Esporadicamente a imprensa piauiense vem explorando a temática da violência no trânsito tentando pautar as instituições e a sociedade para um pacto em torno da paz no tráfego, contudo, me parece que todos os esforços envidados, não têm conseguido êxito.
Teresina figura entre as capitaiscom maior número de acidentes no trânsito, sendo recordista no número de óbitos em acidentes envolvendo motocicletas. Segundo aCIP Tran ( Companhia Independente de Policiamento do Trânsito) somente no mês de abril aconteceram mais de 200 acidentes na cidade de Teresina, sendo que quase a metade com vítimas que sofreram algum trauma ou que vieram a óbito.
No final de junho um acidente comoveu a cidade e ganhou grande repercussão midiática e nas redes sociais. Os meninos do Salve Rainha foram vítimas de atitude irresponsável por parte do condutor do veículo que os atingiu, sem dar nenhuma chance para que os passageiros do fusca pudessem sequer tentar uma manobra qualquer para sobreviver.
A cidade ficou de luto por muitos dias. Nas redes sociais virtuais todos os tipos de xingamentos e condenações ao motorista responsável pelo evento fatal. A grande maioria condenou, muitos pregavam a violência para combater a violência sofrida. Contudo, poucos fizeram um exame de consciência para avaliar que também já fizeram algo parecido em suas vidas, sendo que muitos sobreviveram ou não mataram, por pura sorte.
A maioria, no entanto, ainda pratica os mesmos atos. Sai para beber com os amigos montado em um carro possante e vistoso e do alto do seu volante, não tem o menor respeito à vida.
Cidade hipócrita a nossa que condena uns e protege outros. Pais que condenaram o acidente fatal, entregam carros de alto valor e de grande velocidade a filhos que não possuem nenhuma responsabilidade. Filhos que do alto de seus veículos, se proclamam superiores porque estão na direção de um Land Rover e não respeitam nada que ousar entrar na frente.
Segunda-feira (15), na verdade madrugada da terça-feira (16), eu e marido saímos de casa por volta de uma da manhã, após o jogo de voleibol masculino e fomos pegar nossos filhos em casa de amigos que se situa próximo ao aeroporto. Pegamos as crianças e na volta conversávamos alegremente, quando na curva para dobrara direita na avenida Duque de Caxias, fomos surpreendidos com uma Lan Rover branca em altíssima velocidade que surgiu do nada por trás do nosso caso e entrou no posto de gasolina para nos ultrapassar e continuar o vôo rumo à avenida Marechal. O potencial assassino só não nos atingiu porque meu marido conseguiu, mesmo com o susto, puxar o carro para o outro lado no último momento. Um segundo separou a vida da morte. O carro atingiria o lado do passageiro em que eu me encontrava na frente e minha filha no banco de trás. O susto foi tão grande que não conseguimos pegar a placa para denunciar ou fazer qualquer coisa.
O que sentimos naquele momento quando a vida passou por nós em um segundo? _ Pânico de viver em uma sociedade onde a vida não é respeitada. Onde a vida não vale nada. Onde a vida pode se esvair por trás de um volante de R$ 200 mil ou R$ 400 mil.
No dia seguinte fiquei imaginando se ali estivesse um ciclista ou motociclista, o que poderia ter ocorrido: O candidato a assassino teria passado por cima? Teria socorrido a vítima? Ou teria seguido em sua trajetória poderosa a mais de 100 Km por hora?
Temos uma sociedade doente em diversos sentidos e esse é mais um dos grandes problemas quetem origem na ausência de cultura e educação, na ausência de sentido de comunidade, na ausência de uma ética cidadã que respeito o outro. O dinheiro vem desacompanhado da necessária consciência e domínio das regras de convivência.
É bem verdade que acidentes envolvem todas as camadas sociais e as menos favorecidas também sofrem com a falta de educação, cultura e conhecimento das regras do trânsito, da falta de respeito muitas vezes pela própria vida e dos seus. Contudo, isso também tem origem na falta de fiscalização, na falta de impunidade. Tem origem nas instituições do sistema judiciário que por interesse, muitas vezes, protegem uns e perseguem outros.
Após um acidente de grande repercussão até vemos as blitz da polícia e do Detran, mas o que deve ser uma atitude contumaz se torna esporádico e muitas vezes possui outras motivações.
Como podemos trazer PAZ para nossa cidade? Como podemos fazer um pacto pela paz no trânsito? Como podemos conscientizar jovens que tem bens em excesso e não respeitam a vida?
Algo precisa ser feito o mais rapidamente possível e NÃO ADIANTAM CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS que só projetam pessoas midiaticamente, mas que não apresentam resultados concretos. O problema É CULTURAL E SISTÊMICO e deve ser combatido da mesma forma. Um plano deve ser pensado e deve envolver: _ 1-Um projeto educacional para o trânsito desde a escola, mas que também deve chegar aos adultos. Sugiro que cada motorista envolvido em infrações ou acidentes leves deva passar por um processo educacional obrigatório. 2- Um projeto de fiscalização efetivo; 3- Medidas punitivas sérias devem ser adotadas já que o automóvel ou a motocicleta são as armas que mais matam em Teresina;
Fica a dica! Quem sabe algum candidato ao poder nesta cidade no corrente ano tenha grande respeito à vida e se interesse pelo tema, já que o impacto na saúde pública e nos gastos tem sido crescentes.
Ana Regina Rêgo
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião desta página, se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.