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Sexta-feira, 01 de novembro de 2024
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VC no Acesse

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acessepiaui@hotmail.com

22/04/2020 - 07h45

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MEU AVÔ FALASTRÃO

Como sabia ler e escrever, lia e escrevia cartas para os camponeses analfabetos da região. Gostava de tiradas espirituosas.

José Malaquias das Chagas

 José Malaquias das Chagas

José Malaquias das Chagas era dado a gabarolices. Jactava-se de sua destreza quando jovem. Um dia, contava, enquanto tomava café sentado numa rede, alguém teria cortado as cordas para vê-lo esborrachar-se no chão. Lépido, saltara sem derramar uma gota do café. Ninguém testemunhou tal façanha, mas isso eram detalhes... 

Gostava de uma cachacinha e era filhento: 21, reconhecidos. É certo que fora bom marceneiro e razoável pedreiro. Ainda está de pé a centenária igrejinha que construiu em São Braz.

Como sabia ler e escrever, lia e escrevia cartas para os camponeses analfabetos da região. Gostava de tiradas espirituosas. Um dia, numa discussão de bodega, perguntaram-lhe se Deus era justo. Sem pestanejar, respondeu: “Justíssimo”. Antes que lhe pedissem explicação, acrescentou: “É tão justo que, quando manda o vento levantar a saia das mulheres, joga areia nos olhos dos homens”. Sua tirada mais famosa continua valendo até hoje: “Não se briga com mulher depois do almoço”.

Em busca de trabalho, migrou para Bom Jesus do Gurgueia onde foi desbancado pelo mestre João Batista, marceneiro e artesão. Extremamente religioso, o artesão esculpiu uma bela imagem de São João Batista, com um cordeiro nos braços. Depois, construiu uma capelinha e, no altar, entronou a famosa imagem. Malaquias não era escultor e, naturalmente, sentiu-se diminuído. Vingou-se em grande estilo. Ao ver a obra do escultor, filosofou com mordacidade: “Esse João Batista é um sujeito muito ordinário. O cabra que pega um pedaço de pau, faz uma imagem e depois vai adorar, não passa de um herege”.

Morreu em Brasília com mais de 80 anos de idade. 

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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais. 

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