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11/09/2012 - 14h36

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11/09/2012 - 14h36

Albertão, 39 anos: um gigante perdido no tempo

Subutilizado, estádio não se modernizou e é reflexo do atraso de 20 anos do futebol piauiense.

 Portal da Clube

 

 

Na tarde do dia 26 de agosto de 1973, o então administrador de uma construtora do centro de Teresina se preparava para uma grande estreia. Nas ruas da capital do Piauí, não se falava em outra coisa. Afinal, era o início de uma época de ouro do futebol piauiense. Pela manhã, Antônio Mascarenhas passou o dia em casa. Entretanto, a expectativa de ver um jogo nacional o entusiasmava a cada segundo.

Aos 25 anos de idade, na época, Antônio se preparava junto com um grupo de amigos para fazer parte de uma história. Ele era um dos milhares de torcedores que ocuparam, pela primeira vez, as arquibancadas do Estádio Alberto Tavares Silva, o Albertão. “O novo estádio era tratado como uma revolução do esporte. A magnitude da construção impressionava. As colunas davam uma sensação majestosa. Me lembro dos fogos, dos gritos e das ansiedades de cada torcedor”, narra Mascarenhas.

Momentos distintos: Em 73, ano da estreia, torcida lota Albertão. Em 2012, situação é diferente.

Recém-inaugurado, o Albertão sediava a partida entre Tiradentes, o Amarelão da PM, e o clube carioca Fluminense naquele agosto de 73. “Estava lotado. Tinha mais de 30 mil pessoas. Sentei na primeira fila das arquibancadas em baixo das cabines de rádio. Era uma emoção imensurável”, recorda Antônio Mascarenhas, hoje com 64 anos. Da estreia, o aposentado prefere apagar apenas o trágico acidente. Assustados com a possibilidade de desabamento do estádio, torcedores romperam uma grade de segurança. Pelo menos cinco pessoas morreram.

“Passando o episódio das mortes, o jogo foi um espetáculo, apesar do 0 a 0. O Tiradentes era um timaço. A paixão pelo futebol me motivou a comparecer aos outros jogos de 1973, 74 e 75”, lembra Antônio. Passado de glórias, o cenário narrado pelo aposentado parou ao longo do tempo e contrasta com a realidade. Esquecido, o glorioso Albertão serve apenas para a fotografia.

As fotografias com a torcida piauiense lotando o estádio ficaram apenas no registro. Na entrada do Albertão, placas com a primeira participação da Seleção Brasileira no Piauí, em 1989 contra o Paraguai, que levou 57 mil torcedores, indicam um passado de vitórias do futebol local. Imagens – como a do jogo do Tiradentes e Flamengo, com mais de 60 mi torcedores – fazem Antônio Mascarenhas viajar pelo tempo.

“Antes, tinha futebol. Como eram bons os domingos. Existia um time, o que incentiva os torcedores. O Tiradentes se destacava no Brasileiro. Era um prazer ir ao estádio com os filhos e família. Era uma festa. O Albertão é como se fosse um mundo”, compara o aposentado. Ele acrescenta. “Os times locais acabaram, infelizmente. A torcida tem que ser resgatada. Porém, o futebol dos clubes também devem passar por esse processo”, contrapõe.

Estádio não acompanhou evolução do tempo

A história contata por Antônio Mascarenhas resgata um passado. Porém, com quase 40 anos o Albertão não se modernizou. Ou melhor, parou no tempo. Nas discussões sobre as sedes da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, o estádio sequer foi lembrado. Um duro golpe aos velhos torcedores que antes marcavam presença nas memoráveis décadas de 70 e 80.

Pequenas reformas foram feitas ao longo dos últimos anos, como a implantação de 6.444 cadeiras nas arquibancadas. Porém, o local ainda não possui catracas e bilheterias eletrônicas. Algumas obras de manutenção foram paralisadas. Adaptações para a acessibilidade também não foram concluídas. Nos banheiros, vazamentos e desgaste nas paredes. Entulhos das obras realizadas também podem ser vistos pelos corredores.

Além disso, com capacidade atualmente restringida para 35 mil torcedores – devido às normas de ocupação e conforto estabelecidas no Estatuto do Torcedor – o estádio não abriga nem mesmo as partidas do Campeonato Piauiense, principal competição local. Nos jogos do Comercial, durante a campanha do time de Campo Maior na Série D do Campeonato Brasileiro, poucos torcedores compareciam ao estádio. Ao invés dos gritos da torcida de incentivo, o silêncio.

Esquecido: Estádio passou por reformas, mas problemas ainda existem.

Este silêncio incomoda, chateia ao taxista Francisco Pinto, 62 anos. Assim como o aposentado Antônio Mascarenhas, ele também estava na inauguração do Albertão. “Era policial aposentado e esperei meu plantão terminar para ver a estreia do Albertão. Ao longo do tempo, a torcida abandonou o estádio. Há dois anos, retornei pela última vez para acompanhar um jogo do Piauiense Sub-18. Era Flamengo e Krac, se eu não me engano. Dava para contar nos dedos os torcedores. Não tinha nem 100 pessoas”, lamenta Pinto.

Sem futebol, o enorme túnel de acesso ao gramado fica fechado. Um cadeado no portão de entrada e as bilheterias fechadas compõe o melancólico cenário de um estádio que adormece aos 39 anos.

Qual seria a solução?

Portões fechados: Última partida com mais de 26 mil pessoas aconteceu em junho deste ano. O Flamengo (RJ) venceu a Seleção do Piauí por 2 a 0 em amistoso.

Os personagens-torcedores ouvidos nesta reportagem aguardam pelo retorno do velho Albertão. Além deles, outros inúmeros apaixonados pelo esporte piauiense. Seriedade, incentivo e estrutura são as palavras em comum descritas por Antônio Mascarenhas e Francisco Pinto.

O presidente da Federação de Futebol do Piauí (FFP), Cesarino Oliveira, admite que o Albertão faz falta. O dirigente contextualiza que o atraso na gestão do futebol piauiense nos últimos 10 anos refletiu para a atual situação do estádio. “Infelizmente o nosso futebol não está à altura do Albertão. Nem o futebol, a administração e os clubes. Temos uma praça esportiva maior que podemos atingir. Nem mesmo no acanhado Lindolfinho [estádio Lindolfo Monteiro] a torcida lota para assistir ao Rivengo”, analisa Oliveira.

Segundo o presidente, adequações foram feitas nos últimos anos, porém faltam mais parcerias. “Não podemos desprezar e muito menos deixar de lado. O trabalho de resgate do torcedor ainda vai demorar um tempo. É necessário ter foco e objetivo. E isso não é clichê. Temos que reunir a Federação, Fundespi, clubes e torcedores para encontrar uma alternativa. Da situação em que se encontra, não podemos nem trazer a Seleção Brasileira ao Piauí”, argumenta o dirigente.

Entre as ideias citadas pelo dirigente para voltar a aproximar o Albertão do público é aproveitar o espaço não utilizado para fazer escolinhas de futebol com os clubes. “Os alojamentos poderiam ser usados. Além disso, as salas podem se tornar sede de federações de outras modalidades esportiva. Boa vontade resolve”, explica. Ainda de acordo com Cesarino, um convênio do Governo do Estado prevê a instalação de novas catracas para o próximo ano.

Vazio: Sem futebol, luzes dos corredores ficam apagadas. Estádio também se apaga no tempo.

De acordo com a assessoria de comunicação da Fundespi, Fundação de Esportes do Piauí, órgão estadual responsável pela direção do estádio, 95% das obras de reforma – iniciadas no ano de 2008 – foram concluídas. Entre as reformas feitas, melhorias nos banheiros, infiltrações, instalações elétricas e hidráulicas, acessibilidade e segurança no combate a incêndio.
“A licitação da obra para iniciação dos trabalhos de colocação das catracas, circuito interno de TV, cobertura dos túneis e outras reformas está sob análise da Caixa Econômica Federal”, informou a Fundação.

 

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