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Sexta-feira, 01 de novembro de 2024
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VC no Acesse

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acessepiaui@hotmail.com

12/07/2020 - 18h37

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12/07/2020 - 18h37

A MÃE DO CÃO

A água do poço era distribuída seletivamente. Só os eleitores de determinado partido poderiam recebê-la.

Fotografia atual do Barreiro

 Fotografia atual do Barreiro "Duvige", no município de Caracol-PI

No sertão, nunca se falava de política. Sabia-se vagamente que o presidente Getúlio Vargas se matara com um tiro no coração. Nada além. Em São Raimundo, a política intrometia-se na vida de todos nós sem pedir licença. No período das estiagens, por exemplo, carros-pipa traziam água do açude do Bonfim. Mas a água era distribuída seletivamente. Só os eleitores de determinado partido poderiam recebê-la.

Um dia, fui buscar água com a Bia num dos poços tubulares da cidade. O poço ficava no pátio “Mercado Velho”, no bairro Aldeia. A água era salobra, mas era “limpinha”, isto é, não tinha girinos. Ao chegar lá, vimos, estarrecidos, que o poço tinha sido entupido com paus e pedras. Fomos ao outro, que ficava na margem esquerda do barreiro “Duvige”. A cena se repetiu: as pessoas, ao redor do poço, contemplavam-no com lágrimas nos olhos. Estava também aterrado. Mais tarde, ficamos sabendo que o crime fora perpetrado por um celerado a mando de uma facção política insatisfeita com os eleitores do Aldeia, do Gavião e da Altamira.

Dona Purcina, colérica, esbravejou. Seu Liberato, sempre contido, resumiu tudo numa sentença lapidar: “Política é a mãe do cão”.

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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural  - nas redes sociais. 

Cineas Santos

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