O clube dos delatados teve uma ideia para tentar sobreviver às urnas em 2018. A proposta é adotar o modelo de lista fechada a partir das próximas eleições.
A estratégia foi abraçada pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e o do Senado, Eunício Oliveira. Os dois foram acusados por executivos da Odebrecht e deverão responder a inquéritos no Supremo.
No sistema de lista, o eleitor deixa de ter direito a escolher seu deputado ou vereador. Ele passa a votar apenas no partido, e não no candidato, Cabé à direção de cada sigla indicar quem assumirá as cadeiras.
O modelo foi rechaçado em maio de 2015, quando a Câmara discutiu um arremedo de reforma política. Foi um massacre: 402 votos contrários e 21 a favor. Entre os grandes partidos, apenas o PT defendeu a lista, sem muito entusiasmo.
Menos de dois anos depois, a ideia ressurge das cinzas com amplo apoio no Congresso. A explicação é simples: os políticos passaram a ver nela uma boia de salvação contra o naufrágio anunciado pela Lava Jato.
A tese começou a ser discutida no último domingo, em almoço na residência oficial do presidente da Câmara. Voltou à mesa nesta quarta-feira, 15/03, quando o presidente Michel Temer recebeu os delatados Maia e Eunício no Palácio do Planalto.
A elite política quer mudar o modelo eleitoral com um objetivo claro: aumentar as chances de reeleição dos atuais parlamentares. Pelo modelo em discussão, eles ocupariam os primeiros lugares nas listas de cada partido em 2018.
Se a proposta for aprovada, o eleitor será praticamente impedido de demitir os políticos enrolados no petrolão. Assim, eles garantiriam um seguro para renovar os mandatos e manter o foro privilegiado até 2022.
A lista fechada faz algum sentido em países com partidos sólidos e tradição parlamentarista. Não é o caso do Brasil, onde há 35 siglas registradas e quase ninguém sabe a diferença entre PR, PRB, PRP, PRTB.
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Bernardo Mello Franco é jornalista e colunista da Folha de São Paulo.
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