Realizar o Salão do Livro do Piauí sempre foi (continua sendo) um parto doloroso, extremamente difícil e marcado por incertezas de toda ordem. Recursos escassos e a crescente expectativa do público desestabilizam os organizadores do evento. Com justa razão, a plateia sempre espera mais, sempre exige mais...
Véspera de uma das edições do Salipi, eu estava uma pilha: na conta da Fundação Quixote, nem um centavo. Só tínhamos promessas, promessas de políticos... Meio-dia, sol a pino, cheguei à Oficina da Palavra na companhia do mestre Santana, de saudosa memória. Na entrada do prédio, uma senhora de meia idade esperava por mim. Pediu permissão para aproximar-se e, sem se apresentar, declarou: “Professor, no ano passado, ouvi o senhor afirmar que, às vezes, depende da ajuda dos amigos para oferecer um almoço a um dos convidados”. Fez uma pausa, aproximou-se um pouco mais e afirmou: “Foi aí que decidi também ajudar. Passei o ano inteiro juntando moedinhas neste cofrinho e trouxe para o Salipi. Espero que dê para pagar o jantar de um convidado”. De um saco plástico, retirou um cofrinho de cerâmica e me entregou.
O gesto foi tão insólito que mal balbuciei um obrigado e saí de perto apressadamente. Eu tinha os meus motivos: se eu desandasse a chorar ali, seria “um segundo dilúvio”, como afirmou Drummond num poema. Nem ao menos sei o nome da cidadã que nos brindou com aquela ração de beleza. A partir de então, o cofrinho com o punhado de moedas tornou-se uma espécie de amuleto do SALIPI.
Por essa e outras, não temos o direito de desistir do Salão do Livro do Povo do Piauí. E viva o Salipi!
*****
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Véspera de uma das edições do Salipi, eu estava uma pilha: na conta da Fundação Quixote, nem um centavo. Só tínhamos promessas, promessas de políticos... Meio-dia, sol a pino, cheguei à Oficina da Palavra na companhia do mestre Santana, de saudosa memória. Na entrada do prédio, uma senhora de meia idade esperava por mim. Pediu permissão para aproximar-se e, sem se apresentar, declarou: “Professor, no ano passado, ouvi o senhor afirmar que, às vezes, depende da ajuda dos amigos para oferecer um almoço a um dos convidados”. Fez uma pausa, aproximou-se um pouco mais e afirmou: “Foi aí que decidi também ajudar. Passei o ano inteiro juntando moedinhas neste cofrinho e trouxe para o Salipi. Espero que dê para pagar o jantar de um convidado”. De um saco plástico, retirou um cofrinho de cerâmica e me entregou.
O gesto foi tão insólito que mal balbuciei um obrigado e saí de perto apressadamente. Eu tinha os meus motivos: se eu desandasse a chorar ali, seria “um segundo dilúvio”, como afirmou Drummond num poema. Nem ao menos sei o nome da cidadã que nos brindou com aquela ração de beleza. A partir de então, o cofrinho com o punhado de moedas tornou-se uma espécie de amuleto do SALIPI.
Por essa e outras, não temos o direito de desistir do Salão do Livro do Povo do Piauí. E viva o Salipi!
*****
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.