O ódio, por sua vez, é um fracasso. Seu projeto inicial, com efeito, consiste em suprimir as outras consciências. Porém, ainda que o conseguisse, ou seja, ainda que pudesse abolir o Outro no momento presente, não poderia fazer com que o Outro não houvesse sido. Melhor ainda: a abolição do Outro, por ser vivida como triunfo da ira, pressupõe o reconhecimento explícito de que o Outro existiu. Portanto, não poderia livrar-me dele.
Dir-se-á que, pelo menos, dele escapo pelo presente e dele escaparei no futuro: mas não. Aquele que, um vez, foi Para-outro está contaminado em seu ser pelo resto de seus dias, mesmo que o Outro tenha sido inteiramente suprimido. O ódio representa, simplesmente, a tentativa do desespero, que fracassará.
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Jean-Paul Sartre - no livro "O Ser e o Nada".
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