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VC no Acesse

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acessepiaui@hotmail.com

22/12/2017 - 09h37

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22/12/2017 - 09h37

O Natal e as zonas sombrias da nossa alma

Natal é redescobrir, entre sorrisos, afetos e lágrimas, que somos o que almejamos.

 

Desde pequenino, o que mais me toca nesse período do Natal é a armação do presépio: nas casas, nas igrejas, nas praças públicas. A cena bíblica, recriada por Francisco de Assis no século XIII, comove por conter elementos que nos constituem: a terra, o abrigo precário – curral ou gruta –, os animais (nossos parentes). Um homem, uma mulher; os magos, mais que reis, que chegam do Oriente. A estrela da noite e d´alva, do amanhecer: luz! E um anjo anunciando a utopia de um Deus Menino que é sinal de “paz na Terra às pessoas de boa vontade”.

Desde pequeno, sempre me intrigou o berço, o cocho, a manjedoura vazia. Falta a criança! Com o tempo, fui aprendendo que aquela ausência também nos constitui. Somos carência, somos espera. Há zonas sombrias na nossa alma. Desconfio que muitos ficam tristes no Natal porque somos a nostalgia do que já recebemos e perdemos: ilusões infantis, entes queridos, amores, até mesmo conquistas profissionais. Somos nossas saudades. Somos também a dor do que aqui e agora nos machuca e faz sofrer.

Natal é redescobrir, entre sorrisos, afetos e lágrimas, que somos o que almejamos. Acresce-nos o que nos falta. Habita-nos o desejo do que ainda não chegou ou nunca chegará: parcerias fiéis, paixões imorredouras, reconhecimento, saúde perene, superação das injustiças e misérias do cotidiano.

Para o que não tem solução, para os nós que não conseguimos desatar, armemos um presépio dentro de nós: com o que nos alegra, acalma e nutre, da gramínea que alimenta a ovelhinha aos corpos estelares que nos convocam ao Infinito. Dos portadores da magia que recria o mundo igualitário e fraterno ao casal sem teto, sem terra. Um José e uma Maria, despojados como os migrantes de hoje, como os desvalidos de sempre, mas, ao mesmo tempo, com tudo: o fruto mais bendito do ventre do seu e nosso amor.

Natal é a alegria da presença dos que amamos. É também o soluço escondido pelas perdas irreversíveis – tragédias, derrotas, incompreensões, frustrações, declínio físico, indiferença – que tanto queremos afastar do nosso presépio imaginário.

Quero lhe convidar para suprir, então, o que falta na cena e na ceia, antes e depois da passagem do 24 para o 25 de dezembro. Traga em suas mãos a vela que aquece e o Cristo bebê, para acomodá-lo no berço de palha. Aquele a quem Fernando Pessoa tinha certeza de ser o Menino Jesus verdadeiro, pois “mora comigo na minha casa a meio do outeiro. Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava. O humano que é natural, o divino que brinca e sorri”.

Essa Criança há de seguir morando dentro de nós e nos animando, como é próprio dos miúdos que chegam. Até nas inevitáveis horas mais frias das noites vazias. Que esta seja de luz. Acenda-a dentro de você. Noite feliz: afinal, nascemos para renascer.

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Chico Alencar - Formado na Juventude Estudantil Católica, participou ativamente do movimento comunitário do Rio de Janeiro nos anos 80. Professor de Prática do Ensino de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é autor de 25 livros. Foi vereador e deputado estadual pelo PT. Está em seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados (Psol-RJ). Reproduzido do site Congressoemfoco. 

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