Já conversamos neste espaço opinativo sobre nossa vocação contemporânea para o trabalho gratuito (muitas vezes escravos de nós mesmos e em extensão das empresas que controlam as redes sociais). Também já batemos um papo sobre nossa aceitação voluntária da imposição social, de uma exposição pessoal constante, assim como, da necessidade de estarmos sempre em frequente julgamento de todos que nos rodeiam e de tudo o que compramos ou experimentamos, serviços ou produtos, ou passeios, etc.
A sociedade do julgamento comentada por Bourdieu encontra-se hoje potencializada, o julgar enquanto atividade do espírito foi rebaixada a um comando mercadológico em busca de credibilidade para marcas pessoais que somos e que julgam e são julgadas por marcas empresariais.
Julgamos o atendimento e a comida dos restaurantes, com estrelas nos aplicativos, que nos oferecem a oportunidade de ganhar pontos junto aos nossos seguidores e também frente a empresa que estou credibilizando, porque o“restaurante” tem ou pode vir a ter credibilidade ou é frequentado por um grupo do qual desejo me aproximar.
Julgamos o motorista do Uber. Julgamos a foto dos amigos e dos inimigos, com curtidas ou com silêncio, porque assim, aparecemos mais e nos colocamos disponíveis para julgarmos. Em geral, julgamos positivamente para que assim sejamos julgados.
Todavia, essa sociedade do julgamento, cujas características foram apropriadas e potencializadas pelo mercado, sobretudo, pelos gigantes das mídias sociais e empresas do e-commerce, ganhou já há alguns anos um grande aliado, o algoritmo, cuja funcionalidade é guiar nosso olhar e direcionar tanto experiências que nos sejam mais favoráveis, quanto produtos que gostamos.
Se há cerca de 4 ou 5 anos as empresas de publicidade começaram a perceber que a visibilidade de seus clientes tinha sido reduzida a 10% da capacidade potencial que a rede oferecia antes, determinando a via do pagamento, como o principal caminho para a projeção e reflexividade no ambiente virtual, para o caminho da visibilidade; inclusive, com formas de pagamento variadas e casadas entre si, com a concretização de relações comerciais, interesses em bancos de dados e pagamento em cash. Mais recentemente, há cerca de um ano ou um ano e meio, não mais que isso, começamos a perceber que a economia virtual do algoritmo tem mudado dia-a-dia a nossa time-life, procurando oferecer uma experiência agradável, eliminando por exemplo, as diferenças de opinião e ideológicas.
Isso significa que seus amigos que pensam de forma de diferente de você, continuam ali, mas a força do algoritmo os silencia na time-life e você fica com uma linha do tempo completamente azul. Teoricamente isso é bom. Porém, o perigo é imenso e a utilização negativa desse potencial de nivelamento do pensamento, tanto para práticas sociais e políticas, quanto para consumo consciente ou não, tem sido explorado de forma completamente perniciosa às sociedades. O uso do potencial do algoritmo nas redes tem sido explorado em campanhas políticas, por exemplo, e o resultado tem sido bem complicado para a humanidade (mas esse capítulo, vale um artigo a parte).
O algoritmo ou os algoritmos são grupos de dados concatenados em normas organizacionais de informações sobre os usuários da internet, colhidos em diversas plataformas e a cada passo que damos no ambiente virtual. Esses dados com informações pessoais, mas também com o perfil dos nossos gostos, preferências, ideologias, práticas políticas, militância sociais, etc. são utilizadas em redes sociais e motores de busca.
O fenômeno então se revela como agradável e facilitador de nossas vidas, pois já me revela o livro que desejo adquirir, ou a roupa que combina com meu estilo, ou me mostra um artigo de alguém que pensa de forma parecida com a minha. Todavia, nos impõe uma vida online permanente, onde nos mostramos e abrimos mão de nosso direito à privacidade, fornecendo não apenas dados pessoais e bancários, mas também nos revelamos em essência como pessoas voltadas para determinadas causas estruturadas em determinados pensamentos.
Contudo, essa facilitação das nossas vidas e esse ganho em visibilidade nos transforma em trabalhadores constantes no espaço midiático. Nos obriga a julgar os outros para sermos julgados positivamente e assim nos mantermos visíveis, pois só assim, nossa existência ganha em sentido. O objetivo das empresas além dos ganhos financeiros através das relações de poder no mercado midiático online e empresarial, é fazer com que continuemos a fornecer nosso tempo gratuitamente alimentando de informações de modo incessante as estruturas midiáticas que disponibilizam em “nosso favor”. Quanto mais tempo ficamos online e quanto mais trabalhamos de graça, mais conteúdo produzimos e mais informações circulam e são negociadas.
O mercado virtual ganha triplamente, enquanto nós escravos de nossa vaidade, seguidores de Narciso, seguimos inertes rumo ao lugar do não pensamento. Nossa experiência que se torna positiva e agradável é, em verdade, um grande viés para a lucratividade mercadológica e tem como pressuposto o julgamento e a fidelidade. Para ser visível e bem julgado preciso me manter ativo postando e curtindo e compartilhando etc., enfim somente sendo fiel, poderei vir a ser, bem recompensado.
Todavia, o apartheid do algoritmo alcança outro patamar, o da manipulação dos pensamentos, visto que, passo a receber somente informações e pensamentos ideológicos que são próximos ao meu e que vão sendo aprofundados a cada nova mensagem recebida, tentando nos convencer a cada nova informação, sobre um modelo de vida e de Estado das coisas que passamos a concordar, sobretudo, porque não temos acesso as ponderações e opiniões contrárias.
Portanto, nesses tempos difíceis procurar pelo diferente e com ele tentar estabelecer uma abertura é tão ou mais importante do que falar e dialogar para os pares. Fica a dica!
A sociedade do julgamento comentada por Bourdieu encontra-se hoje potencializada, o julgar enquanto atividade do espírito foi rebaixada a um comando mercadológico em busca de credibilidade para marcas pessoais que somos e que julgam e são julgadas por marcas empresariais.
Julgamos o atendimento e a comida dos restaurantes, com estrelas nos aplicativos, que nos oferecem a oportunidade de ganhar pontos junto aos nossos seguidores e também frente a empresa que estou credibilizando, porque o“restaurante” tem ou pode vir a ter credibilidade ou é frequentado por um grupo do qual desejo me aproximar.
Julgamos o motorista do Uber. Julgamos a foto dos amigos e dos inimigos, com curtidas ou com silêncio, porque assim, aparecemos mais e nos colocamos disponíveis para julgarmos. Em geral, julgamos positivamente para que assim sejamos julgados.
Todavia, essa sociedade do julgamento, cujas características foram apropriadas e potencializadas pelo mercado, sobretudo, pelos gigantes das mídias sociais e empresas do e-commerce, ganhou já há alguns anos um grande aliado, o algoritmo, cuja funcionalidade é guiar nosso olhar e direcionar tanto experiências que nos sejam mais favoráveis, quanto produtos que gostamos.
Se há cerca de 4 ou 5 anos as empresas de publicidade começaram a perceber que a visibilidade de seus clientes tinha sido reduzida a 10% da capacidade potencial que a rede oferecia antes, determinando a via do pagamento, como o principal caminho para a projeção e reflexividade no ambiente virtual, para o caminho da visibilidade; inclusive, com formas de pagamento variadas e casadas entre si, com a concretização de relações comerciais, interesses em bancos de dados e pagamento em cash. Mais recentemente, há cerca de um ano ou um ano e meio, não mais que isso, começamos a perceber que a economia virtual do algoritmo tem mudado dia-a-dia a nossa time-life, procurando oferecer uma experiência agradável, eliminando por exemplo, as diferenças de opinião e ideológicas.
Isso significa que seus amigos que pensam de forma de diferente de você, continuam ali, mas a força do algoritmo os silencia na time-life e você fica com uma linha do tempo completamente azul. Teoricamente isso é bom. Porém, o perigo é imenso e a utilização negativa desse potencial de nivelamento do pensamento, tanto para práticas sociais e políticas, quanto para consumo consciente ou não, tem sido explorado de forma completamente perniciosa às sociedades. O uso do potencial do algoritmo nas redes tem sido explorado em campanhas políticas, por exemplo, e o resultado tem sido bem complicado para a humanidade (mas esse capítulo, vale um artigo a parte).
O algoritmo ou os algoritmos são grupos de dados concatenados em normas organizacionais de informações sobre os usuários da internet, colhidos em diversas plataformas e a cada passo que damos no ambiente virtual. Esses dados com informações pessoais, mas também com o perfil dos nossos gostos, preferências, ideologias, práticas políticas, militância sociais, etc. são utilizadas em redes sociais e motores de busca.
O fenômeno então se revela como agradável e facilitador de nossas vidas, pois já me revela o livro que desejo adquirir, ou a roupa que combina com meu estilo, ou me mostra um artigo de alguém que pensa de forma parecida com a minha. Todavia, nos impõe uma vida online permanente, onde nos mostramos e abrimos mão de nosso direito à privacidade, fornecendo não apenas dados pessoais e bancários, mas também nos revelamos em essência como pessoas voltadas para determinadas causas estruturadas em determinados pensamentos.
Contudo, essa facilitação das nossas vidas e esse ganho em visibilidade nos transforma em trabalhadores constantes no espaço midiático. Nos obriga a julgar os outros para sermos julgados positivamente e assim nos mantermos visíveis, pois só assim, nossa existência ganha em sentido. O objetivo das empresas além dos ganhos financeiros através das relações de poder no mercado midiático online e empresarial, é fazer com que continuemos a fornecer nosso tempo gratuitamente alimentando de informações de modo incessante as estruturas midiáticas que disponibilizam em “nosso favor”. Quanto mais tempo ficamos online e quanto mais trabalhamos de graça, mais conteúdo produzimos e mais informações circulam e são negociadas.
O mercado virtual ganha triplamente, enquanto nós escravos de nossa vaidade, seguidores de Narciso, seguimos inertes rumo ao lugar do não pensamento. Nossa experiência que se torna positiva e agradável é, em verdade, um grande viés para a lucratividade mercadológica e tem como pressuposto o julgamento e a fidelidade. Para ser visível e bem julgado preciso me manter ativo postando e curtindo e compartilhando etc., enfim somente sendo fiel, poderei vir a ser, bem recompensado.
Todavia, o apartheid do algoritmo alcança outro patamar, o da manipulação dos pensamentos, visto que, passo a receber somente informações e pensamentos ideológicos que são próximos ao meu e que vão sendo aprofundados a cada nova mensagem recebida, tentando nos convencer a cada nova informação, sobre um modelo de vida e de Estado das coisas que passamos a concordar, sobretudo, porque não temos acesso as ponderações e opiniões contrárias.
Portanto, nesses tempos difíceis procurar pelo diferente e com ele tentar estabelecer uma abertura é tão ou mais importante do que falar e dialogar para os pares. Fica a dica!
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