Se o escritor português José Saramago estivesse vivo, estaria empolgadíssimo com o senador democrata Bernie Sanders, que disputa com a correligionária Hyllary Clinton o direito de concorrer à presidência dos Estados Unidos. Sanders se nega a receber doações de empresas privadas e é crítico veemente dos "ilegais bilionários" de Wall Street.
A campanha é mantida por simpatizantes, com média de 27 dólares de arrecadação individual. Ele está assustando o establishment capitalista selvagem do país com um discurso socialista, que promete saúde e educação públicas e gratuitas e emprego e melhores salários para milhões de compatriotas excluídos pelo sistema corrompido pelo financiamento privado.
"Uma pessoa, um voto. Não represento o interesse dos bilionários, dessa economia viciada, em que a renda e a riqueza da nação fica para o 1% que está acima", declarou o senador em Iowa.
Saramago denunciava nos anos 1990 o sufocamento da democracia pelos interesses financeiros. "Não é possível continuar falando em democracia em um mundo onde o poder que realmente governa, o poder financeiro, não é democrático. Tudo o mais são miragens mais ou menos reais - os parlamentos, os governos -, mas o poder, em última instância, o poder que decide e determina os nossos destinos não é um poder democrático", afirmou o escritor a um jornal de Madri em 1996, complementando: "A democracia não tem existência nem qualidade em si; depende do nível de participação dos cidadãos."
Sanders pede isso aos cidadãos norte-americanos. Ele só poderá enfrentar o poder econômico e democratizar a riqueza se contar com o apoio dos cidadãos que querem um país para todos.
Algo assim foi dito no Brasil por um certo operário chamado Lula, eleito presidente em 2002 e reeleito em 2006. Hoje, o pouco que o poder financeiro perdeu, a casa grande quer de volta. Bernie Sanders também assusta os bilionários daqui. É um mau exemplo para a falsa democracia dos bacanas.
Mauro Sampaio
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