Desde a divulgação da conversa criminosa entre Joesley Batista e o presidente Michel Temer no Palácio Jaburu, o governo anda trôpego, atabalhoado e emitindo claros sinais de insensatez política.
As aparições do presidente Temer para explicar o colóquio com o dono da JBS foram desastrosas: confessou a existência do encontro oficioso no Palácio Jaburu e da conversa marginal que estarreceu o país e ainda levantou uma celeuma estéril sobre duvidosas edições das gravações.
Movido pela pequenez e o incentivo dos áulicos que nutrem a psicótica atração fatal pelo poder, compulsivamente o presidente Temer tem dado passos cambaleantes e erráticos em direção ao precipício político.
Não bastassem a estupidez do decreto que convocou as Forças Armadas para as ruas da capital do Brasil, por 15 longos dias, e a obcecada insistência em manter a tramitação das pretensas reformas trabalhista e previdenciária no Congresso Nacional aos trancos, agora Temer, abruptamente, enxota o então ministro da Justiça, Osmar Serraglio, para empossar Torquato Jardim, com a indisfarçável intenção de operar uma antirrepublicana intervenção na Polícia Federal.
Em conversa também gravada entre Joesley Batista e Aécio Neves, ambos reclamavam da inoperância do Ministro da Justiça, Osmar Serraglio, face aos inquéritos em andamento da Polícia Federal que apuram práticas de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Também lamentavam a perda da oportunidade de exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, em decorrência da criticada Operação Carne Fraca. Daiello exerce o cargo desde 2011 e tem conduzido as principais operações que desnudaram os bastidores e abalaram as estruturas do poder. Ambos, Aécio e Joesley, reclamavam em tom apelativo: “Tem que tirar esse cara”!
O presidente Temer – diretamente afetado pela investigação da Polícia Federal, que inclusive o interrogará em breve – agora pretende, ao que tudo parece, implementar a trama engendrada nos bastidores do Palácio Jaburu . De Jardim brota a audácia de intervir na Polícia Federal e insultar, mais uma vez, a paciência do povo brasileiro. É a operação “Tem que tirar esse cara” nas ruas da capital do Brasil com os tanques de guerra simbolizados pela caneta que empossa, nomeia, exonera, decreta e escreve a história do seu lastimável governo.
Essa aventura de intervenção e de controle da Polícia Federal será mais uma desventura do governo. Tirar esse cara, o diretor-geral Leandro Daiello, no atual contexto, consiste em um grave atentado à autonomia das investigações sobre fatos criminosos que indiciam Temer e os seus mais próximos asseclas. É um evidente desvio de finalidade administrativa, porque afronta o interesse público e ofende os valores éticos e os princípios fundamentais da República e da democracia. E isso pode até vir a configurar crime de obstrução da Justiça.
Só um surto de sensatez do presidente Michel Temer evitará um horroroso e ainda mais traumático final do seu governo. Neste momento, a sua renúncia seria um ato de bom senso e de grandeza pelo Brasil. Apegado ao cargo e com esses sucessivos descalabros, Temer fatalmente sucumbirá à legítima operação perpetrada pelo povo que, em tom imperativo, brada nas ruas: “Tem que tirar esse cara”!
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Henri Clay Andrade é Presidente da seccional de Sergipe da Ordem dos Advogados do Brasil.
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