O que nos surpreende o amor e o uso da língua portuguesa. Quando criança ouvia muito minha mãe abordar-me com a imperiosa ordem: “Te alui menino!”, bradando para que eu saísse de algum torpor ou ócio infantil e fosse fazer algo. Eu entendia o comando, embora não compreendesse exatamente o significado do verbo contido na sentença. Achava engraçado. Depois, passei a pensar tratar-se de corruptela de alguma outra palavra, de alguma marca regional, um solecismo ou expressão mal pronunciada, afinal, minha mãe não teve oportunidade de um completo ensino formal... Um tempo mais tarde, já um jovem estudante de Letras, deparei-me com o verbo “aluir’ ao ler um romance. Para meu espanto vi que minha mãe se utilizava de um vocábulo sofisticado e culto. Fiquei, secretamente, orgulhoso, foi um pequeno acréscimo linguístico ao meu imenso amor por ela.
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Feliciano Bezerra é professor de Letras da Uespi.
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Feliciano Bezerra é professor de Letras da Uespi.
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