Início de tarde. Sem se fazer anunciar, o diretor do Ginásio Dom Inocêncio adentrou a nossa sala. Era um espanhol alto, magro, meio calvo, com nariz de Raul Cortez. O Padre Carlos era um homem cordial. Lecionava matemática, mas gostara mesmo era de história. Estava lívido. Preparamo-nos para o pior: alguém teria feito uma traquinagem maiúscula, e todos sofreríamos as consequências. O padre, respirou fundo e começou a rezar o Padre Nosso, acompanhado por nós. Finda a oração, declarou comovido: “Meninos e meninas, agradeçamos a Deus: o país está salvo das garras do comunismo. Estão dispensados”.

Como a ignorância é a mãe da felicidade, nada melhor que uma tarde de folga. Num átimo, alguém descolou uma bola de futebol e improvisamos uma disputada pelada, com a recomendação de praxe: “do pescoço pra baixo, tudo é canela”. Não me lembro se ganhei ou se perdi. Muito tempo depois, descobri que, na verdade, perdemos todos...

Por oportuno, a recomendação do poeta Mário de Andrade: “O passado é lição para refletir e não para repetir”.

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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.