Início da década de 1980, resolvi promover uma “furupa”, como diria dona Purcina. De uma tacada, trouxe a Teresina João Antônio, Sérgio Sant’anna, Ignácio de Loyola Brandão e Flávio Aguiar. Um time da pesada. Eu tinha plateia cativa: meus alunos. Três noitadas inesquecíveis nos dois auditórios do espaço Herbert Parentes Fortes.
Terminado o evento, durante o jantar, Loyola me fez uma proposta “irrecusável”. Levar-me para São Paulo, com salário razoável e trabalho instigante: ajudá-lo a editar a coleção Clássicos da Literatura Brasileira, publicada pela Editora Três. O autor do romance Zero me disse: “Cineas, a província é uma merda. Eu sou de Araraquara; durante algum tempo fiz por lá o que você está fazendo aqui. Quando vi que não tinha futuro, me mandei: fui para São Paulo, Rio, Estados Unidos... Agora, estou à frente de um bom projeto editorial numa grande editora. Você já sai daqui empregado. Vou providenciar um apartamento para você bem próximo do trabalho. É pegar ou largar”.
Nem precisei pensar. Falei: meu irmão, abra a janela de sua sala de trabalho e dê uma espiada nos passantes. Seguramente, numa manhã qualquer, passarão uns cem. Pode apostar que alguns deles são mais competentes do que eu, mais necessitados do que eu, com uma vantagem adicional: já estão lá. Meu irmão, sou um animal da chapada. Meu lugar é aqui onde acredito que tenho algo a fazer. Loyola sorriu e disse: “Você não tem jeito, Cineas”.
Na terceira ou quarta edição do SALIPI, convidei o Loyola. Ele veio, falante, feliz e lampeiro. Não nos cobrou cachê. À noite, durante o jantar, me disse: “Cineas, você é um sertanejo atilado. O projeto da Três degringolou em pouco tempo”. Fez uma pausa, sorriu e afirmou: “Você teria se tornado mais um ‘paraíba’ em São Paulo e eu não estaria aqui participando deste belo salão. Seu lugar é aqui”.
Por esta e outras, vou ficando, ficando...
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Terminado o evento, durante o jantar, Loyola me fez uma proposta “irrecusável”. Levar-me para São Paulo, com salário razoável e trabalho instigante: ajudá-lo a editar a coleção Clássicos da Literatura Brasileira, publicada pela Editora Três. O autor do romance Zero me disse: “Cineas, a província é uma merda. Eu sou de Araraquara; durante algum tempo fiz por lá o que você está fazendo aqui. Quando vi que não tinha futuro, me mandei: fui para São Paulo, Rio, Estados Unidos... Agora, estou à frente de um bom projeto editorial numa grande editora. Você já sai daqui empregado. Vou providenciar um apartamento para você bem próximo do trabalho. É pegar ou largar”.
Nem precisei pensar. Falei: meu irmão, abra a janela de sua sala de trabalho e dê uma espiada nos passantes. Seguramente, numa manhã qualquer, passarão uns cem. Pode apostar que alguns deles são mais competentes do que eu, mais necessitados do que eu, com uma vantagem adicional: já estão lá. Meu irmão, sou um animal da chapada. Meu lugar é aqui onde acredito que tenho algo a fazer. Loyola sorriu e disse: “Você não tem jeito, Cineas”.
Na terceira ou quarta edição do SALIPI, convidei o Loyola. Ele veio, falante, feliz e lampeiro. Não nos cobrou cachê. À noite, durante o jantar, me disse: “Cineas, você é um sertanejo atilado. O projeto da Três degringolou em pouco tempo”. Fez uma pausa, sorriu e afirmou: “Você teria se tornado mais um ‘paraíba’ em São Paulo e eu não estaria aqui participando deste belo salão. Seu lugar é aqui”.
Por esta e outras, vou ficando, ficando...
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
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