De Luís Fernando Veríssimo, na crônica Rotinas, de 01 de março de 2018, mostrando o "progresso" de uma intervenção do exército contra os favelados do Rio de Janeiro:
- Progredimos. Em 1964, os militares se autoconvocaram para salvar o Brasil do comunismo, do anarco-sindicalismo, do tropicalismo e de outras ameaças à civilização cristã, definidas pelo Departamento de Estado americano e pelo Magalhães Pinto. Governaram o país durante 20 anos, deixando um rastro de arbítrio e sangue — e, reconheçamos, um passável sistema nacional de comunicação. Em 2018, um general foi chamado para pôr ordem na bagunça do Rio, com uma missão definida, num local definido e contra um inimigo definido — que em 64 já existia, só não tinha fuzis de assalto. Ao contrário dos generais de 1964, o general de 2018 não vai se instalar no poder — ou vai, não se sabe, bata na madeira —, e seu mandato, também definido, é de um ano. Se o general de agora tiver sucesso, sua intervenção pode se expandir no espaço e no tempo, para o resto do país e para 20 anos ou mais. De qualquer maneira, o golpe de 1964 e o convite para intervir de 2018 refletem a mesma mania nacional de apelar para os militares como uma espécie de instância final antes do caos. Ou o caos, ou eles. Como se o apelo aos militares não fosse um ingrediente do caos e uma evidência de falência.
Complemento meu:
Exército que permitiu nos anos de chumbo que o tráfico de drogas e armas convivesse pacificamente com a luta contra o comunismo, o ateísmo e todo e qualquer vagabundismo de esquerda. Já pensou se prenderem ou abaterem um chefe de tráfico ateu e comunista? Vai ter passeata da família carregando fuzis benzidos, com o juiz machão Bretas à frente, para sair bem na foto e nos holofotes. Será o dia da reeleição de Temer.
- Progredimos. Em 1964, os militares se autoconvocaram para salvar o Brasil do comunismo, do anarco-sindicalismo, do tropicalismo e de outras ameaças à civilização cristã, definidas pelo Departamento de Estado americano e pelo Magalhães Pinto. Governaram o país durante 20 anos, deixando um rastro de arbítrio e sangue — e, reconheçamos, um passável sistema nacional de comunicação. Em 2018, um general foi chamado para pôr ordem na bagunça do Rio, com uma missão definida, num local definido e contra um inimigo definido — que em 64 já existia, só não tinha fuzis de assalto. Ao contrário dos generais de 1964, o general de 2018 não vai se instalar no poder — ou vai, não se sabe, bata na madeira —, e seu mandato, também definido, é de um ano. Se o general de agora tiver sucesso, sua intervenção pode se expandir no espaço e no tempo, para o resto do país e para 20 anos ou mais. De qualquer maneira, o golpe de 1964 e o convite para intervir de 2018 refletem a mesma mania nacional de apelar para os militares como uma espécie de instância final antes do caos. Ou o caos, ou eles. Como se o apelo aos militares não fosse um ingrediente do caos e uma evidência de falência.
Complemento meu:
Exército que permitiu nos anos de chumbo que o tráfico de drogas e armas convivesse pacificamente com a luta contra o comunismo, o ateísmo e todo e qualquer vagabundismo de esquerda. Já pensou se prenderem ou abaterem um chefe de tráfico ateu e comunista? Vai ter passeata da família carregando fuzis benzidos, com o juiz machão Bretas à frente, para sair bem na foto e nos holofotes. Será o dia da reeleição de Temer.
El País
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