Na visão do procurador Deltan Dallagnol, o PT montou um sistema de distribuição de cargos e propinas que garantiu uma "governabilidade", visando a "perpetuação criminosa" do PT no poder. No centro do esquema estaria Lula: sem ele, nenhum dos envolvidos teria sido nomeado para seus cargos. A roubalheira teve como fonte de propinas cobradas do cartel de empreiteiras.
Se Lula estivesse no centro do esquema, como argumentou o procurador, poderíamos supor que sua presença nessa rede fosse fundamental para manutenção. Talvez isso seja eventualmente demonstrado, mas os dados disponíveis não o sugerem.
Tanto o cartel das empreiteiras quanto dos aliados que venderem seu apoio ao PT já estavam no ramo antes de 2003. O cartel financiou a campanha de todos os partidos esses anos todos. Só o PT lhes ofereceu favores em troca? Os fisiológicos apoiaram FHC por oito anos, deslocaram-se em massa para o PT até recentemente e agora passaram todos para o lado de Temer. Foi só durante a era petista que essa necessidade de proximidade com a máquina pública foi motivada por interesses escusos?
É inteiramente legítimo responsabilizar o PT por ter parcipado disso, mas dizer que o sistema foi montado para perpetuar o PT no poder é ridículo. O sistema já estava ali e, aliás, nunca perpetuou ninguém no poder, justamente porque se adapta facilmente a mudanças de presidente.
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Celso Rocha de Barros é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. É analista do Banco Central e escreve às segundas para a Folha.
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