Sobre o fascismo dos nossos dias Caetano Veloso poderia ter dito: "E aquilo que nesse momento se revelará aos povos / Surpreenderá a todos não por ser exótico / Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto / Quando terá sido o óbvio".
Quem tem a pele mais escura. Quem nunca teve a carteira recheada. Quem nunca conheceu a Disney. Quem fez o primeiro e o segundo grau em escola pública caindo aos pedaços sabe da violência escamoteada, do sarcasmo, dos olhares de desdém ou de medo.
O fascismo foi refreado no Brasil porque parecia vergonhoso, atrasado, depunha contra o moderno. Os mais ricos, tentando parecer culturalmente mais avançados, escondiam o quanto podiam suas opiniões supremacistas. Mesmo sentindo asco de pobres isso só era dito, quando o era, à boca pequena, entre os seus. Agora, "os seus" estão espalhados nas redes sociais de Acauã a Paris, do Liechtenstein à Russia. Ora, se os americanos que foram decisivos na guerra contra os nazistas em 1945 estão promovendo passeatas neo-nazistas em seu território, "porque não eu?" pensam os direitistas tupiniquins.
A direita brasileira, como de resto no mundo, tomou pra si a ideia de Deus e da família. Adonou-se desses dois pilares culturais e montou um discurso de que a esquerda é a responsável pela morte do primeiro e degradação da segunda.
Logo Deus, que mandou o próprio filho como um revolucionário, que bateu de frente com os hipócritas encastelados nos templos, de onde expulsou os vendilhões a chibatadas. Logo Deus e a família, o duo que inspirou a formação das Comunidades Eclesiais de Base da igreja católica mais revolucionária, de Leonardo Boff, Frei Beto entre outros. Essa igreja que protegeu os mais pobres e vulneráveis nos anos de fome e seca.
A direita brasileira herdou a propensão à violência típica dos escravocratas. Ao pobre e negro a chibata, a cadeia, a bala. "A nós, gente de bem", os privilégios, a casa grande, as melhores escolas e universidades, os assentos de primeira classe.
O mais triste, patético, nojento é que na sua quase totalidade os mais aguerridos direitistas das redes sociais não passam, nunca passaram, nem nunca passarão de reles "feitores". Não carregam a fortuna, privilégios ou os sobrenomes nobres. Estão apenas próximos dos privilegiados, as vezes serviçais da casa grande (leia-se palácios, tribunais, parlamentos, etc) e se acham o crème de la créme. Contentam-se com as sobras da mesa farta.
Isso explica, em parte, o ódio, a infelicidade, a amargura do direitista. Ele não está lá e não quer estar aqui. É um pobre diabo. Mais nem por isso merece condescendência, a outra face. Fascista merece é porrada. Isso sim.
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Américo Abreu é jornalista e professor da Uespi - nas redes sociais.
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