Um ano e 26 dias após o corpo da estudante Fernanda Lages ser encontrado na obra do prédio da Procuradoria Geral da República, a Polícia Federal do Piauí divulga hoje (20) o resultado das investigações. Tendo entrado no caso por conta da suspeita de que Fernanda estava envolvida no tráfico internacional de mulheres, a Polícia Federal investigou a morte da estudante partindo do princípio de que ela foi assassinada.
A coletiva da Polícia Federal foi aberta pelo superintendente no Piauí, Nivaldo Farias. Ele iniciou sua fala fazendo uma retrospectiva do caso, destacando que dois meses após a ocorrência a polícia civil fez a investigação e que o Ministério Público, não satisfeito com a conclusão do inquérito apresentado pela Polícia Civil, uniu esforços junto ao Ministério Público Federal, Governo do Estado e da Procuradoria de Justiça para, através de expedientes enviados ao ministro da justiça, solicitar a entrada da Polícia Federal na investigação do caso.
Segundo Nivaldo Farias, o mote da investigação foi a prática de tráfico de pessoas, mas que não haveria como investigar o tráfico de pessoas sem investigar a morte de Fernanda Lages, afinal, para ele, se não investigasse a morte não teria como investigar o caso.Foto: Portal O Dia.
"A Polícia Federal iniciou a investigação considerando um homicídio e a PF passou por vários caminhos, utilizou tecnologia de ponta para dar uma resposta à altura. Hoje é o dia anunciar resultados", afirmou. "O que for apresentado aqui é o que sabemos e o que manteremos", disse.
Delegado Edilson Freitas, responsável pela investigação da morte de Fernanda Lages, destacou os trabalhos desenvolvidos pelo Ministério Público e pela Polícia Civil do Estado. "Há que se respeitar as investigações da Polícia Civil do estado do Piauí".
Segundo ele, não foi encontrado, durante as investigações, qualquer indício de que Fernanda Lages fazia parte do tráfico internacional ou, mesmo, interestadual de mulheres.
Lesões e perícia técnica
O delegado Nivaldo Farias, responsável pela investigação da morte da estudante fez a apresentação do resultado do inquérito.
Segundo o delegado, a PF não encontrou indícios de tráfico internacional ou interestadual de mulheres. No entanto para tanto, foi preciso investigar Fernanda Lages, a morte da estudante e as pessoas que estão no entorno de Fernanda.
Inicialmente, o delegado mostrou a planta do prédio do MPF, onde Fernanda foi encontrada morta e mostrou que no primeiro momento, foi colocada a versão de que a morte teria sido por pauladas, embaixo no prédio. "Cinco dias depois, depois de uma forte chuva, deram-se conta de que ela poderia ter caído do alto do prédio", disse.
Através de uma animação feita em computador, o delegado mostrou como a PF acredita que ela tenha caído, considerando as lesões apresentadas pelo corpo, inclusive as unhas, afundamentos na cabeça, lesões no braço, fraturas no crânio.
"A fratura óssea de batida e de queda são muito diferentes. As fraturas nas costelas foram provocadas pelo braço, que ela caiu por cima e que ficou com fratura exposta no momento em que a jovem teria tentado amenizar a queda", afirma Nivaldo.
Com relação ao dente, o delegado afirmou que o dente quebrou de dentro para fora e não de fora para dentro. O dente teria se quebrado no local em que houve a lesão no crânio. "Não há nenhuma lesão que não tenha sido feita pelo solo. Todas as costelas foram fraturadas, em grau maior ou menor, mas todas foram fraturadas a partir do contato violento com o solo", disse.
De acordo com o delegado, a marca mais evidente de que Fernanda estava em pé em cima da mureta é o vestido levantado até a metade das coxas e a perna da estudante contendo marcas de ferimentos apenas posteriores à queda. A velocidade que o corpo atingiu durante a queda mostra, de acordo com Freitas, que Fernanda não poderia ter sido jogada.
Números
Foram investigadas várias pessoas, tendo suas vidas profundamente checadas e analisadas. Ao todo, de acordo com o relatório, foram ouvidas mais de 150 pessoas. Foram ouvidas mais de 184 horas de escutas telefônicas e 11.825 áudios foram periciados pela PF.
Exames
O delegado apresentou uma linha do tempo sobre Fernanda Lages, em que a PF analisou o último ano de vida de Fernanda Lages até o dia de sua morte. Na linha do tempo, o último dia de vida da estudante foi descrito pelo delegado desde a manhã até a madrugada do dia 25, quando foi encontrada morta na sede do MPF.
"Segundo várias testemunhas, ela teria saído sozinha, passa pelo posto de gasolina sozinha, chega em frente ao prédio da MPF sozinha, teria entrado sozinha na construção. Dentro da obra não há vestígio de outras pessoas", diz.
Para o delegado, o carro de Fernanda tinha um "defeitinho" no farol após uma pequena batida no carro, que mudava o foco de iluminação dos faróis e que facilitou a identificação do veículo nas imagens capturadas pelas câmeras de segurança utilizadas durante a investigação.
Às 05h22, o carro teria saiu do Bar Pernambuco e seguido pela avenida Miguel Rosa. Às 05h23, ela recebeu uma ligação de Daniel Said, mas não fez nenhuma outra ligação nem recebeu nova ligação.
A iluminação mostrava o veículo circulando até a obra do MPF. "Fizemos várias simulações, no mesmo local, com passageiros e sem passageiros em um veículo igual ao dela. Ela estava sozinha", disse.
Conclusão do inquérito
Com base nas investigações realizadas, o resultado apresentado pela Polícia Federal concluiu por suicídio ou queda acidental, devido aos seguintes principais indícios:
- Não havia qualquer motivação para o homicídio de Fernanda;
- A estudante estava sozinha no momento em que entrou na obra;
- Não há qualquer sinal de luta corporal;
- As evidências mostram que houve esforço próprio por parte de Fernanda para subir na mureta do prédio;
- As marcas nas pernas mostram que o vestido estava arrumado no momento da queda;
- Fernanda tomava remédios pra enxaqueca que, combinados com bebidas alcoólicas que a estudante consumia, poderiam gerar efeitos de motivações suicidas.
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