Eu não participo de uma sociedade, como repórter posso sobreviver como pária e isso me deixa bastante satisfeito, nada mais me aborrece, sejam palavras e imagens.
Mas fiquei tocado negativamente por um movimento de uma elite de poder e elite intelectual fazendo movimento contra a oferta de aulas durante aos sábados nas escolas particulares.
Primeiro, esse movimento eclodiu um pouco antes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar que é o Maranhão, que tem o menor Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país, um título que o Piauí ostentava envergonhado por décadas.
Segundo, o movimento vai de encontra as garantias individuais e de liberdades dos indivíduos porque as escolas particulares podem ensinar os alunos que os pais matricularam de acordo com seus conceitos desde que estejam obedecendo a Constituição, a Lei de Diretrizes da Educação e outras legislações sobre educação. O pai que não gosta daquela forma de educar não é obrigado a matricular seus filhos naquela escola e a legislação não impede que uma escola ofereça aulas aos sábados.
Acompanho, como repórter, o êxito coletivo e de alguns estudantes piauienses conquistando vagas no ITA, publicando artigos científicos nas revistas especializadas nos Estados Unidos e Canadá, ganhando medalhas de ouro nas Olimpíadas de Matemática, chegando aos cargos de desembargador do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, fazendo Mestrado na Oxford, advogando para presidente da República em perigo. Todos estudaram exaustivamente.
Como na China, Japão e Coreia, o Brasil vem, mesmo contra o atual governo, associando educação ao desenvolvimento, educação ao avanço tecnológico, a educação é importante mesmo quando o desenvolvimento está ligado à criatividade e ao acesso às forma de fazer. A educação no Piauí está sendo reforçada para a recuperação do tempo perdido.
Não se chega a lugar nenhum sem muito esforço, como alguns novos pais piauienses estão propagando contra as aulas aos sábados.
Mas o que deve ter me irritado é que eu li um livro chamado “Sociedade do Cansaço”, de Byung-Chul Han, em que ele fala que vivemos em uma sociedade do desempenho.
Segundo ele, vivemos em uma sociedade que se afasta cada vez mais do esquema imunológico do dentro/fora, do inimigo, da disciplina.
O problema deixou de ser o outro, para tornar-se produção do mesmo.
Para Byung-Chul Han, o cansaço será o resultado de uma vida para trabalhar, um estágio posterior ao adestramento do corpo e da captura do desejo.
Acredito que os pais que estão fazendo campanha contra as aulas aos sábados não percebem que seus filhos vivem no século XXI e para atender as demandas, não mais externas, mas internas, têm que ter cargas horárias de estudos intensivas porque as necessidades da contemplação, do desfrutar da arte e do que a cultura produziu já estão integradas a essa formação, através de mensagens das redes sociais, séries de TV, sons, canções, games, vídeos e literatura na primeira pessoa. Ser feliz demais e triste demais, está dentro do pacote.
Acredito que os pais contra as aulas aos sábados tenham sido formados nas universidades, quando ainda era forte a influência de pensadores como Michel Foucault e Giles Deleuze, quando se vivia em sociedade da disciplina, controle e crise, na sociedade do vigiar e punir e não perceberam que vivemos em uma sociedade do desempenho.
É estranho que os defensores do fim das aulas aos sábados são bem sucedidos porque estudaram muito.
Devem estar fazendo como fez o personagem de Oscar Wilde, Dorian Gray, escondendo seus retratos e espelhos nos porões para que seus filhos não vejam.
As pessoas viveriam melhor se não fossem cristãs, no sentido de que não carregassem esperanças e utopias, porque viveriam felizes junto com as coisas como elas são e não como deveriam ser. Essas utopias e inconformidades com o presente acabam com os seres humanos.
Relaxem, vivemos na era da depressão, do TDAH, da hiperatividade, do Burnout e essa realidade não existe por causa das aulas aos sábados.
A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais “sujeitos de obediência”, mas sujeitos de desempenho e produção. São empresários de si mesmos, descreve Byung-Chul Han.
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Efrém Ribeiro é jornalista e filósofo - nas redes sociais.
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