No milênio passado, escrevi uma arremedo de poema que se inicia assim: Meu pai me queria lavrador,/semente no adubo do seu chão./Minha mãe me queria doutor,/ de fraque, pincenê anelão... Contrariando os dois ( o título do poema é Desobediência civil), fugi da roça e não me fiz doutor. Tornei-me professor e camelô da boa literatura produzida pelos outros. Nunca me preocupei em construir um currículo: vivi o que me foi dado viver. Jamais dissociei o fazer do viver. Vivo fazendo.

Ontem à tarde (segunda, 20/08), atendo a uma ligação da Vice-Reitora da Universidade Federal do Piauí, professora doutora Nadir Nogueira. Ligou-me para comunicar que, por unanimidade, o Conselho Universitário da UFPI, decidiu homenagear-me com o título de professor honoris causa da UFPI, instituição na qual nunca lecionei. Por preguiça, incompetência e falta de tempo, não fiz uma carreira acadêmica. Fiz coisas, muitas outras coisas...

É muito gratificante, ao adentrar o portal da senescência, receber uma homenagem cuja proposição partiu de uma ex-aluna, a doutora Nadir. O sonho de qualquer professor que se preze é ver aqueles que orientou brilharem. Em paz comigo e com os comigos de mim, como diria Pessoa, só tenho a agradecer a generosidade do gesto. Por esta e outras, continuo professor.

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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.