidade havia acabado de descobrir o lugar, na zona rural do município de Altos, e havia muito mistério sobre quem serie o proprietário. Em razão do nome do dono, algumas pessoas acreditavam que se tratava de um palacete em construção pelo escritor piauiense O. G. Rego de Carvalho. Ledo engano. O Ogê, dono do castelo, era outro.
A HISTÓRIA OFICIAL
Ogiê da Silva, um setentão, que quando criança lia muito sobre Ivanhóe e Robin Hood, e, apaixonado pelas aventuras dos heróis medievais, sonhava em construir o castelo. Aparenta ser um homem culto, apesar da origem humilde, e sempre foi fã de mitologia, havendo várias referências a criaturas e entidades da religiosidade pagã egípcia, fenícia, grega, entre outras, em seu castelo.
Quando jovem, viveu por 27 anos em São Paulo, aonde foi em busca de melhores condições de vida. Trabalhou de pedreiro, pintor… fez de tudo um pouco. Até que aprendeu a reformar baralhos, que revendia, e, com isso, ganhou muito dinheiro, chegando a ter diversos empregados. Comprou a fazenda São Bento, onde começou a construir o castelo em 1979. Investiu tudo o que tinha no lugar, mas não conseguiu terminar a obra, que, apesar de inacabada, é de uma beleza arquitetônica incrível.
A planta da construção do castelo inacabado, que só existe na imaginação de Ogier, tem uma área de 1.370 m2 dividida em 28 quartos, salão de baile, salão de reunião, biblioteca, jardim particular e piscina. Um templo grego, dedicado a Deus, e uma capela em honra a Nossa Senhora de Lourdes completam o castelo que, no alto da escadaria terá uma escultura do Colosso de Rodes – uma das sete maravilhas do mundo antigo -, com seis metros de altura. As paredes devem chegar a 40 metros de altura.
“Ao redor disso tudo haverá uma muralha com dez metros de altura e 285 m de comprimento. Tudo será cercado de água, como nos castelos europeus”, observa. Entusiasmado, ele faz alguns cálculos de cabeça, contando nos dedos o número de torres e das dependências do prédio, saindo-se com essa certeza: “Com R$ 5 milhões eu termino esse castelo”. Os olhos de Ogier brilham: impossível desassociá-lo de qualquer pedra do castelo. Os dois se completam, como se um não pudesse existir sem o outro: uma energia os torna único, indivisível.
Sobrevive hoje em condições paupérrimas com a ajuda de um benefício do governo. Apesar disso, Ogiê não desistiu de seu sonho de ter um castelo. Nas proximidades do castelo inacabado fica a casa em que vive com familiares. Em um tosco casebre de palha ali pertinho, está guardado um MP Lafer, todo original, que ainda guarda um certo brilho de um passado áureo, embora danificado pela falta de cuidados. “Quando posso compro cimento e continuo a obra”, informa, lembrando que o morro onde se ergue a construção é artificial, “feito com inúmeras carradas de terra”. O homem que alega ter investido no lugar quase um milhão de reais, ainda acredita que um dia vai concretizar o seu sonho.
Já estou entrando em contato com políticos. Alguns engenheiros têm vindo por aqui e observado a obra”, diz, acrescentando que “se me ajudarem a fazer o castelo, depois que eu morrer eles podem fazer dele o que quiserem”. Com os braços levantados, ele afirma: “Eu só quero ter o prazer de passar meus últimos anos de vida, aqui, passeando no meu castelo”, sorri.
A LENDA
O castelo foi descoberto em 1993 por trilheiros que passavam pelo local e se encantaram com a magia que envolve o lugar. Alguns anos depois a imprensa da vizinha capital do Piauí compareceu ao lugar e fez uma reportagem chamando o lugar de “Castelo do Diabo”. A razão para tanto seria a presença de inúmeras estátuas de deuses pagãos, que dizem afrontar às leis do Deus cristão, o que teria feito alguns moradores da região batizarem o lugar com esse nome, até porque diziam que o homem era um adorador do diabo.
Mas é óbvio que isso não é verdade! Coisas que se criam na mente de gente carente de informação… Invencionices do povo supersticioso… Ogiê é um homem de bem, um sonhador temente a Deus, que como os leitores deste blog ama histórias fantásticas e persiste em seus sonhos e luta até o fim para vê-los realizados. Sinceramente, acho mais plausível uma outra lenda que envolve o lugar.
Dizem que ali, em eras remotas, era um lugar de intensa magia e que ciente de tais características mágicas o homem resolveu fazer um acordo com as criaturas encantadas. Elas lhe ajudariam a concretizar seu antigo sonho: o de possuir um castelo, se ele as protegesse dos perigos do mundo dos homens, permitindo que habitassem naquela propriedade por eras sem fim.
O que contam é que aqueles grifos e dragões, estátuas de deuses e coisas do tipo, são os velhos deuses, criaturas mitológicas de eras atrás que se travestiram em estátua para permanecerem ocultos aos olhos humanos. À noite, ganhariam vida e protegeriam o lugar de intrusos e vândalos. Em contrapartida poderiam viver ali em paz, ocultos dos olhos humanos. Até antigos faraós divinos do Egito encontraram abrigo ali, se apresentando como estátuas durante o dia.
O que dizem é que qualquer um que carregar o mal em seu coração e entrar ali, será penalizado. Quem quiser roubar, ou mesmo destruir o templo de tais criaturas mágicas, ali encontrará o seu fim. Alguns falam que essas pessoas virariam pedra para serem utilizadas na construção do castelo.
Eu sinceramente não acredito nisso… Para mim, é bem óbvio que tudo não passa de lenda… Não é?
REFERÊNCIAS
- http://www.portalodia.com/noticias/piaui/ha-32-anos-um-homem-simples-deu-inicio-a-construcao-de-um-castelo-medieval-no-piaui-106477.html
- http://krudu.blogspot.com.br/2011/11/castelo-de-ogier.html
- http://fredsoncastelobranco.blogspot.com.br/2011/12/o-castelo-encantado-de-altos-pi-cituado.html
TEXTO: JOSÉ GIL BARBOSA TERCEIRO
ILUSTRAÇÃO: DOUGLAS VIANA
FOTOS: KENARD KRUEL / CATARINA COSTA (G1 PIAUÍ)
Publicado pelo Causos Assustadores do Piauí
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