Ah, o aroma da goiaba madura. Nada me leva de volta à infância tão rápido quanto aquele perfume doce que impregnava o quintal. A goiabeira era a guardiã das nossas travessuras e segredos. Tá escondendo algo? Tá na goiabeira. Um palavrão escapava? “Olho da goiaba!” Era tudo goiaba naqueles dias.
As frutas eram um evento à parte. Sempre havia quem se oferecesse para tirar a casca e as sementes, não pela tarefa, mas pela recompensa: o cheiro nas mãos que durava horas. Mas quem ligava para casca ou caroços? O tesouro estava no miolo – aquela parte macia e escondida entre as sementes. Era quase proibido, quase secreto.
A mãe avisava: “Cuidado com os caroços, faz adoecer!” Mas ninguém queria caroço, muito menos a carne da fruta. O centro era o prêmio, uma explosão de sabor vermelho-sangue.
E o doce? Um espetáculo! O cheiro invadia a casa como um abraço, anunciando que algo especial estava por vir. Vermelho, macio, brilhante – era quase um presente da goiabeira para a nossa mesa.
Hoje, não tenho mais a goiabeira. Mas o cheiro de uma goiaba madura basta para me levar de volta. Goiaba não é só fruta; é infância, é segredo, é uma delícia impossível de esquecer.
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Graça Batista é jornalista - nas redes sociais.
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