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Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Mauro Sampaio

Mauro Sampaio

mauroadrianosampaio@gmail.com

25/01/2022 - 09h15

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Mauro Sampaio

mauroadrianosampaio@gmail.com

25/01/2022 - 09h15

O lado útil (e até bom) de ser nada

 

Uma leitura agradável nas férias: "Flush", da britânica Virgínia Woolf (1882-1941). Não está entre as principais obras dessa pioneira do feminismo. 

Flush foi o cão cocker spaniel da poeta Elizabeth Barret (1806-1861) e da escritora Mary Russel Mitford (1787-1855). É a biografia dele, sob a perspectiva do cão dedicado à última dona, Barret. 

Um dia, em Florença (Itália), para onde a poeta se mudara de Londres, vê-se cheio de pulgas. Só houve um jeito de curá-lo da praga: a tosa radical. É essa passagem da "biografia não autorizada de Flush", publicada por Virgína Woolf em 1933, que destaco:

"...Enquanto Robert Browning cortava, enquanto a insígnia de um cocker spaniel caía ao chão, enquanto a aparência travestida de outro animal surgia abaixo do seu pescoço, Flush se sentiu emasculado, diminuído, envergonhado. O que sou eu agora, pensou ele, olhando-se no espelho. E o espelho respondeu, com a brutal sinceridade característica da espécie: 'Você não é nada'. Não era ninguém. Certamente não era mais um cocker spaniel. Porém, enquanto se olhava, as orelhas, agora sem o pelos encaracolados, pareceram contrair-se. Era como se os poderosos espíritos da verdade e do riso estivessem murmurando qualquer coisa junto a elas. Não ser nada - será que, afinal de contas, não é essa a mais satisfatória condição do mundo? Voltou a se olhar. Restava seu rufo..."
     
       

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