No sertão onde nasci, os médicos estavam tão próximos de nós quanto o Sete-Estrelo. As doenças eram poucas e os remédios baratos. Curava-se quase tudo com mezinhas, rezas brabas e cipó de fedegoso...

Só entrei num consultório médico aos 17 anos de idade, em Teresina. Um resfriado renitente. O médico, fiquei sabendo muito tempo depois, era um ginecologista. Passou um xarope qualquer e me mandou morrer em casa. Escapei.

Como não me sobrava tempo para adoecer, eu trabalhava. Para mim, o trabalho sempre foi a melhor diversão. Milhares de aulas, centenas de conferências, eventos de todo tipo e um enorme tesão pela vida.

Agora, a velhice me manda a fatura!

Cheguei a ministrar doze aulas por dia. A garganta nunca falhou.Nunca fiquei rouco ou perdi a voz. Eis que, de repente, estou com voz de galo com gogo.

O médico, além de repouso vocal e muita água, me mandou fazer sessões de fono como uma mocinha, que insiste em me chamar de "seu Cineas". Eis-me aqui fazendo estágio pra virar besouro: zizizizi - shiiiiiiiiiiiiii - bruuuuuuuu... Convenhamos que é patético, para dizer o mínimo.

Irmãos e irmãzinhas, não acreditem nessa merdalhada de melhor idade. Eu vos asseguro: envelhecer dói!

********
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.