Meu pequeno vira-lata é um caso para estudo: tem vocação teatral. É capaz de passar parte do dia dormindo como um gato de pensão. Mas, basta me ver, empreende tenaz caçada a todos os semoventes (notadamente os imaginados) do quintal. É o seu jeito de me dizer que trabalha. Finjo que acredito e vamos avançando.
Bem, dia desses, levei-o a uma veterinária amiga, uma cidadã que ama o que faz. Perguntei-lhe que tipo de repelente deveria pôr no meu cachorro para evitar os parasitas. Sem titubear, respondeu: "Sabonete Phebo". Julguei ter ouvido mal. Perguntei: sabonete de sebo? Com um sorriso largo, reafirmou: "Sabonete Phebo. É o melhor repelente".
Saí do consultório - como direi? - desapontado. Sou de um tempo em que sabonete Phebo era um luxo acessível a poucos. Lembro-me dos sacrifícios que fiz para comprar o primeiro. Eu só usava nos dias especiais. Depois, embalava novamente e voltava ao sabão de coco...
No sertão, cachorro não entrava na contagem: comia sobras (quando havia) e vivia ao relento. Hoje, os cães têm direito a tosa, acupuntura e, nalguns casos, até a psicólogos. Eles merecem.
Mas, por amor à verdade, ainda não tive coragem de macular a imagem do Phebo como meu vira-lata amado. Decididamente, sou um homem, digo, um velho do século dezenove...
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Bem, dia desses, levei-o a uma veterinária amiga, uma cidadã que ama o que faz. Perguntei-lhe que tipo de repelente deveria pôr no meu cachorro para evitar os parasitas. Sem titubear, respondeu: "Sabonete Phebo". Julguei ter ouvido mal. Perguntei: sabonete de sebo? Com um sorriso largo, reafirmou: "Sabonete Phebo. É o melhor repelente".
Saí do consultório - como direi? - desapontado. Sou de um tempo em que sabonete Phebo era um luxo acessível a poucos. Lembro-me dos sacrifícios que fiz para comprar o primeiro. Eu só usava nos dias especiais. Depois, embalava novamente e voltava ao sabão de coco...
No sertão, cachorro não entrava na contagem: comia sobras (quando havia) e vivia ao relento. Hoje, os cães têm direito a tosa, acupuntura e, nalguns casos, até a psicólogos. Eles merecem.
Mas, por amor à verdade, ainda não tive coragem de macular a imagem do Phebo como meu vira-lata amado. Decididamente, sou um homem, digo, um velho do século dezenove...
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