Acuado pela Justiça, correndo o risco de ficar inelegível e ser preso, Lula foi ao ataque numa longa e rara entrevista exclusiva à imprensa brasileira, concedida à repórter Mônica Bergamo e publicada em duas páginas da Folha desta quinta-feira.
Lula bateu em Sérgio Moro, nos desembargadores que o condenaram em segunda instância, no Ministério Público, na Polícia Federal e na Globo, mas em nenhum momento perdeu a tranquilidade e o bom humor.
Aos seus adversários, mandou um recado: “Não vou me matar nem fugir do Brasil. Não tenho medo de nada e vou brigar até o fim”.
Foi uma lição de entrevista dos dois lados, uma conversa franca sobre todos os assuntos que envolvem o ex-presidente.
Monica perguntou a Lula tudo o que eu também gostaria de saber.
Este é o papel do repórter: colocar-se no lugar do leitor e arrancar do entrevistado todas as respostas possíveis.
Pelo seu ineditismo e conteúdo, foi um furo de reportagem que me fez lembrar a célebre entrevista de Samuel Wainer, a primeira com Getúlio Vargas exilado em sua estância na fronteira gaúcha, depois de ser derrubado do poder em 1945, na qual anunciou a sua volta à vida política.
Lula nunca saiu dela e nem pensa nisso, quaisquer que sejam as decisões da Justiça, que já o condenou a doze anos e um mês de prisão.
Antes de gravar, a repórter viu sobre a mesa de Lula um briefing preparado pela sua assessoria sobre a entrevistadora, que ela reproduziu na abertura da matéria:
“Busca esta entrevistas faz anos, cercando amigos e conhecidos do presidente para isso. Ela tentará: interromper, questionar o discurso, apontar contradições, tentar que assuma erros e investir muito em plano B”.
Pois foi exatamente o que Mônica fez, os assessores estavam certos.
Citando uma declaração de Ciro Gomes, foi direto ao ponto na primeira pergunta:
“Ninguém no Brasil acredita que o senhor poderá ser candidato a presidente. Quando chegará a hora de discutir o lançamento ou o apoio a outro nome?”.
E Lula foi objetivo na resposta:
“Se eu não acreditasse na possibilidade de a Justiça rever o crime cometido contra mim pelo Moro e pelo TRF-4, eu não precisaria fazer política(…) E acredito que essas pessoas deveriam ser exoneradas a bem do serviço público(…) Então o que eu espero? Que o Supremo Tribunal Federal analise o processo, veja os depoimentos, as provas e tome uma decisão. Por isso tenho a crença de que vou ser candicato”.
Lula pode estar sendo otimista demais ou fora da realidade, mas durante toda a entrevista ele falou como candidato e não quis nem discutir o Plano B do PT.
Mesmo assim, disse que está preparado para ser preso e se queixou dos prejuízos causados à sua família:
“Eu tenho todos os meus filhos desempregados. Todos. E ninguém consegue arrumar emprego. Essa gente já foi na minha casa. Ficaram três horas, levantaram o colchão da minha cama, revistaram tudo e não encontraram nada. Saíram com o rabinho no meio das pernas”.
No momento mais tenso da entrevista, a repórter perguntou se no caso da reforma do sítio de Atibaia “não foi no mínimo uma relação promíscua entre um político e uma empreiteira”. Foi a única pergunta que ele não respondeu:
“Quando eu for prestar depoimento, eu espero que essas sejam as perguntas que eles me façam”.
Monica insistiu: “Mas eu estou fazendo agora”.
“Não, você não é juíza. Eu vou esperar o juiz porque se eu responder para você, o Moro vai fazer outras (…) Eu quero saber onde eles vão chegar. Eu quero saber o limite da mentira”.
Se o caro leitor ainda não leu a entrevista inteira, vale a pena comprar o jornal ou pegar na internet.
É a primeira oportunidade, que me lembre, de se conhecer a versão de Lula sobre o momento grave que está vivendo, pois há tempos ele se recusa a falar com repórteres da grande imprensa brasileira.
Fica a certeza de que desta vez Lula estava com vontade de falar, às vésperas do julgamento do seu pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, que foi adiado para a próxima semana.
E vida que segue.
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Ricardo Kotscho é jornalista no blog Balaio do Kotscho.
Lula bateu em Sérgio Moro, nos desembargadores que o condenaram em segunda instância, no Ministério Público, na Polícia Federal e na Globo, mas em nenhum momento perdeu a tranquilidade e o bom humor.
Aos seus adversários, mandou um recado: “Não vou me matar nem fugir do Brasil. Não tenho medo de nada e vou brigar até o fim”.
Foi uma lição de entrevista dos dois lados, uma conversa franca sobre todos os assuntos que envolvem o ex-presidente.
Monica perguntou a Lula tudo o que eu também gostaria de saber.
Este é o papel do repórter: colocar-se no lugar do leitor e arrancar do entrevistado todas as respostas possíveis.
Pelo seu ineditismo e conteúdo, foi um furo de reportagem que me fez lembrar a célebre entrevista de Samuel Wainer, a primeira com Getúlio Vargas exilado em sua estância na fronteira gaúcha, depois de ser derrubado do poder em 1945, na qual anunciou a sua volta à vida política.
Lula nunca saiu dela e nem pensa nisso, quaisquer que sejam as decisões da Justiça, que já o condenou a doze anos e um mês de prisão.
Antes de gravar, a repórter viu sobre a mesa de Lula um briefing preparado pela sua assessoria sobre a entrevistadora, que ela reproduziu na abertura da matéria:
“Busca esta entrevistas faz anos, cercando amigos e conhecidos do presidente para isso. Ela tentará: interromper, questionar o discurso, apontar contradições, tentar que assuma erros e investir muito em plano B”.
Pois foi exatamente o que Mônica fez, os assessores estavam certos.
Citando uma declaração de Ciro Gomes, foi direto ao ponto na primeira pergunta:
“Ninguém no Brasil acredita que o senhor poderá ser candidato a presidente. Quando chegará a hora de discutir o lançamento ou o apoio a outro nome?”.
E Lula foi objetivo na resposta:
“Se eu não acreditasse na possibilidade de a Justiça rever o crime cometido contra mim pelo Moro e pelo TRF-4, eu não precisaria fazer política(…) E acredito que essas pessoas deveriam ser exoneradas a bem do serviço público(…) Então o que eu espero? Que o Supremo Tribunal Federal analise o processo, veja os depoimentos, as provas e tome uma decisão. Por isso tenho a crença de que vou ser candicato”.
Lula pode estar sendo otimista demais ou fora da realidade, mas durante toda a entrevista ele falou como candidato e não quis nem discutir o Plano B do PT.
Mesmo assim, disse que está preparado para ser preso e se queixou dos prejuízos causados à sua família:
“Eu tenho todos os meus filhos desempregados. Todos. E ninguém consegue arrumar emprego. Essa gente já foi na minha casa. Ficaram três horas, levantaram o colchão da minha cama, revistaram tudo e não encontraram nada. Saíram com o rabinho no meio das pernas”.
No momento mais tenso da entrevista, a repórter perguntou se no caso da reforma do sítio de Atibaia “não foi no mínimo uma relação promíscua entre um político e uma empreiteira”. Foi a única pergunta que ele não respondeu:
“Quando eu for prestar depoimento, eu espero que essas sejam as perguntas que eles me façam”.
Monica insistiu: “Mas eu estou fazendo agora”.
“Não, você não é juíza. Eu vou esperar o juiz porque se eu responder para você, o Moro vai fazer outras (…) Eu quero saber onde eles vão chegar. Eu quero saber o limite da mentira”.
Se o caro leitor ainda não leu a entrevista inteira, vale a pena comprar o jornal ou pegar na internet.
É a primeira oportunidade, que me lembre, de se conhecer a versão de Lula sobre o momento grave que está vivendo, pois há tempos ele se recusa a falar com repórteres da grande imprensa brasileira.
Fica a certeza de que desta vez Lula estava com vontade de falar, às vésperas do julgamento do seu pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, que foi adiado para a próxima semana.
E vida que segue.
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Ricardo Kotscho é jornalista no blog Balaio do Kotscho.
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