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Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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01/03/2024 - 09h13

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O que o Facebook faz com a gente

 

Mas o facebook dizia: só mais um pouquinho

 Mas o facebook dizia: só mais um pouquinho

Passei o domingo fora com a família. Hoje em dia está cada vez mais difícil a gente passar o dia com a família. Os jovens têm compromissos muito diferentes dos nossos. Mas nesse domingo deu certo de ficarmos juntos. Fomos ao sítio de um amigo. Dia bastante agradável. Churrasco, peixe assado na grelha, cerveja gelada, banho na piscina, uma rede para descansar. Um dia para relaxar, depois de uma semana de muito trabalho.

À noitinha, voltamos para casa. Tudo normal, sem problemas. Ainda deu tempo de assistir ao segundo tempo do jogo de meu time. Depois do jogo, um pouco de internet. Tempo suficiente para postar algumas fotos daquele dia maravilhoso no facebook. Queria dividir com os amigos a minha alegria de estar com a família em dia de lazer.

Internet consome o tempo da gente muito rápido. Facebook, então, nem se fala, é um vício terrível. Deixa a gente impotente, fissurado, extasiado. É preciso a gente ter muito controle para não se viciar. Quando a gente se dá conta, o tempo já era. Foi isso que aconteceu comigo. Ao olhar para o relógio, vi que passava da meia-noite. Para quem só ia postar umas fotos e escrever alguma coisinha o tempo havia passado rápido demais. Pensei: dia seguinte tenho que trabalhar cedo. Mas o facebook dizia: só mais um pouquinho. E o pouquinho virava horas. De novo o relógio. Uma hora e trinta minutos. Agora é pra valer. Largo o facebook, vou me deitar. Que inferno!

Acho que não demora muito, pego no sono. Sono pesado.

De repente, sinto que alguém me puxa pelas pernas, com as duas mãos, com força. Me debato com ele, tento me mexer, faço força. Nada. Estou completamente imobilizado. Mas tento reagir, não me entrego. Minha mulher dorme ao lado. Grito bem alto. Chamo pelo seu nome. Nada. Ninguém me ouve. O sufoco aumenta, grito mais alto. Acho que é algo maligno. Mas não me lembro de rezar. Dizem que reza é bom para essas coisas. Não tenho tempo para isso, meu negócio é gritar. Só que o grito não faz nenhum efeito. Cheguei a ver aquela figura horrorosa de Munch. Estava desesperado. Comecei a chorar. De verdade. Chorava alto. Nada. Cada vez mais ia ficando bem imobilizado. Sentia que a imobilização começava a chegar a minha boca, passando primeiro pela garganta. O choro não parecia mais choro. Era um grunhido, como cachorro aperreado. Grunhido alto, bem alto. Que inferno!

Nesse momento, o da minha passagem, porque eu já estava entregando os pontos, sinto uma mão passar levemente na minha perna e ouço uma voz longe, bem longe, dizendo:

- Que é isso? Tu tá chorando?

Penso ser meu anjo da guarda. Abro os olhos. É minha mulher que acabara de acordar por causa de meu choro.

- Era um pesadelo. Parece que queriam me levar para o inferno – disse a ela.

Por um instante, pensei no facebook. No que ele faz com a gente.

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Lourival Lopes Silva, professor do IFPI - nas rede sociais. 

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