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Segunda-feira, 18 de novembro de 2024
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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

05/01/2017 - 11h51

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Ana Regina Rêgo

anareginarego@gmail.com

05/01/2017 - 11h51

Um país de machistas e hipócritas que aceita silenciosamente a banalização da violência contra a mulher

Na virada do ano mais um crime bárbaro chocou o país e a imprensa irresponsável trata de alimentar a curiosidade com informações parciais e desencontradas, pontuando e exacerbando tudo o que pode para atrair uma maior audiência, objetivando manter o tema na agenda do público, que é alimentado com pequenas doses, esperando as cenas dos próximos capítulos. Dito isso, deixo claro que não tratarei do crime, como também, não tratarei do perfil psicológico do assassino, visto não se tratar de um caso isolado, mas de mais um episódio que passa a compor o cenário brasileiro, cada vez mais obscuro, quando se trata de violência contra a mulher.

 

PARA QUEM NÃO SABE: O BRASIL POSSUI A QUINTA MAIOR TAXA DE FEMINICÍDIO DO MUNDO! São 4,8 mortes para 100 mil mulheres  segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Já tratei várias vezes deste tema nessa coluna, mas trago novamente os dados para refrescar a memória dos que fingem não ver o que se passa no Brasil.

 

O Mapa da Violênciade 2015  revela que entre  2003 a 2013, o número de assassinatos de mulheres negras cresceu 54%, passando de 1.864 para 2.875. Para o mesmo período, a quantidade anual de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, saindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em 2013. Esse resultado aponta para um aumento de 190,9% na vitimização de negras, índice que resulta da relação entre as taxas de mortalidade branca e negra.

 

Vale ressaltar ainda que do total de feminicídios registrados em 2013, 33,2% dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas.

 

O caso de Campinas obteve visibilidade midiática pelo perfil dos envolvidos e pela quantidade de vítimas, revelando a face cruel e doente da nossa sociedade quetraspassa, invade e ser perpetua em todas as classes sociais. A carta do assassino traz argumentos completamente distorcidos sobre direitos e deveres de pai e de companheiro, assim como, sobre a legislação brasileira que busca proteger a mulher da violência masculina. O machismo, a dominação, o poder, a falta de compreensão e o desamor, estão no centro do fatídico evento que vitimou mãe, filho e amigos. Tudo isso fruto de uma educação cultural completamente equivocada que há milhares e milhares de anos vem mantendo as mulheres sob o julgo do sexo masculino. Educação comum a quase toda a nossa sociedade.

 

Contudo, é a invisibilidade que mais me preocupa. São os milhares de casos de violência psicológica, moral, física (espancamentos, estupros e assassinatos) de mulheres pobres, em sua grande maioria, negras que mancham esse país de sangue todos os dias e não são conhecidos. São as brasileiras anônimas sem nenhum direito, nem mesmo de exercer a cidadania e ocupar o seu lugar como mulher que nos fere e nos revolta. QUE DROGA DE PAÍS É ESTE?

 

São pessoas sem rosto, sem nome conhecido, são as esquecidas, são as que não possuem ninguém pra defendê-las, são elas as que mais sofrem.

 

Portanto, independente das dissidências ideológicas que abarcam as questões de gênero; independente das divergências entre as posições do feminismo branco e do feminismo negro, cujas bandeiras são distintas, porque revelam o lugar social de cada grupo; há uma grande bandeira que é de todas as mulheres, mas que precisa da conscientização dos homens, pois se trata dos direitos e da vida das mulheres, sobretudo, das abandonadas à própria sorte.

 

LUTAMOS POR DIREITOS IGUAIS. ISSO É FEMINISMO. É impensável e muitas vezes revoltante que em pleno século XXI estejamos nos meios de comunicação e fora deles, com as mesmas reivindicações que as mulheres dos séculos anteriores.

 

DESEJAMOS QUE TODAS AS MULHERES TENHAM OS MESMOS DIREITOS QUE TODOS OS HOMENS, em qualquer condição e situação.  Mas, na verdade ainda estamos lutando por direitos básicos, como o direito de ir e vir, o direito à vida,o direito ao trabalho e uma remuneração digna, o direito de se vestir como desejar, o direito de existir e exercer a cidadania plena.

 

O QUE REVOLTA AINDA MAIS, é perceber que a maior parte da cultura machista que impregna este país, é assimilada e disseminada pelas mulheres, que ainda e infelizmente, educam seus filhos diferentes de suas filhas. Que falam dos filhos homens como se fossem superiores às mulheres. Que depreciam a própria mulher. Que condenam as mulheres que não se submetem a maridos ou companheiros.

 

OUTRA QUESTÃO COMPLICADA está no fato de que os homens não assumem o potencial de violência de suas condutas. Segundo a pesquisa Avon/Data Folha 52 milhões de brasileiros conhecem algum homem violento, entre família, parentes e amigos. Contudo, destes, somente 9,4 milhões reconhecem já ter tido alguma atitude violenta contra mulheres, crianças e outros.

 

O Mapa da Violência já mencionado acima revela ainda quais os tipos de violência registradas em atendimentos em unidades do SUS. Crianças, por exemplo, em 2014 tiveram 27.315 ocorrências, destas 7.920 foram de violência sexual (assédio e estupros), enquanto que 6.020 foram violência física (espancamento). Já entre as mulheres jovens houveram 30.461 casos de violência física e 3.183 casos de violência sexual. Entre as adolescentes os estupros sobem para 9.256. Entretanto, são as mulheres adultas as que mais apanham; os casos registrados, nessa faixa etária, somam40.653. As idosas também são alvo de violência, 3.684 sofreram violência física e 277 foram sexualmente violentadas.

 

ASSIM, DIANTE DESSE CENÁRIO ESTARRECEDOR, EM QUE A IGNORÂNCIA GERA POTENCIALMENTE VIOLÊNCIA É QUEDESEJO UM BRASIL MAIS EDUCADO DO PONTO DE VISTA CULTURAL, MAIS HUMANO E MAIS GENTIL COM TODAS AS MULHERES INDISTINTAMENTE !!!

 

Espero que em 2017 possamos mudar essa realidade!

Ana Regina Rêgo

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