Manhã de cristal, dessas que transformaram Teresina num abismo de luz. De repente, saída não se sabe de onde, uma jovem decide, imprudentemente, atravessar a Avenida Nossa Senhora de Fátima. Correu, parou, serpenteou entre os automóveis, ouviu as imprecações de um taxista, o assobio de um motoqueiro, o muxoxo de um velho frascário e, incólume, chegou ao outro lado. Exibiu um sorriso maroto e desapareceu na manhã esplendente. Era uma autêntica moça piauiense: morena, estatura mediana, cabelos pretos, curtos, e um sorriso de menina arteira onde se mesclavam timidez e sonsice. Até aí, nada de extraordinário: seguramente há, em Teresina, centenas de jovens com esse perfil. Havia, contudo, algo de especial naquela moça, e não era o vestido claro nem as sandálias de tirinha, muito menos a displicente imprudência... Era a sombrinha. Uma sombrinha lilás com vistosas flores azuis. Ao atravessar a avenida temerariamente, por um instante, tive a impressão de estar vendo a exibição de uma passista de frevo num carnaval fora de época e lugar. É certo que não se ouvia música alguma no ar, nem mesmo a buzina dos automóveis. Mas quem disse que as mulheres precisam de música (exterior) para dançar? Até onde se sabe, todas elas carregam nos genes a música em estado puro. Só precisam de um pretexto para exteriorizá-la...
Ao ver aquela cena, de rara beleza, fiquei imaginando: e se, numa radiosa manhã de abril, todas as moças de Teresina decidissem sair às ruas portando coloridas sombrinhas abertas? Que belo espetáculo teríamos! A cidade se transformaria numa imensa aquarela viva, multicolorida e pulsante como deveria ser a vida, sempre... Além de se protegerem do sol, as moças da cidade propiciariam a todos nós um momento digno de um filme de Kurosawa, o mago da cor. Moças pobres e ricas, belas e feias, todas irmanadas na criação de um momento mágico na Cidade Amada.., Estou certo de que nunca mais Teresina seria a mesma. É até possível que, extasiados com tanta beleza, os marmanjos decidissem também vestir roupas leves, claras, alegres e – quem sabe – usar chapéus de palhinha à moda antiga, não para se protegerem do sol, mas apenas para retirá-los ao cumprimentar as raparigas em flor...
A moça se foi, guardei-a na lembrança e aqui estou, solitário e triste, fazendo poesia barata. Pois que fique registrado o meu apelo patético: Moças de Teresina, por quem vivo, padeço e morro, propiciai aos meus olhos fatigados de tanto cinza e ao meu coração cansado de inúteis embates a alegria de vê-las – uma única vez que seja! – desfilando pelas ruas da minha cidade, com vestidos leves, diáfanos, e sombrinhas multicoloridas. Depois, que venha o dilúvio. (Março de 2007.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Ao ver aquela cena, de rara beleza, fiquei imaginando: e se, numa radiosa manhã de abril, todas as moças de Teresina decidissem sair às ruas portando coloridas sombrinhas abertas? Que belo espetáculo teríamos! A cidade se transformaria numa imensa aquarela viva, multicolorida e pulsante como deveria ser a vida, sempre... Além de se protegerem do sol, as moças da cidade propiciariam a todos nós um momento digno de um filme de Kurosawa, o mago da cor. Moças pobres e ricas, belas e feias, todas irmanadas na criação de um momento mágico na Cidade Amada.., Estou certo de que nunca mais Teresina seria a mesma. É até possível que, extasiados com tanta beleza, os marmanjos decidissem também vestir roupas leves, claras, alegres e – quem sabe – usar chapéus de palhinha à moda antiga, não para se protegerem do sol, mas apenas para retirá-los ao cumprimentar as raparigas em flor...
A moça se foi, guardei-a na lembrança e aqui estou, solitário e triste, fazendo poesia barata. Pois que fique registrado o meu apelo patético: Moças de Teresina, por quem vivo, padeço e morro, propiciai aos meus olhos fatigados de tanto cinza e ao meu coração cansado de inúteis embates a alegria de vê-las – uma única vez que seja! – desfilando pelas ruas da minha cidade, com vestidos leves, diáfanos, e sombrinhas multicoloridas. Depois, que venha o dilúvio. (Março de 2007.
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Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Deborah Radassi
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