Meus amigos, na verdade reconheço que não fui eu quem venceu a Covid-19. Existem tantos fatores envolvidos, que seria injusto apontar o dedo para mim mesmo e bradar um feito desse. Envolvidos nessa luta estão os cuidados médicos, a estrutura hospitalar, as facilidades de um Plano de Saúde, a disponibilidade de remédios, a disposição física, as muitas, poucas ou nenhuma comorbidades, as correntes positivas dos amigos, o carinho de familiares, as reações do organismo, a paciência, o desejo de superação.
Resisti ao contágio durante 10 meses, desde que a pandemia teve início. No final de dezembro, senti os primeiros sintomas, precisamente na manhã do dia 27. Contraí o vírus no seio familiar, exatamente onde imaginamos estar a salvo. Recebi alta hospitalar no dia 18 de janeiro, depois de 13 dias internado no Hospital Unimed-Primavera, em Teresina. O mais difícil nessa doença são as sequelas que ela deixa. É uma doença essencialmente pulmonar. O vírus ataca os pulmões e se multiplica por lá, comprometendo o seu funcionamento e deixando marcas muitas vezes de demorada recuperação. Aqueles que exercem atividades físicas constantes e adquirem resistência têm mais chances de ver essas sequelas minimizadas, frente a outros sedentários, como eu, que cuidam muito pouco do corpo. O vírus vê nesses indivíduos frágeis boas chances de se alojar e até constituir família e se multiplicar, se é que me fiz entender. Tratamentos não significam o caminho para a cura. Nem sempre organismos reagem às medicações. Cada unidade de saúde, cada hospital tem o seu protocolo, que se mistura entre dieta alimentar, medicação intravenosa rigorosamente no horário, oxigenação por ventilação não invasiva (como exercício de expansão pulmonar) ou invasiva, em casos mais graves, soro constante, exames clínicos, fisioterapia respiratória etc.
Naquele dia 27 de dezembro, senti febre e dores no corpo e no globo ocular. Comecei a tomar Invermectina e, posteriormente, Azitromicina e Dexametasona. No dia 28, a febre continuou. Tomei um antitérmico à tarde e amanheci o dia 29 sem nada sentir. Passei a semana bem. Por volta do sétimo dia, os sintomas voltaram. Minhas idas e vindas ao plantão Covid no Hospital Unimed pareciam não ter fim. Cada médico que me recebia prescrevia uma medicação diferente ou aumentava a dose do que eu já tomava. Foi quando meu amigo e cardiologista Lira Filho me indicou a doutora Luana Chaib, como profunda conhecedora dos procedimentos de combate a esse vírus maldito. Liguei pra ela, que me atendeu com gentileza e começou a me orientar sobre procedimentos caseiros. Mas a medicação parecia não surtir o efeito esperado, até que ela me disse que eu precisava me internar, para receber um acompanhamento melhor, uma vez que a febre persistia.
No dia 6 de janeiro deste ano, décimo dia dos primeiros sintomas, fui internado no Hospital Unimed-Primavera e comecei a receber medicação intravenosa. Meus exames apontaram que minhas taxas estavam descontroladas. Meu comprometimento pulmonar saltou de 10% no dia 1 de janeiro para 30% no dia 5 e 75% poucos dias depois. Minha piora era notória. Meu D-Dímero (que mede o risco de trombose) chegou a mais de 2500, no dia 9 (normal é inferior a 500). A saturação estava instável. A oxigenação de baixo fluxo foi alterada para alto fluxo – ar misto aquecido e umidificado, quando cheguei a receber 15 litros de oxigênio por minuto, para me prevenir da intubação. Em meu terceiro dia de internação, por volta de 9 de janeiro, nenhuma medicação conseguia me fazer melhorar. No meu Prontuário estava escrito: “Piora clínica e elevação súbita de D-Dímero”. Eu já estava há 14 dias dos primeiros sintomas. Diariamente, eu amanhecia como no dia anterior, sem melhora alguma, embora estivesse bem medicado e fazendo fisioterapia respiratória e ventilação mecânica não invasiva. Eu não entendia a razão de ter passado de nível de oxigenação, saindo dos cateteres de baixo fluxo para alto fluxo, que me representou uma injeção bem maior e mais agressiva de oxigênio, mas nada me fazia melhorar. Comecei a pensar que o meu caminho era a UTI (um momento muito difícil na minha vida), pois aquela falta de reação ao tratamento indicava que em pouco tempo eu estaria intubado. Desliguei completamente o meu celular e o guardei. Minha esposa e acompanhante, Socorro de Maria, era quem me dava as notícias e cuidava de mim. Eu sequer tinha forças para levar a comida à boca. Muitos amigos se manifestavam, inclusive com correntes de orações pela minha recuperação. Foi um conforto grande, saber que tanta gente torcia por mim. Dois desses amigos me acompanharam incansavelmente: Lira Filho e Jivago Castro, monitorando as minhas reações várias vezes no dia. Jivago lembrou a Socorro de Maria uma injeção que havia feito um milagre em um familiar seu, chamada Tocilizumabe. Cada ampola dessa injeção custa em média quase mil reais. Em uma de suas visitas diárias, doutora Luana contou que usava a medicação no protocolo do Hospital Unimed, em casos mais graves. Confesso que aquela conversa foi um momento de muita euforia, porque a médica fez a solicitação ao Plano, que aceitou as 6 ampolas prescritas, embora servisse para que eu me conscientizasse de que a minha situação era grave. No mesmo dia 9 de janeiro, à tarde, quando eu completava 40 anos de casado, fui medicado com a Tocilizumabe intravenosa.
No dia seguinte, eu não senti que havia melhorado. Entrei em desespero. Como pude não melhorar um dia depois de tomar uma injeção tão poderosa? Naquele domingo, doutora Luana estava de folga. Recebi a visita de um cardiologista de plantão, que foi taxativo: “Os resultados dessa injeção só chegam após 48 horas”. Ele estava certo. Depois daquele dia, não tive mais febre e minhas taxas começaram a se recuperar. Eu ainda passaria 8 dias internado, período em que comecei a sentir pequenas melhoras, muito discretas, que me levaram a deixar o hospital. Posso afirmar, sem dúvida alguma, que essa corrente de amizades se juntou à minha médica, para me arrancar do fundo do poço. A inclusão das seis ampolas de Tocilizumabe no tratamento foi decisiva para me levar de volta ao lar. Minhas palavras não são suficientes para agradecer o acompanhamento que tive da dra. Luana Chaib e sua equipe.
O vírus se aloja pelo contágio, faz um estrago nos pulmões e deixa o corpo após 14 dias. Restam as graves sequelas, por isso meu tratamento continuou em casa, com fisioterapia diária, para reaprender a andar e a me equilibrar. O vírus enfraquece o corpo; os músculos perdem movimentos, pela inércia em cima de uma cama. Perdi massa muscular e mais de 10kg de peso. Eu caminhava com dificuldade e cansava com muita facilidade, o que não me permitia maior esforço físico. A ansiedade era grande, porque me gerou um inconformismo por não poder voltar a trabalhar. Ela, a ansiedade, era para mim a principal vilã nessa história. No dia 26 de janeiro, fiz alguns exames que minha médica solicitou. Para alívio, minhas taxas estavam dentro da normalidade. Hoje, estou praticamente recuperado, mas ainda sinto o peso da passagem do vírus pelos meus pulmões. Fui a uma psiquiatra, para aliviar a ansiedade, e continuo tomando um anticoagulante, prescrito pelo meu cardiologista. Há casos em que são necessários meses para voltar à normalidade. Espero que o meu não seja assim. Esse vírus não tem um padrão, por isso cada caso é estudado e tratado de forma única. Algumas pessoas reagem melhor do que outras a certas medicações. No meu caso, a experiência da doutora Luana Chaib foi decisiva.
Devido à minha fraqueza, plantado em uma cama enquanto estive internado, não consigo lembrar os nomes das enfermeiras, assistentes técnicos e fisioterapeutas que diariamente me visitavam, cada um com funções bem definidas e bem executadas. Eu gostaria de agradecer a cada um, pessoalmente, mas ainda não pude fazer isso. Quero registrar a eficiência do Hospital Unimed-Primavera e deixar uma mensagem de otimismo à sua diretoria, pois foi sua equipe e as instalações adequadas que me proporcionaram a vida e o momento de estar aqui, contando essa história.
Muitas pessoas ainda não conseguiram entender como age e como nos afeta socialmente um vírus como esse. O vírus costuma se manifestar em até 8 dias após o contágio. Alguns vão sentir, outros não, enquanto outros terão poucos sintomas. Após os 15 primeiros dias dos primeiros sintomas, o vírus desaparece do organismo e ficam as sequelas, como as minhas, que me deixaram os pulmões bastante inflamados. Insisto que todos devemos manter distância, usar máscara, passar álcool gel, evitar aglomerações e nos proteger sempre. Como foi o meu caso, e como são muitos semelhantes, o vírus se propaga com desenvoltura no seio da família ou de grupos de amigos. Portanto, muito cuidado com reuniões familiares e festivas, pois basta o primeiro cair para levar todo o resto, como num efeito dominó. E nunca saberemos onde começou e com quem começou.
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Eneas Barros é escritor piauiense, nas redes sociais.
Resisti ao contágio durante 10 meses, desde que a pandemia teve início. No final de dezembro, senti os primeiros sintomas, precisamente na manhã do dia 27. Contraí o vírus no seio familiar, exatamente onde imaginamos estar a salvo. Recebi alta hospitalar no dia 18 de janeiro, depois de 13 dias internado no Hospital Unimed-Primavera, em Teresina. O mais difícil nessa doença são as sequelas que ela deixa. É uma doença essencialmente pulmonar. O vírus ataca os pulmões e se multiplica por lá, comprometendo o seu funcionamento e deixando marcas muitas vezes de demorada recuperação. Aqueles que exercem atividades físicas constantes e adquirem resistência têm mais chances de ver essas sequelas minimizadas, frente a outros sedentários, como eu, que cuidam muito pouco do corpo. O vírus vê nesses indivíduos frágeis boas chances de se alojar e até constituir família e se multiplicar, se é que me fiz entender. Tratamentos não significam o caminho para a cura. Nem sempre organismos reagem às medicações. Cada unidade de saúde, cada hospital tem o seu protocolo, que se mistura entre dieta alimentar, medicação intravenosa rigorosamente no horário, oxigenação por ventilação não invasiva (como exercício de expansão pulmonar) ou invasiva, em casos mais graves, soro constante, exames clínicos, fisioterapia respiratória etc.
Naquele dia 27 de dezembro, senti febre e dores no corpo e no globo ocular. Comecei a tomar Invermectina e, posteriormente, Azitromicina e Dexametasona. No dia 28, a febre continuou. Tomei um antitérmico à tarde e amanheci o dia 29 sem nada sentir. Passei a semana bem. Por volta do sétimo dia, os sintomas voltaram. Minhas idas e vindas ao plantão Covid no Hospital Unimed pareciam não ter fim. Cada médico que me recebia prescrevia uma medicação diferente ou aumentava a dose do que eu já tomava. Foi quando meu amigo e cardiologista Lira Filho me indicou a doutora Luana Chaib, como profunda conhecedora dos procedimentos de combate a esse vírus maldito. Liguei pra ela, que me atendeu com gentileza e começou a me orientar sobre procedimentos caseiros. Mas a medicação parecia não surtir o efeito esperado, até que ela me disse que eu precisava me internar, para receber um acompanhamento melhor, uma vez que a febre persistia.
No dia 6 de janeiro deste ano, décimo dia dos primeiros sintomas, fui internado no Hospital Unimed-Primavera e comecei a receber medicação intravenosa. Meus exames apontaram que minhas taxas estavam descontroladas. Meu comprometimento pulmonar saltou de 10% no dia 1 de janeiro para 30% no dia 5 e 75% poucos dias depois. Minha piora era notória. Meu D-Dímero (que mede o risco de trombose) chegou a mais de 2500, no dia 9 (normal é inferior a 500). A saturação estava instável. A oxigenação de baixo fluxo foi alterada para alto fluxo – ar misto aquecido e umidificado, quando cheguei a receber 15 litros de oxigênio por minuto, para me prevenir da intubação. Em meu terceiro dia de internação, por volta de 9 de janeiro, nenhuma medicação conseguia me fazer melhorar. No meu Prontuário estava escrito: “Piora clínica e elevação súbita de D-Dímero”. Eu já estava há 14 dias dos primeiros sintomas. Diariamente, eu amanhecia como no dia anterior, sem melhora alguma, embora estivesse bem medicado e fazendo fisioterapia respiratória e ventilação mecânica não invasiva. Eu não entendia a razão de ter passado de nível de oxigenação, saindo dos cateteres de baixo fluxo para alto fluxo, que me representou uma injeção bem maior e mais agressiva de oxigênio, mas nada me fazia melhorar. Comecei a pensar que o meu caminho era a UTI (um momento muito difícil na minha vida), pois aquela falta de reação ao tratamento indicava que em pouco tempo eu estaria intubado. Desliguei completamente o meu celular e o guardei. Minha esposa e acompanhante, Socorro de Maria, era quem me dava as notícias e cuidava de mim. Eu sequer tinha forças para levar a comida à boca. Muitos amigos se manifestavam, inclusive com correntes de orações pela minha recuperação. Foi um conforto grande, saber que tanta gente torcia por mim. Dois desses amigos me acompanharam incansavelmente: Lira Filho e Jivago Castro, monitorando as minhas reações várias vezes no dia. Jivago lembrou a Socorro de Maria uma injeção que havia feito um milagre em um familiar seu, chamada Tocilizumabe. Cada ampola dessa injeção custa em média quase mil reais. Em uma de suas visitas diárias, doutora Luana contou que usava a medicação no protocolo do Hospital Unimed, em casos mais graves. Confesso que aquela conversa foi um momento de muita euforia, porque a médica fez a solicitação ao Plano, que aceitou as 6 ampolas prescritas, embora servisse para que eu me conscientizasse de que a minha situação era grave. No mesmo dia 9 de janeiro, à tarde, quando eu completava 40 anos de casado, fui medicado com a Tocilizumabe intravenosa.
No dia seguinte, eu não senti que havia melhorado. Entrei em desespero. Como pude não melhorar um dia depois de tomar uma injeção tão poderosa? Naquele domingo, doutora Luana estava de folga. Recebi a visita de um cardiologista de plantão, que foi taxativo: “Os resultados dessa injeção só chegam após 48 horas”. Ele estava certo. Depois daquele dia, não tive mais febre e minhas taxas começaram a se recuperar. Eu ainda passaria 8 dias internado, período em que comecei a sentir pequenas melhoras, muito discretas, que me levaram a deixar o hospital. Posso afirmar, sem dúvida alguma, que essa corrente de amizades se juntou à minha médica, para me arrancar do fundo do poço. A inclusão das seis ampolas de Tocilizumabe no tratamento foi decisiva para me levar de volta ao lar. Minhas palavras não são suficientes para agradecer o acompanhamento que tive da dra. Luana Chaib e sua equipe.
O vírus se aloja pelo contágio, faz um estrago nos pulmões e deixa o corpo após 14 dias. Restam as graves sequelas, por isso meu tratamento continuou em casa, com fisioterapia diária, para reaprender a andar e a me equilibrar. O vírus enfraquece o corpo; os músculos perdem movimentos, pela inércia em cima de uma cama. Perdi massa muscular e mais de 10kg de peso. Eu caminhava com dificuldade e cansava com muita facilidade, o que não me permitia maior esforço físico. A ansiedade era grande, porque me gerou um inconformismo por não poder voltar a trabalhar. Ela, a ansiedade, era para mim a principal vilã nessa história. No dia 26 de janeiro, fiz alguns exames que minha médica solicitou. Para alívio, minhas taxas estavam dentro da normalidade. Hoje, estou praticamente recuperado, mas ainda sinto o peso da passagem do vírus pelos meus pulmões. Fui a uma psiquiatra, para aliviar a ansiedade, e continuo tomando um anticoagulante, prescrito pelo meu cardiologista. Há casos em que são necessários meses para voltar à normalidade. Espero que o meu não seja assim. Esse vírus não tem um padrão, por isso cada caso é estudado e tratado de forma única. Algumas pessoas reagem melhor do que outras a certas medicações. No meu caso, a experiência da doutora Luana Chaib foi decisiva.
Devido à minha fraqueza, plantado em uma cama enquanto estive internado, não consigo lembrar os nomes das enfermeiras, assistentes técnicos e fisioterapeutas que diariamente me visitavam, cada um com funções bem definidas e bem executadas. Eu gostaria de agradecer a cada um, pessoalmente, mas ainda não pude fazer isso. Quero registrar a eficiência do Hospital Unimed-Primavera e deixar uma mensagem de otimismo à sua diretoria, pois foi sua equipe e as instalações adequadas que me proporcionaram a vida e o momento de estar aqui, contando essa história.
Muitas pessoas ainda não conseguiram entender como age e como nos afeta socialmente um vírus como esse. O vírus costuma se manifestar em até 8 dias após o contágio. Alguns vão sentir, outros não, enquanto outros terão poucos sintomas. Após os 15 primeiros dias dos primeiros sintomas, o vírus desaparece do organismo e ficam as sequelas, como as minhas, que me deixaram os pulmões bastante inflamados. Insisto que todos devemos manter distância, usar máscara, passar álcool gel, evitar aglomerações e nos proteger sempre. Como foi o meu caso, e como são muitos semelhantes, o vírus se propaga com desenvoltura no seio da família ou de grupos de amigos. Portanto, muito cuidado com reuniões familiares e festivas, pois basta o primeiro cair para levar todo o resto, como num efeito dominó. E nunca saberemos onde começou e com quem começou.
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Eneas Barros é escritor piauiense, nas redes sociais.
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