Durante muito tempo, acreditou-se que a palavra saudade fosse uma espécie de idiomatismo da língua portuguesa, ou seja, uma palavra que só existe em nossa língua. Hoje, a tese já não encontra muitos defensores. De uma forma ou de outra, a palavra está sempre muito viva no idioma pátrio. Um crítico mordaz chegou a afirmar que, sem saudade e sem estelas, a lírica luso-brasileira estaria comprometida.
O poeta Da Costa e Silva, por exemplo, escreveu: “Saudade! És a ressonância/de uma cantiga sentida,/que, embalando a nossa infância,/ nos segue por todo a vida!” Estranho: nele a saudade é um sentimento permanente...
É curioso como sentimos saudades de coisas ou situações banais. Numa croniquinnha lírica, Manuel Bandeira escreveu: “Juanite, em sua última carta escrita em Haia, afirma: mas que saudades de chuchu com molho branco”. O poeta admira-se de a amiga, podendo comer pratos sofisticados, lembrar-se de um prosaico chuchu com molho branco... O cartunista Henfil, dos Estados Unidos, pede, desesperado, aos amigos que lhe mandem Pastilhas Valda. Estava morrendo de saudades...
Por amor à verdade, não sou o que se possa chamar de um saudosista. Mas hoje acordei com saudades de “cambraria”. Alguns estranharão a insólita saudade. Cambraia, como se sabe, é um tecido fino, delicado, nobre. A “cambraia” que me acendeu a saudade é apenas um beijuzinho delicado, muito fino e crocante. Nenhum mistério: faz-se o beiju bem fino, deixa-o ficar durinho e, depois, basta pô-lo ao sol por alguns minutos... O efeito da luz solar confere-lhe um sabor indescritível... Fiquei feliz ao saber que, em Petrolina (PE), a “cambraia” é patrimônio cultural do município.
Talvez, em mim, a saudade se explique, não só pelo sabor da iguaria, mas por razões de ordem afetiva. Explico: quando eu andava na corda bamba aqui, dona Purcina sempre encontrava um jeito de me mandar um doce de leite, uns “bolos voadores”, umas “cambraias”. Aquelas coisinhas sabiam a cuidado, carinho, zelo de mãe... Pode ser também simples efeito do confinamento. Vivemos tempos difíceis: tudo ganha insólitas dimensões...
A imagem pode conter: comida.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
O poeta Da Costa e Silva, por exemplo, escreveu: “Saudade! És a ressonância/de uma cantiga sentida,/que, embalando a nossa infância,/ nos segue por todo a vida!” Estranho: nele a saudade é um sentimento permanente...
É curioso como sentimos saudades de coisas ou situações banais. Numa croniquinnha lírica, Manuel Bandeira escreveu: “Juanite, em sua última carta escrita em Haia, afirma: mas que saudades de chuchu com molho branco”. O poeta admira-se de a amiga, podendo comer pratos sofisticados, lembrar-se de um prosaico chuchu com molho branco... O cartunista Henfil, dos Estados Unidos, pede, desesperado, aos amigos que lhe mandem Pastilhas Valda. Estava morrendo de saudades...
Por amor à verdade, não sou o que se possa chamar de um saudosista. Mas hoje acordei com saudades de “cambraria”. Alguns estranharão a insólita saudade. Cambraia, como se sabe, é um tecido fino, delicado, nobre. A “cambraia” que me acendeu a saudade é apenas um beijuzinho delicado, muito fino e crocante. Nenhum mistério: faz-se o beiju bem fino, deixa-o ficar durinho e, depois, basta pô-lo ao sol por alguns minutos... O efeito da luz solar confere-lhe um sabor indescritível... Fiquei feliz ao saber que, em Petrolina (PE), a “cambraia” é patrimônio cultural do município.
Talvez, em mim, a saudade se explique, não só pelo sabor da iguaria, mas por razões de ordem afetiva. Explico: quando eu andava na corda bamba aqui, dona Purcina sempre encontrava um jeito de me mandar um doce de leite, uns “bolos voadores”, umas “cambraias”. Aquelas coisinhas sabiam a cuidado, carinho, zelo de mãe... Pode ser também simples efeito do confinamento. Vivemos tempos difíceis: tudo ganha insólitas dimensões...
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