O papa Francisco (Jorge Mario Bergoglio) foi professor de Literatura na Argentina, e como nós, amava os clássicos, a energia criativa e imaginária dos textos literários.
“Admirava muito a Borges. Me impressionavam a seriedade e dignidade com que vivia sua existência, era um homem sábio e profundo. Aos 27 anos, quando me tornei professor, dei um curso de escrita criativa aos alunos e decidi mandar a Borges, por meio de sua secretária - que havia sido minha professora de piano - dois contos escritos pelos alunos. Eu era mais jovem do que aparentava, e Borges já era, por sua vez, um dos autores mais reconhecidos do século XX. Não obstante, pediu para que os lessem a ele - que já estava praticamente cego - e gostou muito. Eu o convidei a dar uma aula e ele aceitou; podia falar de qualquer coisa. Aos 66 anos, tomou um ônibus e fez uma viagem de oito horas, de Buenos Aires a Santa Fé. Em uma das ocasiões chegamos tarde porque, quando fui buscá-lo no hotel, me pediu ajuda para se barbear. Borges era um agnóstico que toda noite rezava um Pai-Nosso porque havia prometido isso à mãe, e antes de morrer recebeu os sacramentos. Só um homem com espiritualidade poderia escrever palavras como “Lenda” (conto sobre Caim e Abel)”.
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Feliciano Bezerra é professor doutor da UESPI - nas redes sociais.
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