Assisti ao filme "Pantera Negra". Muito bom por diversos aspectos: elenco, efeitos, trilha sonora, e protagonismo negro talvez nunca antes visto na história de Hollywood.
O filme sobre como surgiu o super-herói "Pantera Negra", da Marvel, tem a política como pano de fundo mas, é óbvio, com fortes cenas de ação. A trama apresenta uma questão fundamental: como a fictícia Wakanda (um verdadeiro paraíso negro, altamente desenvolvido em todos os aspectos econômicos, sociais e com potencial bélico invencível) deveria se relacionar com o restante do globo, com nações marcadas por desigualdades, injustiças e conflitos diversos nada fictícios, onde as maiores vítimas são o povo negro?
Se o enredo é essencialmente sobre política, pincelando questões atualíssimas da imigração e da política de dominação imperialista dos "colonizadores", é óbvio que isso provoca uma boa discussão sobre aspectos ideológicos desta obra de ficção.
Ao meu ver, a posição ideológica da obra fundamentalmente nos remete a farsa de defender que a resolução dos problemas da classe trabalhadora (composta por negros e não negros) pode vir por dentro do sistema capitalista. Vende-se a ideia de um "capitalismo humanitário", onde projetos assistencialistas (seja de ONGs ou "centros de assistência" ou pequenas "reformas") seriam a solução. Coisa que infelizmente a grande maioria dos partidos de "esquerda" criminosamente defendem hoje.
Dentro ainda da mesma linha ideológica, os personagens negros "vilões" que contestam com maior firmeza a opressão histórica cometida contra o povo negro são retratados como traidores de Wakanda e como terroristas.
E contraditoriamente, Wakanda, como um país avançadíssimo em tecnologia, cultura e nível de vida, acaba sendo governado por uma monarquia. Neste reino - onde os conflitos entre classes sociais inexistem - a "escolha" de quem ocupa o trono passa por um ritual fratricida irracional de disputa já visto em desenho de animais como o "Rei Leão", da lei do mais forte.
Mas em suma, indico o filme. É uma ótima opção de diversão, com temas políticos atualíssimos, com a ressalva das contradições que apontei acima.
Finalizo com a citação de trecho de crítica muito interessante que li no site da LIT, que também aborda como símbolos da luta negra (Partido dos Panteras Negras, dos EUA) foram retratados:
"Assim, certamente, o filme dos Studios Marvel-Disney responde à pressão vinda das ruas por espaço e protagonismo negro. Entretanto, o faz a partir da perspectiva de classe dos ricos e poderosos, que sempre lucraram com a combinação de exploração e opressão ao povo negro em todo o mundo, isto é, dos mesmos que querem conter o protesto negro em limites seguros à perpetuação de sua dominação de classe. Por fim, esta interpretação não exige que este ou qualquer outro filme sejam veículos de um programa político revolucionário, mas buscamos evidenciar a inversão ideológica presente num uso reacionário de símbolos e ideias revolucionárias, caros à luta por um mundo realmente livre e igualitário".
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Daniel Solon é jornalista e professor da Uespi.
O filme sobre como surgiu o super-herói "Pantera Negra", da Marvel, tem a política como pano de fundo mas, é óbvio, com fortes cenas de ação. A trama apresenta uma questão fundamental: como a fictícia Wakanda (um verdadeiro paraíso negro, altamente desenvolvido em todos os aspectos econômicos, sociais e com potencial bélico invencível) deveria se relacionar com o restante do globo, com nações marcadas por desigualdades, injustiças e conflitos diversos nada fictícios, onde as maiores vítimas são o povo negro?
Se o enredo é essencialmente sobre política, pincelando questões atualíssimas da imigração e da política de dominação imperialista dos "colonizadores", é óbvio que isso provoca uma boa discussão sobre aspectos ideológicos desta obra de ficção.
Ao meu ver, a posição ideológica da obra fundamentalmente nos remete a farsa de defender que a resolução dos problemas da classe trabalhadora (composta por negros e não negros) pode vir por dentro do sistema capitalista. Vende-se a ideia de um "capitalismo humanitário", onde projetos assistencialistas (seja de ONGs ou "centros de assistência" ou pequenas "reformas") seriam a solução. Coisa que infelizmente a grande maioria dos partidos de "esquerda" criminosamente defendem hoje.
Dentro ainda da mesma linha ideológica, os personagens negros "vilões" que contestam com maior firmeza a opressão histórica cometida contra o povo negro são retratados como traidores de Wakanda e como terroristas.
E contraditoriamente, Wakanda, como um país avançadíssimo em tecnologia, cultura e nível de vida, acaba sendo governado por uma monarquia. Neste reino - onde os conflitos entre classes sociais inexistem - a "escolha" de quem ocupa o trono passa por um ritual fratricida irracional de disputa já visto em desenho de animais como o "Rei Leão", da lei do mais forte.
Mas em suma, indico o filme. É uma ótima opção de diversão, com temas políticos atualíssimos, com a ressalva das contradições que apontei acima.
Finalizo com a citação de trecho de crítica muito interessante que li no site da LIT, que também aborda como símbolos da luta negra (Partido dos Panteras Negras, dos EUA) foram retratados:
"Assim, certamente, o filme dos Studios Marvel-Disney responde à pressão vinda das ruas por espaço e protagonismo negro. Entretanto, o faz a partir da perspectiva de classe dos ricos e poderosos, que sempre lucraram com a combinação de exploração e opressão ao povo negro em todo o mundo, isto é, dos mesmos que querem conter o protesto negro em limites seguros à perpetuação de sua dominação de classe. Por fim, esta interpretação não exige que este ou qualquer outro filme sejam veículos de um programa político revolucionário, mas buscamos evidenciar a inversão ideológica presente num uso reacionário de símbolos e ideias revolucionárias, caros à luta por um mundo realmente livre e igualitário".
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Daniel Solon é jornalista e professor da Uespi.
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