Nada melhor do que a pesquisa do mesmo Datafolha divulgada na última quarta-feira, 02/10, sobre os sentimentos que dominam a população brasileira nesse momento que antecede as eleições.
Quando pensam no Brasil de hoje o que as pessoas sentem?, perguntou a pesquisa publicada pelo jornal, bem resumida neste título: “Para maioria, pensar no país gera tristeza”.
A grande maioria respondeu que sente raiva (68%), desânimo (78%), tristeza (79%) e insegurança (88%).
Eu também sinto tudo isso há bastante tempo, como vocês sabem. Faço parte desta maioria.
Mais do que qualquer analista político, só psiquiatras e psicólogos poderiam explicar as duas pesquisas, uma complementando a outra, a apenas 4 dias da eleição.
Meu palpite é que o tresloucado capitão reformado do Exército soube catalizar melhor do que ninguém estes sentimentos negativos da população e os amplificou no seu discurso de ódio contra o petismo, os direitos humanos, as minorias e a própria democracia.
O que não consigo entender é como ele conseguiu este avanço nas pesquisas, depois das gigantescas manifestações contra a sua candidatura, promovidas pelas mulheres do #EleNão no fim de semana.
E mais incrível e inexplicável ainda foi Bolsonaro crescer de 21% para 28% no eleitorado feminino, exatamente neste período, de uma semana para outra, depois de um longo período estacionado nas pesquisas enquanto estava no hospital se recuperando do atentado.
Com isso, virou um candidato fantasma, que não precisava se expor nos debates, sabatinas e entrevistas. Era o próprio “Mito”, como o chamam seus seguidores.
Acho que esse fenômeno nem Freud conseguiria explicar, mas é o que temos. É assim o país em que vivemos.
Talvez uma pista para entender o comportamento irracional de uma população revoltada, triste, desanimada e insegura, já beirando o desespero, seja a vontade de jogar tudo para o alto e botar logo fogo no circo para ver como fica.
Num dos comentários publicados pelos leitores deste Balaio sobre as novas pesquisas, o engenheiro Everaldo Alencar, de Goiás, citou como possível explicação as fotos fake news dos bolsonaristas, que inundaram as redes sociais nos últimos dias, em que transformaram o protesto das mulheres em “movimento das vadias”.
Esta ofensiva coincide com o apoio declarado a Bolsonaro pelas maiores igrejas evangélicas neo pentecostais, Edir Macedo à frente, que pensam como ele.
Além da bandeira antipetista que o capitão empunhou em suas viagens pelo país, antes do atentado, ele centrou sua campanha no combate ao “politicamente correto” dos movimentos identitários que defendem os direitos das minorias, como Trump fez com Hillary, na eleição americana.
Dessa forma, Bolsonaro conseguiu unir em torno da sua candidatura os interesses mais reacionários do país, das bancadas do boi, da bíblia e da bala, levando de cambulhada o mercado financeiro, tendo como inimigo comum a ser exterminado o PT e os “vermelhos” em geral, assim como aquele tal de Adolfo tinha os judeus .
Acho que isso explica também o aumento da rejeição a Haddad nesta reta final de uma campanha eleitoral absolutamente anômala, decidida nos tribunais partidarizados, manipulada na terra sem lei das redes sociais e de potentados da mídia, em que os principais problemas de um país em crise não foram sequer arranhados.
Inabalável na sua plataforma teflon, em que nada parece abalar o apoio dos seus fanáticos seguidores, se amanhã o capitão resolver apresentar um projeto para revogar a Lei Áurea, que é o que ainda falta, não vai perder nenhum voto e é capaz de conquistar mais alguns.
Com a esquerda dividida e os “centristas” perdidos em seu labirinto, o que parecia insano está acontecendo, com Jair Bolsonaro caminhando célere para o segundo turno e levando ampla vantagem no primeiro.
Diante da maré a seu favor que se criou, já não é impossível que a eleição seja decidida na primeira rodada.
Se houver segundo turno, Bolsonaro (44%) e Haddad (42%) estão empatados tecnicamente, tanto na intenção de votos como na rejeição (45% contra 41%).
Nada mais tendo a declarar, encerro por aqui.
E seja o que Deus quiser.
Vida que segue.
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Ricardo Kotscho é jornalista - no Balaio do Kotscho.
Quando pensam no Brasil de hoje o que as pessoas sentem?, perguntou a pesquisa publicada pelo jornal, bem resumida neste título: “Para maioria, pensar no país gera tristeza”.
A grande maioria respondeu que sente raiva (68%), desânimo (78%), tristeza (79%) e insegurança (88%).
Eu também sinto tudo isso há bastante tempo, como vocês sabem. Faço parte desta maioria.
Mais do que qualquer analista político, só psiquiatras e psicólogos poderiam explicar as duas pesquisas, uma complementando a outra, a apenas 4 dias da eleição.
Meu palpite é que o tresloucado capitão reformado do Exército soube catalizar melhor do que ninguém estes sentimentos negativos da população e os amplificou no seu discurso de ódio contra o petismo, os direitos humanos, as minorias e a própria democracia.
O que não consigo entender é como ele conseguiu este avanço nas pesquisas, depois das gigantescas manifestações contra a sua candidatura, promovidas pelas mulheres do #EleNão no fim de semana.
E mais incrível e inexplicável ainda foi Bolsonaro crescer de 21% para 28% no eleitorado feminino, exatamente neste período, de uma semana para outra, depois de um longo período estacionado nas pesquisas enquanto estava no hospital se recuperando do atentado.
Com isso, virou um candidato fantasma, que não precisava se expor nos debates, sabatinas e entrevistas. Era o próprio “Mito”, como o chamam seus seguidores.
Acho que esse fenômeno nem Freud conseguiria explicar, mas é o que temos. É assim o país em que vivemos.
Talvez uma pista para entender o comportamento irracional de uma população revoltada, triste, desanimada e insegura, já beirando o desespero, seja a vontade de jogar tudo para o alto e botar logo fogo no circo para ver como fica.
Num dos comentários publicados pelos leitores deste Balaio sobre as novas pesquisas, o engenheiro Everaldo Alencar, de Goiás, citou como possível explicação as fotos fake news dos bolsonaristas, que inundaram as redes sociais nos últimos dias, em que transformaram o protesto das mulheres em “movimento das vadias”.
Esta ofensiva coincide com o apoio declarado a Bolsonaro pelas maiores igrejas evangélicas neo pentecostais, Edir Macedo à frente, que pensam como ele.
Além da bandeira antipetista que o capitão empunhou em suas viagens pelo país, antes do atentado, ele centrou sua campanha no combate ao “politicamente correto” dos movimentos identitários que defendem os direitos das minorias, como Trump fez com Hillary, na eleição americana.
Dessa forma, Bolsonaro conseguiu unir em torno da sua candidatura os interesses mais reacionários do país, das bancadas do boi, da bíblia e da bala, levando de cambulhada o mercado financeiro, tendo como inimigo comum a ser exterminado o PT e os “vermelhos” em geral, assim como aquele tal de Adolfo tinha os judeus .
Acho que isso explica também o aumento da rejeição a Haddad nesta reta final de uma campanha eleitoral absolutamente anômala, decidida nos tribunais partidarizados, manipulada na terra sem lei das redes sociais e de potentados da mídia, em que os principais problemas de um país em crise não foram sequer arranhados.
Inabalável na sua plataforma teflon, em que nada parece abalar o apoio dos seus fanáticos seguidores, se amanhã o capitão resolver apresentar um projeto para revogar a Lei Áurea, que é o que ainda falta, não vai perder nenhum voto e é capaz de conquistar mais alguns.
Com a esquerda dividida e os “centristas” perdidos em seu labirinto, o que parecia insano está acontecendo, com Jair Bolsonaro caminhando célere para o segundo turno e levando ampla vantagem no primeiro.
Diante da maré a seu favor que se criou, já não é impossível que a eleição seja decidida na primeira rodada.
Se houver segundo turno, Bolsonaro (44%) e Haddad (42%) estão empatados tecnicamente, tanto na intenção de votos como na rejeição (45% contra 41%).
Nada mais tendo a declarar, encerro por aqui.
E seja o que Deus quiser.
Vida que segue.
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Ricardo Kotscho é jornalista - no Balaio do Kotscho.
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