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Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
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Mauro Sampaio

Mauro Sampaio

mauroadrianosampaio@gmail.com

02/07/2020 - 08h17

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Mauro Sampaio

mauroadrianosampaio@gmail.com

02/07/2020 - 08h17

O despertar do trabalhador precarizado

Não há salário fixo, não há décimo terceiro, férias, descanso semanal remunerado, auxílio no caso de furto, roubo ou acidente. Nem auxílio alimentação.

Não há vínculo empregatício com empresas como o I-food, Rappi e Uber Eats. 

 Não há vínculo empregatício com empresas como o I-food, Rappi e Uber Eats. 

Entregadores de aplicativos promoveram uma paralisação nacional por melhores condições de trabalho. Motociclistas e ciclistas que rodam em várias cidades brasileiras com caixas nas costas são autônomos. Não há vínculo empregatício com empresas como o I-food, Rappi e Uber Eats. 

O dia é puxado para essa turma que leva alimento, bebida ou medicamentos para quem está na tranquilidade do lar. O serviço de delivery é bom para o restaurante/farmácia e para o cliente. Para quem liga as duas pontas, não há salário fixo, não há décimo terceiro, férias, descanso semanal remunerado, auxílio no caso de furto, roubo ou acidente. Nem auxílio alimentação. Nada disso para faturar pouco mais de R$ 900 por mês se trabalhar 12 horas diárias, a depender do número de entregas.  

A ironia dessa precária luta pelo ganha-pão é ser chamado de empreendedor. Quanto menos oportunidades de empregos formais ou condições para conquistar uma carreira com formação, mais entregadores de alguma coisa se movimentam por aí. Não há empreendedorismo algum, mas muita exploração da força de trabalho de pessoas que estão vulneráreis. A paralisação do dia primeiro de julho de 2020 é um despertar de centenas de entregadores. 

A principal liderança é o paulistano Paulo Lima, 31 anos, criador do Movimento de Entregadores Antifascistas. O "Galo de Luta" declarou ao Instituto Marielle Franco: "Existe uma falsa ilusão de que somos empreendedores, de que estamos investindo no nosso futuro. Isso é uma mentira. A gente trabalha com fome, a gente é explorado, a gente é humilhado, a gente é maltratado, a gente ganha mal. Isso não é um perfil de um investidor, nem aqui nem em lugar nenhum do mundo. Eu sou um trabalhador, eu sou força de trabalho. Eu luto por melhores condições de trabalho. É nisso que eu acredito." Os aplicativos ofereceram taxas mais generosas para quem furar a paralisação. Paulo Lima está consciente de que a luta é muito difícil, até mesmo convencer os colegas que eles não são empreendedores. Há cerca de 4 milhões entregadores autônomos (dado do IBGE) em suas motocicletas e bicicletas no Brasil para serem despertados dessa ilusão. 

São reivindicações postas pela categoria: aumento do valor da taxa por quilômetro rodado; aumento do valor mínimo; fim do sistema de pontuação e de bloqueios indevidos; seguro de roubo, acidente e vida; auxílio pandemia; equipamentos de proteção, ponto de apoio e licença. 

Em Brasília, o movimento "Breque dos Apps" foi organizado pela Associação dos Motoboys Autônomos e Entregadores do DF (AMAE DF). 

Parlamentares de esquerda se comprometeram a criar uma frente em defesa dos entregadores para iniciar, no Congresso Nacional, a tramitação de projetos de lei para garantir direitos atualmente recusados.

Mauro Sampaio

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