Os sábios de plantão afirmam que, depois da pandemia (se houver depois), a humanidade nunca mais será a mesma. Embora eu não concorde com a tese, faltam-me competência e disposição para contestá-la. De uma forma ou de outra, há pequenas lições em curso. Com a quarentena, muitos pais aprenderam o nome da escola onde os filhos estudam; alguns descobriram que o mais novo tem cárie e o que o mais velho está passando muito tempo no banheiro... Miudezas que, até então, passavam despercebidas.
Ao que importa: ontem, em minha caminhada diária, vi algo animador. De repente, ouvi barulho de pneu de bicicleta atrás de mim. Voltei-me e deparei com um cidadão bastante jovem e uma mocinha de uns dez anos de idade, em bicicletas distintas, pedalando lado a lado. Conversavam. Apurei o ouvido é pesquei um fiapo do diálogo entre os dois.
- Dos tempos verbais, um dos mais complicados é o mais-que-perfeito, afirmou o cidadão.
- Quando é que a gente usa? - perguntou a menina.
- Usamos para expressar um fato passado que ocorreu anteriormente a outra ação também passada...
Tentei apressar o passo para continuar aprendendo, mas os dois pedalavam bem e se distanciaram rapidamente.
Fiquei pensando: em outro momento, aquele pai ou tio teriam tempo para uma experiência tão prazerosa e enriquecedora? Decididamente, não sei.
Não pude deixar de experimentar uma breve alegria. Já que não se pode extinguir a pandemia, bem que poderíamos aprender a conjugar os verbos no mais-que-perfeito. Quem dera que isso acontecesse.
*****
Cineas Santos é professor, escritor, poeta e produtor cultural - nas redes sociais.
Ao que importa: ontem, em minha caminhada diária, vi algo animador. De repente, ouvi barulho de pneu de bicicleta atrás de mim. Voltei-me e deparei com um cidadão bastante jovem e uma mocinha de uns dez anos de idade, em bicicletas distintas, pedalando lado a lado. Conversavam. Apurei o ouvido é pesquei um fiapo do diálogo entre os dois.
- Dos tempos verbais, um dos mais complicados é o mais-que-perfeito, afirmou o cidadão.
- Quando é que a gente usa? - perguntou a menina.
- Usamos para expressar um fato passado que ocorreu anteriormente a outra ação também passada...
Tentei apressar o passo para continuar aprendendo, mas os dois pedalavam bem e se distanciaram rapidamente.
Fiquei pensando: em outro momento, aquele pai ou tio teriam tempo para uma experiência tão prazerosa e enriquecedora? Decididamente, não sei.
Não pude deixar de experimentar uma breve alegria. Já que não se pode extinguir a pandemia, bem que poderíamos aprender a conjugar os verbos no mais-que-perfeito. Quem dera que isso acontecesse.
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Cineas Santos
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