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26/10/2023 - 09h23

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Um dos meus sonhos era adquirir uma Enciclopédia Barsa

 

Quem quiser fazer algo diferente dos outros busque o conhecimento. 

 Quem quiser fazer algo diferente dos outros busque o conhecimento. 

Fui alfabetizado pela minha mãe numa “carta de ABC”. Ela lia soletrando as palavras, mas conhecia as letras e sabia que a leitura começava pelo conhecimento do alfabeto. Eu tinha seis anos e, aos sete, quando entrei na escola, em União, praticamente já lia todas as palavras. Ler, para minha mãe, era “desasnar”. A ideia de deixar de ser burro estava associada à eficiência do estudo. 

Muito tempo depois, tornei-me professor. Comecei cedo fazer o meu maior e mais importante investimento: livros. Mesmo sem muita consciência de que isso traria dividendos. Investir em livros para quê? Lembro que um dos meus sonhos era adquirir uma Enciclopédia Barsa que, por si só, constituía uma biblioteca. Mas era um sonho distante: custava caro. Eram livros de luxo. 

Com a criação da URV (Unidade Referencial de Valor) e, em seguida, o surgimento da nova moeda brasileira, o Real, criou-se uma expectativa importante de combate à inflação, que consumia impiedosamente todo o salário que ganhávamos. A URV e, depois, o Real eram equivalentes ao Dólar americano. O salário mínimo valia 64 URVs. Não era, como ainda não é, grande coisa. Pois bem, entendia naquele momento que poderia adquirir a Barsa. Liguei para a Britannica, fui bem atendido e me mandaram um representante a minha casa para me apresentar os seus produtos, entre eles a Enciclopédia. A mudança econômica iniciada no governo Itamar Franco e chancelada pelo governo FHC possibilitou a negociação entre mim e o representante da Britannica. Firmamos o negócio: uma entrada de 64 URV (Real) mais onzes prestações do mesmo valor no carnê. Fiquei aperreado, mas consegui realizar o meu sonho. O valor de doze salários mínimos dado a uma enciclopédia era, para alguns amigos, um grande absurdo econômico. Muitos pensavam no que eu poderia ter comprado com esse valor. 

O certo é que ela me serviu muito, serviu a meus filhos, que não precisavam sair de casa para fazer pesquisa, e, também, a outros estudantes que, sabendo da minha biblioteca, vinham até minha casa em busca do conhecimento. 

Os franceses Diderot e D’Alembert, ao coordenarem a elaboração da Encyclopédie, no século XVIII, tinham certeza de que poderiam juntar todo o conhecimento do mundo em 35 volumes: ciências, artes, linguagem, música, filosofia, história, geografia, etc. 

A importância do conhecimento em nossa vida é fundamentalmente importante. Quem quiser fazer algo diferente dos outros busque o conhecimento. 

A enciclopédia impressa perdeu, com o surgimento da internet, o seu papel, tornou-se obsoleta, quem imaginaria isso, depois de mais de 200 anos de sua confecção iluminista. Apesar da tecnologia virtual, com facilidade de acessos, o que podemos perceber é que o conhecimento está sendo desativado pelas gerações mais jovens. Se tentarmos conversar com os mais jovens sobre assuntos relevantes para o conhecimento geral, tal será a nossa decepção. Os professores nas escolas continuam os mesmos, a educação escolar tal e qual, mas os jovens evoluíram com a rapidez das informações. 

A leitura está ficando cada vez mais distante. Bibliotecas ficaram obsoletas, apenas guardam memórias, algumas delas até fecharam. Livrarias, a todo momento, cerram suas portas. Leitores são cada vez mais escassos. 

Vivemos, em minha visão, uma involução, possivelmente um retorno ao conhecimento primitivo das palavras. Nas redes sociais, prevalecem os textos curtos, as palavras abreviadas, as fotos, os desenhos... Como no início da evolução da linguagem humana. 

Este texto, por exemplo, será lido por poucas pessoas. Aos poucos, percebo que os jovens vão perdendo a memória por absoluta falta de exercícios. Eu constato isso com muita tristeza. 

Ser professor está ficando obsoleto.

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Lourival Lopes Silva, professor do IFPI - nas redes sociais. 

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