Das bandas dos Sertões de Dentro, chega-me a cobrança, suave, mas incisiva: “Estou aguardando”. Tremi nos tamancos: já não tenho idade para prometer nada, menos ainda a uma mulher... Respirei aliviado quando a amiga me disse que esperava apenas uma croniquinha sobre o Dia da Mulher. Ufa!
Por amor à verdade, devo confessar: não tenho maior apreço pelas datas inventadas pelo capitalismo para vender perfumes, sapatos, brinquedos e todos esses “inutencílios” que, ao perderem o encantam, transformam-se em entulho...
Mas como deixar uma mulher esperando? Uma indelicadeza imperdoável. Então, vou engendrar uma bestagem.
Um dia, o Criador, cansado de tanta solidão, resolveu criar algo muito especial. Pegou uma flor, esfregou-a entre os dedos, soprou e, para sua surpresa, ouviu o grito: “Pare com isso! Você está assanhando o meu cabelo!”. Era a primeira, na sua longuíssima vida, que alguém lhe dava uma ordem. Ficou assustado. E num átimo, choveram ordens (“Nada de chuva hoje!”); pedidos ( “ Por favor, ponha mais azul no arco-íris”); queixas (“ Dá pra desligar o sol por um instante?”); súplicas, ( “Senhor, dá-me paciência pra suportar tamanha solidão...”). Só então, o Criador percebeu que acabara de criar a Mulher. Experimentou uma sensação estranha: misto de fascínio e temor... Incontinente, pegou um tico de lama, amassou com asco, fez um boneco desengonçado, soprou nas suas narinas e gritou: “Vai, que é tua, otário!!!”. E assim se fez o homem, um ser que pensa com duas cabeças, bebe cerveja com sede de camelo, urra como um urso faminto quando seu time faz um gol, urina na tampa do sanitário, nunca se lembra de apagar a luz, deixa a roupa suja sobre a cama, nunca encontra os óculos, o relógio, o juízo... O Criador olhou e viu que estava bom.
Mulheres por quem vivo, padeço e morro, isso pode não parecer, mas é a minha mais sincera homenagem. Sem vocês, eu me mataria três vezes por dia.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Por amor à verdade, devo confessar: não tenho maior apreço pelas datas inventadas pelo capitalismo para vender perfumes, sapatos, brinquedos e todos esses “inutencílios” que, ao perderem o encantam, transformam-se em entulho...
Mas como deixar uma mulher esperando? Uma indelicadeza imperdoável. Então, vou engendrar uma bestagem.
Um dia, o Criador, cansado de tanta solidão, resolveu criar algo muito especial. Pegou uma flor, esfregou-a entre os dedos, soprou e, para sua surpresa, ouviu o grito: “Pare com isso! Você está assanhando o meu cabelo!”. Era a primeira, na sua longuíssima vida, que alguém lhe dava uma ordem. Ficou assustado. E num átimo, choveram ordens (“Nada de chuva hoje!”); pedidos ( “ Por favor, ponha mais azul no arco-íris”); queixas (“ Dá pra desligar o sol por um instante?”); súplicas, ( “Senhor, dá-me paciência pra suportar tamanha solidão...”). Só então, o Criador percebeu que acabara de criar a Mulher. Experimentou uma sensação estranha: misto de fascínio e temor... Incontinente, pegou um tico de lama, amassou com asco, fez um boneco desengonçado, soprou nas suas narinas e gritou: “Vai, que é tua, otário!!!”. E assim se fez o homem, um ser que pensa com duas cabeças, bebe cerveja com sede de camelo, urra como um urso faminto quando seu time faz um gol, urina na tampa do sanitário, nunca se lembra de apagar a luz, deixa a roupa suja sobre a cama, nunca encontra os óculos, o relógio, o juízo... O Criador olhou e viu que estava bom.
Mulheres por quem vivo, padeço e morro, isso pode não parecer, mas é a minha mais sincera homenagem. Sem vocês, eu me mataria três vezes por dia.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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