Passando, nesse sábado, 03/02, em algumas ruas de Teresina, me chamou atenção o número de outdoor destacando imagens de jovens estudantes aprovados em Medicina; comentei com o Alexis que numa sociedade de pessoas adoecidas e vivendo para adoecer faz sentido situar a medicina como a melhor e mais importante das profissões, em detrimento de outras.
No entanto, parece que a explicação não esbarra aí, pois é também na medicina que, aparentemente, mais se pode ganhar dinheiro. Até aí ainda posso compreender, pois reconhecimento financeiro não é algo indesejável; o problema é quando determinada atividade profissional suplanta outras como fenômeno natural. Não nos incomodam as desigualdades salariais entre profissionais com o mesmo nível de ensino? Como nos sentimos convivendo ao lado de pessoas que sustentam família com menos de um salário mínimo? A saída seria encaminhar todos(as) para estudar medicina? Muitos pais até tentam, mas esbarram nos custos.
Mas, afinal, haverá, a longo prazo, colocação para todos? Além disso, quem ensinará os filhos e filhas e dos médicos? Quem assumirá serviços que o atual estágio civilizatórios tornou indispensáveis, como por exemplo recolher e processar as montanhas de lixo, cuidar do trânsito, conduzir processos judiciais, ler, interpretar e projetar cenários sociais, econômicos, espaços geográficos, arquitetônicos, paisagísticos, trabalhar com as espécies vegetais e minerais, dentre tantas outras atividades? Também não se trata de reivindicar anúncios de aprovações em Pedagogia, em História, Sociologia, Psicologia e outras “ogias”.
Trata-se de desejar, primeiro, que o ingresso no ensino superior, seja o que é: um passo a mais na vida escolar de pessoas que desejam ou são levadas à seguir estudando. Trata-se de querer que os jovens tenham a oportunidade de escolher a formação que lhe traga maior satisfação pessoal e profissional, sabendo que por serem jovens podem dispor de um tempo para descobrir, lutar, conquistar. Trata-se de poder contar com um horizonte mais largo para a colocação dos egressos do Ensino Superior no mundo do trabalho, compreendendo trabalho como principio para a humanização.
Sinceramente, quando vou ao médico, procuro sempre profissionais competentes, mas, infelizmente, as competência nas especialidades médicas raramente tem coincidido com a competência humana, alguns, bem jovens, parecem não serem terrestres, incapazes de ouvir uma histórica, de pronunciar um gesto informal, acho que alguns precisam de curas mais complexas que os “pacientes”.
Pois bem, tenho uma boa notícia: a Pétala, minha filha, cursará Biblioteconomia, na UESPI, me preocupa o que lhe restará de emprego, de salário, bem estar; mas tenho razões para continuar na luta e como já tenho a companhia dela, agora melhor ainda. Finalmente quero dizer que me alegra ter uma filha que encontra sentido em cuidar dos livros, de arquivos, de históricas, de palavras dadas. Feliz!! E que não nos faltem os médicos, nem suas companhias!
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Lucineide Barros de Medeiros é professora doutora da Uespi.
No entanto, parece que a explicação não esbarra aí, pois é também na medicina que, aparentemente, mais se pode ganhar dinheiro. Até aí ainda posso compreender, pois reconhecimento financeiro não é algo indesejável; o problema é quando determinada atividade profissional suplanta outras como fenômeno natural. Não nos incomodam as desigualdades salariais entre profissionais com o mesmo nível de ensino? Como nos sentimos convivendo ao lado de pessoas que sustentam família com menos de um salário mínimo? A saída seria encaminhar todos(as) para estudar medicina? Muitos pais até tentam, mas esbarram nos custos.
Mas, afinal, haverá, a longo prazo, colocação para todos? Além disso, quem ensinará os filhos e filhas e dos médicos? Quem assumirá serviços que o atual estágio civilizatórios tornou indispensáveis, como por exemplo recolher e processar as montanhas de lixo, cuidar do trânsito, conduzir processos judiciais, ler, interpretar e projetar cenários sociais, econômicos, espaços geográficos, arquitetônicos, paisagísticos, trabalhar com as espécies vegetais e minerais, dentre tantas outras atividades? Também não se trata de reivindicar anúncios de aprovações em Pedagogia, em História, Sociologia, Psicologia e outras “ogias”.
Trata-se de desejar, primeiro, que o ingresso no ensino superior, seja o que é: um passo a mais na vida escolar de pessoas que desejam ou são levadas à seguir estudando. Trata-se de querer que os jovens tenham a oportunidade de escolher a formação que lhe traga maior satisfação pessoal e profissional, sabendo que por serem jovens podem dispor de um tempo para descobrir, lutar, conquistar. Trata-se de poder contar com um horizonte mais largo para a colocação dos egressos do Ensino Superior no mundo do trabalho, compreendendo trabalho como principio para a humanização.
Sinceramente, quando vou ao médico, procuro sempre profissionais competentes, mas, infelizmente, as competência nas especialidades médicas raramente tem coincidido com a competência humana, alguns, bem jovens, parecem não serem terrestres, incapazes de ouvir uma histórica, de pronunciar um gesto informal, acho que alguns precisam de curas mais complexas que os “pacientes”.
Pois bem, tenho uma boa notícia: a Pétala, minha filha, cursará Biblioteconomia, na UESPI, me preocupa o que lhe restará de emprego, de salário, bem estar; mas tenho razões para continuar na luta e como já tenho a companhia dela, agora melhor ainda. Finalmente quero dizer que me alegra ter uma filha que encontra sentido em cuidar dos livros, de arquivos, de históricas, de palavras dadas. Feliz!! E que não nos faltem os médicos, nem suas companhias!
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Lucineide Barros de Medeiros é professora doutora da Uespi.
Divulgação
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