Elegi três palavras para nortear minha vida, para a minha vida ter um sentido, um prazer de viver. São elas, pela ordem: desaprender, desapegar-se e desapaixonar-se. Já falei sobre isso em outro texto. Mas sempre tenho necessidade de deixar as coisas mais claras. É algo muito pessoal e, assim, não tenho a pretensão nem de influenciar nem de convencer ninguém. O que farei será apenas um exercício de compreensão que vou tendo das coisas a partir das minhas experiências de vida.
Desaprender, por exemplo, é um conceito pedagógico importante e deveria ser implantado nas escolas. Mas também na vida. Eu sinto necessidade de esquecer certas coisas, certas pessoas, certos conceitos. Quem nunca sentiu isto? Há muitas coisas que nos perturbam e nos atrapalham no presente, então por que não esquecê-las? Quantas coisas aprendemos que não nos servem mais? É preciso deixá-las de lado. Parece que existe uma lixeira em nossa memória. É necessário que, de vez em quando, a esvaziemos.
Alguns conceitos que foram mudando com o tempo, algumas tradições absolutamente desnecessárias, relações mal resolvidas e amores desgastados devem ficar para trás, esquecidos completamente. O esquecimento é uma forma inteligente que a nossa memória encontra para desaprender. Fico observando algumas pessoas falando que são conservadores, que respeitam a tradição, que, uma vez ou outra, falam que antigamente era muito melhor. Eu acho tudo isso uma tolice.
A cada dez anos, a não ser para quem não queira ver, mudanças acontecem, algumas de forma bem radicais. De certo modo, ou você entende as mudanças ou você sofre, porque começa a fazer comparações, achando que a sua década sempre foi melhor. Eu penso que o uso do retrovisor seja importante para evitar acidentes, para fazer a gente tomar uma posição e para enxergar coisas que estão próximas ou distantes. Mas é para frente que a gente tem que olhar sempre. E, se der, dá uma olhada para os lados. Desaprender aquilo que não serve mais ou é incompatível com o que se vive na atualidade significar olhar para frente, adaptar-se ao que virá.
Certa vez um professor universitário me contou por que pediu aposentadoria. Disse-me que chegou a sala de aula e viu um aluno de camisa de manga cavada, de bermuda e com os pés sobre a mesa a sua frente. Ficou incomodado com aquele comportamento e pediu que o aluno se sentasse direito. O aluno apenas lhe respondeu: - Qualé, professor! Ficou tão decepcionado que não conseguiu mais dar aula. Já tinha tempo de aposentadoria, pegou seu material e foi direto ao departamento de pessoal. Esta é uma situação do que pode acontecer quando não temos capacidade de desaprender certos conceitos para aprender outros que surgem. É certo ou errado? Eu digo que é necessário para a convivência e para a interação.
Na minha casa, ninguém toma bênção a ninguém e nem por isso existe falta de respeito. Nós simplesmente achamos desnecessário. Certa vez, perguntei a uma pessoa, que passava em frente a um cemitério e se benzia, por que fazia aquilo. Ela me respondeu que não sabia, seguia uma tradição. Algo desnecessário para reverenciar os mortos.
Sinto que, aos poucos, as pessoas vão desaprendendo conceitos velhos e tradições desnecessárias. E vão construindo uma nova forma de viver. É nesse sentido que considero a desaprendizagem importante, tão importante quanto aprender coisas novas.
*****
Lourival Lopes Silva, professor - nas redes sociais.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.