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acessepiaui@hotmail.com

11/03/2018 - 17h52

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11/03/2018 - 17h52

Pantera Negra, um filme nunca visto na história de Hollywood

Uma ótima opção de diversão, com temas políticos atualíssimos, com ressalvas das contradições que aponto nessa minha reflexão.

 

Assisti ao filme "Pantera Negra". Muito bom por diversos aspectos: elenco, efeitos, trilha sonora, e protagonismo negro talvez nunca antes visto na história de Hollywood.

O filme sobre como surgiu o super-herói "Pantera Negra", da Marvel, tem a política como pano de fundo mas, é óbvio, com fortes cenas de ação. A trama apresenta uma questão fundamental: como a fictícia Wakanda (um verdadeiro paraíso negro, altamente desenvolvido em todos os aspectos econômicos, sociais e com potencial bélico invencível) deveria se relacionar com o restante do globo, com nações marcadas por desigualdades, injustiças e conflitos diversos nada fictícios, onde as maiores vítimas são o povo negro?

Se o enredo é essencialmente sobre política, pincelando questões atualíssimas da imigração e da política de dominação imperialista dos "colonizadores", é óbvio que isso provoca uma boa discussão sobre aspectos ideológicos desta obra de ficção.

Ao meu ver, a posição ideológica da obra fundamentalmente nos remete a farsa de defender que a resolução dos problemas da classe trabalhadora (composta por negros e não negros) pode vir por dentro do sistema capitalista. Vende-se a ideia de um "capitalismo humanitário", onde projetos assistencialistas (seja de ONGs ou "centros de assistência" ou pequenas "reformas") seriam a solução. Coisa que infelizmente a grande maioria dos partidos de "esquerda" criminosamente defendem hoje.

Dentro ainda da mesma linha ideológica, os personagens negros "vilões" que contestam com maior firmeza a opressão histórica cometida contra o povo negro são retratados como traidores de Wakanda e como terroristas.

E contraditoriamente, Wakanda, como um país avançadíssimo em tecnologia, cultura e nível de vida, acaba sendo governado por uma monarquia. Neste reino - onde os conflitos entre classes sociais inexistem - a "escolha" de quem ocupa o trono passa por um ritual fratricida irracional de disputa já visto em desenho de animais como o "Rei Leão", da lei do mais forte.

Mas em suma, indico o filme. É uma ótima opção de diversão, com temas políticos atualíssimos, com a ressalva das contradições que apontei acima.

Finalizo com a citação de trecho de crítica muito interessante que li no site da LIT, que também aborda como símbolos da luta negra (Partido dos Panteras Negras, dos EUA) foram retratados:

"Assim, certamente, o filme dos Studios Marvel-Disney responde à pressão vinda das ruas por espaço e protagonismo negro. Entretanto, o faz a partir da perspectiva de classe dos ricos e poderosos, que sempre lucraram com a combinação de exploração e opressão ao povo negro em todo o mundo, isto é, dos mesmos que querem conter o protesto negro em limites seguros à perpetuação de sua dominação de classe. Por fim, esta interpretação não exige que este ou qualquer outro filme sejam veículos de um programa político revolucionário, mas buscamos evidenciar a inversão ideológica presente num uso reacionário de símbolos e ideias revolucionárias, caros à luta por um mundo realmente livre e igualitário".

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Daniel Solon é jornalista e professor da Uespi.

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