Os pesquisadores do futuro borrarão seus textos com palavrões.
No movimento militar que proclamou a República, eram corriqueiras expressões agressivas tipo “canalhocracia jurídica”, “pedantocracia fardada”... Ao longo da história republicana, a criatividade na linguagem foi bem exercitada.
Agora, a coisa complicou. Depois de agredir o general Mourão, Olavo de Carvalho chamou um ícone da operacionalidade do Exército, o general Santos Cruz, de “bosta engomada”. Imagine-se o impacto nas fileiras diante desta ofensa à farda!
A temperatura subiu. O general Villas Bôas, que não costuma falar sozinho nem de graça, jogou Bolsonaro nas cordas designando o guru presidencial como “Trotski de direita” que viveria num “vazio existencial”.
O valente guru retrucou, resguardado por milhares quilômetros de distância: “A quem me chama de desocupado não posso nem responder que desocupado é o cu dele, já que não para de cagar o dia inteiro”.
Ao viabilizar a eleição de Bolsonaro, Villas Bôas, tido como a grande autoridade moral das Forças Armadas, sabia das dificuldades de enquadrar o capitão reformado. Bolsonaro ganhou apoio dos militares porque não havia outra alternativa para infringir derrota eleitoral ao PT. Na crença dos fardados, a esquerda estaria afundando o Brasil. Era preciso salvar a pátria! A saída era voltar ao mando através do voto. Bolsonaro seria enquadrado, disse-me um general antes das eleições.
Certamente, os comandantes não contavam com a atuação dessa figura exótica do astrólogo boca suja. Conheciam as idéias de Olavo. Gostavam de suas tiradas reacionárias, de seu arrebatamento anti-comunista, de seu entreguismo despudorado. Foram pródigos em honrarias ao insigne ultra-direitista. Olavo foi recebido com pompas nas escolas de altos estudos militares, Ganhou medalhas.
Os comandantes não tinham noção de até onde o ideólogo on-line chegaria em presunção e capacidade de ofender a honra.
O astrólogo pode ser lunático e gabola desmedido, mas não é abestalhado. Seus palavrões não são gratuitos nem meros recursos estilísticos de gosto desprezível. Sabe que os militares levam a sério tais ofensas. Agrediu as corporações, tentou enxovalhar suas grandes referências ciente de que haverá troco.
Que troco espera Olavo? Qual o seu objetivo esticando a corda desse jeito?
Olavo aparenta não confiar na implementação da agenda do neoliberalismo selvagem. Parece apostar na confusão, não na articulação capaz de garantir a efetivação das maldades.
Talvez tenha percebido que o presidente eleito esteja com os dias contados e queira precipitar os acontecimentos... Sonha com o aprofundamento da crise institucional de sorte a favorecer um regime de força bruta?
Quem sabe pretenda simplesmente badalar seu próprio nome para melhor faturar no seu negócio de estranhos cursos à distância?! O sujeito é um craque na auto-propaganda!
Seja como for, os palavrões de Olavo alimentam meus piores pressentimentos...
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Manuel Domingos Neto é historiador e professor universitário e ex-deputado federal (PCdoB-PI).
No movimento militar que proclamou a República, eram corriqueiras expressões agressivas tipo “canalhocracia jurídica”, “pedantocracia fardada”... Ao longo da história republicana, a criatividade na linguagem foi bem exercitada.
Agora, a coisa complicou. Depois de agredir o general Mourão, Olavo de Carvalho chamou um ícone da operacionalidade do Exército, o general Santos Cruz, de “bosta engomada”. Imagine-se o impacto nas fileiras diante desta ofensa à farda!
A temperatura subiu. O general Villas Bôas, que não costuma falar sozinho nem de graça, jogou Bolsonaro nas cordas designando o guru presidencial como “Trotski de direita” que viveria num “vazio existencial”.
O valente guru retrucou, resguardado por milhares quilômetros de distância: “A quem me chama de desocupado não posso nem responder que desocupado é o cu dele, já que não para de cagar o dia inteiro”.
Ao viabilizar a eleição de Bolsonaro, Villas Bôas, tido como a grande autoridade moral das Forças Armadas, sabia das dificuldades de enquadrar o capitão reformado. Bolsonaro ganhou apoio dos militares porque não havia outra alternativa para infringir derrota eleitoral ao PT. Na crença dos fardados, a esquerda estaria afundando o Brasil. Era preciso salvar a pátria! A saída era voltar ao mando através do voto. Bolsonaro seria enquadrado, disse-me um general antes das eleições.
Certamente, os comandantes não contavam com a atuação dessa figura exótica do astrólogo boca suja. Conheciam as idéias de Olavo. Gostavam de suas tiradas reacionárias, de seu arrebatamento anti-comunista, de seu entreguismo despudorado. Foram pródigos em honrarias ao insigne ultra-direitista. Olavo foi recebido com pompas nas escolas de altos estudos militares, Ganhou medalhas.
Os comandantes não tinham noção de até onde o ideólogo on-line chegaria em presunção e capacidade de ofender a honra.
O astrólogo pode ser lunático e gabola desmedido, mas não é abestalhado. Seus palavrões não são gratuitos nem meros recursos estilísticos de gosto desprezível. Sabe que os militares levam a sério tais ofensas. Agrediu as corporações, tentou enxovalhar suas grandes referências ciente de que haverá troco.
Que troco espera Olavo? Qual o seu objetivo esticando a corda desse jeito?
Olavo aparenta não confiar na implementação da agenda do neoliberalismo selvagem. Parece apostar na confusão, não na articulação capaz de garantir a efetivação das maldades.
Talvez tenha percebido que o presidente eleito esteja com os dias contados e queira precipitar os acontecimentos... Sonha com o aprofundamento da crise institucional de sorte a favorecer um regime de força bruta?
Quem sabe pretenda simplesmente badalar seu próprio nome para melhor faturar no seu negócio de estranhos cursos à distância?! O sujeito é um craque na auto-propaganda!
Seja como for, os palavrões de Olavo alimentam meus piores pressentimentos...
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Manuel Domingos Neto é historiador e professor universitário e ex-deputado federal (PCdoB-PI).
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