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30/06/2013 - 11h17

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30/06/2013 - 11h17

Blatter critica governo após onda de protestos no Brasil

Presidente da Fifa dá entrevista exclusiva ao LANCE!Net em que fala dos estádios, protestos e casos de corrupção na entidade.

 Lance!Net

Presidente da Fifa disse que não pediu estádios como obras de arte (Foto: Pablo Porciuncula/AFP)

 Presidente da Fifa disse que não pediu estádios como obras de arte (Foto: Pablo Porciuncula/AFP)

O presidente da Fifa foi fiel à mudança de estratégia recente e não se furtou em dar sua opinião sobre a onda de protestos que varreu o país nas últimas semanas, seja em dia de jogo da Copa das Confederações ou não. Para ele, o evento da Fifa acabou tendo o mérito de fazer a população se manifestar. Na análise da preparação do Brasil para a Copa de 2014, Blatter cutucou o governo brasileiro, admitiu que a escolha de 12 sedes foi política e questionou o pouco que foi feito de infraestrutura desde 2007.

Mas Blatter também fez reflexões internas sobre a Fifa, de como a entidade tenta se livrar dos casos de corrupção. Defendeu-se sobre a participação em qualquer esquema de desvio e desabafou sobre a responsabilidade de lidar com todos esses problemas. Confira abaixo o que pensa o chefe do futebol mundial.

A Fifa recebe críticas de que só quer saber dos estádios e não se importa com a infraestrutura. Isso é real?

Nós estamos preocupados com o legado da Copa do Mundo, é claro. Quando a Copa foi dada ao Brasil, em 2007, houve festa, apoio em todo o país. Diziam: “Nós temos a Copa do Mundo, nós temos a Copa do Mundo!". Primeiramente houve a candidatura e a mesma lista de requerimentos e o mesmo contrato dados a outros organizadores da Copa. A demanda básica da Fifa é ter estádios à disposição, mas não pedimos estádios acima de 80 mil pessoas. Pedimos para a semifinal e a final. Começamos do ponto de vista de que a infraestrutura, toda a logística urbana para ir aos estádios, deve ser feita pelas cidades-sede e pelos governos. E por quê? Porque isso é parte do legado. O país se candidata para a Copa, e nós pedimos os estádios. Penso que, em um país que ainda é identificado como a sexta economia do mundo, eu posso entender agora toda essa reação em torno dos protestos. Mas não posso entender o porquê, entre 2007 e 2013, nada mais foi feito na área de infraestrutura, de acordo com o que foi estabelecido, de que os estádios seriam construídos por fundos privados, e a infraestrutura, que será usada pela população do país, entregue.

A imagem da Fifa não é afetada de alguma forma quando o legado é prometido, mas não é entregue?

Sei que há esse descontentamento da população. Mas talvez porque a Fifa está aqui, a população escolheu este momento para fazer seus protestos e dizer o que quer. Queremos o futebol, mas não queremos o dinheiro indo para estádios tão caros. Nunca pedimos para criar estádios como se fossem obras de arte. Futebol é uma religião aqui. Os estádios são como catedrais, e nas catedrais você põe tudo o que as cidades escolhem. Houve 17 cidades candidatas. Podemos jogar em oito estádios. Na África do Sul foram 10.

A escolha de 12 cidades na época do governo Lula teve muita relação com a política?

Definitivamente, pois todas as regiões queriam ser consideradas. Se soubesse quantas cartas recebemos de pessoas de Manaus, de governador, prefeito, todos pedindo para que a Fifa considerasse Manaus, dizendo que queriam ser uma sede. “Aqui é a floresta amazônica, nós queremos ser uma das cidades”, diziam. Nós recebemos esses pedidos e enviamos pessoas a Manaus. Não é somente uma questão de um estádio que não será tão usado porque não há muito futebol, mas no mínimo tínhamos que considerar Manaus para a Copa. Mas isso não foi uma decisão nossa.

A Copa hoje é um evento só para os mais ricos?

Começou com 16 seleções, o que é relativamente fácil para organizar. Depois, para 24 times, o que elevou a capacidade de organização para atender todos os que jogavam. E agora compete-se com 32. Minha ideia quando assumi a presidência era fazer um rodízio entre os continentes para a disputa da Copa. Antes, ou era disputada na Europa ou nas Américas. Então começamos com Ásia, com a Copa da Coréia do Sul e do Japão, depois tinha que ter uma na Europa e ficaram com uma, depois fomos para a África e agora América do Sul. Depois nós vamos voltar à Europa, mas uma nova parte da Europa, que é a Rússia. O Leste Europeu não recebe um grande evento desde a Olimpíada de Moscou, em 1980. E, finalmente, vamos para o mundo árabe. O mundo árabe, estendido para o mundo islâmico, compreende mais de um bilhão de pessoas. Eles também devem ter uma Copa, no Qatar. Eles são ricos. Uruguai não pode organizar uma Copa do Mundo, pelo menos não sozinho. Por isso eles apresentaram a candidatura conjunta com a Argentina. O Uruguai organizou a Copa de 1930, e eles querem fazer isso de novo junto com a Argentina. Juntos podem dividir os custos. E também organizar uma Copa do Mundo não é só uma questão de dinheiro. É uma questão também de investimento do próprio país. Nós nunca dissemos para ninguém: “Vocês têm que organizar a Copa”. Todos os países quiseram ter uma Copa, e há uma lista de requerimentos, demandas e condições básicas que esses países têm que atender. É sempre uma disputa para organizá-la. Temos diversos pequenos países com outras competições, futsal, sub-20, que a Colômbia organizou recentemente. Existem diferentes passos e requisitos que tem que cumprir, dependendo da competição.

Para muitas pessoas é difícil acreditar que o senhor esteve na Fifa por 33 anos e tantos casos de corrupção foram cometidos enquanto o senhor estava no gabinete. O que dizer a esses críticos?

Nunca estive envolvido com nenhuma transação monetária, se não estaria envergonhado e certamente não estaria aqui. Tenho de dizer que os membros do Comitê Executivo não são eleitos pelo Congresso, são eleitos pelas diferentes confederações continentais. Não tenho influência para eleger ou dizer quem estará no meu governo. Então, eu tenho que aceitar quem foi eleito para o meu governo. Quando me tornei presidente, começamos uma “aproximação econômica”. Naturalmente, com mais dinheiro disponível, há mais apetite para algumas atividades. O trabalho primário do presidente da Fifa é assegurar que a Fifa ande bem. Percebemos, em 2001, que nosso marketing, e depois nosso parceiro de televisão, estava em processo de insolvência (ISL). A situação ficou pior por causa dos ataques terroristas de 11 de setembro, em Nova York (EUA). Então percebemos que havia algo errado em tudo isso e, pela minha iniciativa, levamos isso à Justiça suíça. Eles tomaram uma decisão. Naquela época, não havia membro da Fifa envolvido em nenhum desvio. Porque o dinheiro que foi pago a alguns membros foi a título de comissões, de acordo com a lei suíça. Agora eles proibiram esse tipo de prática. Do momento em que o Comitê de Ética começou a trabalhar, em 2006, até agora perdemos metade dos membros do Comitê Executivo. Como presidente, não poderia tirá-los porque, enquanto você não é condenado, você é supostamente inocente. Alguns saíram por vontade própria, outros foram banidos.

O processo de reforma na entidade está concluído?

Faltam alguns pontos. Temos uma auditoria e um Comitê de Observadores eleitos pelo Congresso, o Comitê de Ética eleito pelo Congresso, Comitê Disciplinar e Comitê de Apelação. Estamos realmente em uma organização democrática. Temos que ir mais fundo, e há dificuldades, porque temos grandes associações que nem sequer têm um Comitê de Ética próprio. O Código de Ética e Conduta serve para todos.

 

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